Sambalate e Tobias, tradicionais inimigos dos judeus, se enfureceram ao vê-los organizados e empenhados na reconstrução dos muros de Jerusalém.
Sua primeira reação foi de sarcasmo e de desprezo. Diante dos seus irmãos e do exército de Samaria, o governador Sambalate zombou dos que edificavam dizendo:
"Que fazem estes fracos judeus?" Os judeus não tinham força militar para se impor sobre os seus vizinhos, e ele os despreza por isso diante do seu próprio exército.
"Permitir-se-lhes-á isso?" Sambalate era governador de Samaria e poderia ter ambicionado governar a Judéia também, mas a vinda de Neemias teria prejudicado seus planos. Ele põe em dúvida a autoridade de Neemias.
"Sacrificarão?" O sacrifício aos deuses era uma prática usada pelos povos pagãos para conseguir a sua ajuda em suas empreitadas. Esta é uma ironia de Sambalate, que não cria no SENHOR, o Deus de Israel.
"Acabá-lo-ão num só dia?" Ele se surpreendeu com a grande disposição dos judeus para o trabalho, e procurou desanimá-los apontando para o longo tempo que seria necessário para a conclusão da obra.
Estas perguntas, feitas em tom de zombaria, tinham alguma base. O povo estava ciente da sua fraqueza e da enormidade da obra que haviam começado, e da oposição que estava surgindo por parte dos outros povos entre os quais conviviam naquela região. Tinham já bons motivos para duvidar se realmente teriam condições de completar a obra por si próprios. O inimigo usa o escárnio como uma arma, e ela pode cortar profundamente, causando o desânimo e o desespero.
Tobias, por sua vez, acrescentou que "Ainda que edifiquem, vindo uma raposa, derrubará facilmente o seu muro de pedra". Para que empregar tanto trabalho e tempo em alguma coisa sem valor?
São perguntas que nos vêm imediatamente quando temos diante de nós um projeto de grande envergadura: Somos capazes? Estamos autorizados? Temos a aprovação de Deus? Podemos dispor de todo o tempo que vai levar até terminar? Quando terminado valerá a pena todo o esforço despendido?
Sambalate e Tobias sugeriam que o povo respondesse "não" a todas essas perguntas. Neemias não tinha a menor dúvida que a resposta era "sim" e conhecia muito bem a razão por que os seus inimigos procuravam levantar dúvidas entre o povo, portanto ele sequer condescendeu a falar com eles.
Notemos que Neemias não procurou vingar-se a si próprio, mas deixou a justiça nas mãos de Deus, pedindo que fizesse cair a vergonha sobre a cabeça dos seus inimigos, para que fossem um despojo em terra de cativeiro e que nunca os perdoasse, porque haviam irritado a Deus diante dos edificadores.
A nós é mandado "Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor. Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem." (Romanos 12:19-21).
O povo se dedicou cordialmente ao trabalho, chegando até à metade da altura do muro. Os inimigos Sambalate e Tobias, bem como os arábios e os amonitas, eram informados do progresso que ia sendo feito. Ao saber que os reparos tinham avançado e que as brechas estavam sendo fechadas, ficaram furiosos e se juntaram para planejar um ataque a Jerusalém e causar confusão.
Novamente Neemias e os seus companheiros oraram a Deus e também colocaram guardas de dia e de noite para se protegerem. Devemos fazer o que podemos e Deus suprirá o que nos falta.
Neemias constantemente combinava a oração com preparação, planejamento e ação. A oração assegurava o apoio divino naquilo que ele sabia que correspondia com a vontade de Deus. É a atitude correta daquele que anda com Deus: primeiro assegurar-se qual seja o desejo de Deus, em seguida orar pedindo o Seu apoio e direção, em seguida colocar mãos à obra. Devem-se fazer as três coisas.
Tendo cuidado da defesa contra o inimigo externo, Neemias teve também que enfrentar o desgaste que estava acontecendo internamente entre os judeus, causado pelo desânimo e o medo:
Os carregadores se cansavam com o trabalho constante e ainda havia muito entulho para tirar. Estavam já se convencendo que nunca iriam conseguir reconstruir o muro por si mesmos.
Os que moravam perto dos inimigos, ouviam quando eles falavam entre si planejando ataques de surpresa para matar os que trabalhavam e acabar com o seu trabalho, e corriam amedrontados até Neemias para dizer que seriam atacados por todos os lados.
Imediatamente Neemias tomou as providências devidas: escolheu alguns do povo, pelas suas famílias, como sentinelas, bem armados com espadas, lanças e arcos, e os posicionou atrás dos pontos mais baixos do muro, que eram os mais vulneráveis, nos lugares abertos de onde podiam ver melhor.
Neemias colocou cada homem na posição em que podia ver e defender a sua própria família, o que lhes daria mais tranqüilidade. Se estivessem longe, eles estariam em dúvida sobre a sua segurança. Ele próprio os inspecionou rapidamente para ter certeza que estavam bem colocados e armados. Neemias também disse ao povo que não tivessem medo pois o Senhor é grande e temível, e estimulou-os a lutar pelas suas famílias.
Com isso os inimigos descobriram que Deus havia frustrado a sua trama e que haviam perdido o elemento de surpresa no ataque que planejavam. Todo o povo então se voltou para o muro, cada um para o seu trabalho.
Quando sentirmos que não podemos dar conta de um projeto, por causa das dificuldades e mesmo oposição que estamos enfrentando, é bom lembrar o propósito de Deus para a nossa vida, e o valor do que fazemos para Ele, pois Ele tem condições para nos suprir o que nos falta, e de abafar toda a oposição.
Os trabalhadores estavam espalhados ao longo do muro. Para que o trabalho não parasse, mas ao mesmo tempo estivessem preparados para algum ataque, Neemias ordenou que metade fizesse o trabalho de construção enquanto a outra metade permanecia armada de lanças, escudos, arcos e couraças. Os oficiais lhes davam o seu apoio.
Com esse plano de defesa, o povo estava unido e protegido. Devemos também estar unidos como igreja de Cristo dando apoio uns aos outros, e orando uns pelos outros. Precisamos uns dos outros em nosso trabalho na obra de Deus e em nossa defesa contra o inimigo das nossas almas.
Os que se moviam de um lugar para outro, carregando entulho e materiais, portanto isolados, faziam o trabalho com uma mão e com a outra seguravam uma arma - também cada um dos construtores trazia na cintura uma espada enquanto trabalhava.
O nosso inimigo, o diabo também anda ao redor procurando tirar vantagem das nossas fraquezas. Devemos estar alertas, cada um de nós, usando a armadura que Deus nos dá (Efésios 6:13-18).
Neemias também introduziu um sistema de alarme, para que todos pudessem se juntar ao ouvir o som da trombeta tocada pelo homem que estava com Neemias, pois estavam espalhados ao longo do muro. O simples fato de saber que a trombeta seria ouvida se houvesse uma emergência, seria suficiente para tranqüilizar os trabalhadores. Não sabemos se houve algum incidente em que a trombeta foi usada. Neemias confiava na proteção de Deus.
Neemias e seus companheiros mantinham vigilância constante, vestidos em prontidão de dia e de noite. O crente também deve vigiar constantemente (1 Pedro 5:8). O texto no original hebraico da última sentença é obscuro, e não há consenso entre as traduções.
1 E sucedeu que, ouvindo Sambalate que edificávamos o muro, ardeu em ira, e se indignou muito, e escarneceu dos judeus.
2 E falou na presença de seus irmãos e do exército de Samaria e disse: Que fazem estes fracos judeus? Permitir-se-lhes-á isso? Sacrificarão? Acabá-lo-ão num só dia? Vivificarão dos montões do pó as pedras que foram queimadas?
3 E estava com ele Tobias, o amonita, e disse: Ainda que edifiquem, vindo uma raposa, derrubará facilmente o seu muro de pedra.
4 Ouve, ó nosso Deus, que somos tão desprezados, e caia o seu opróbrio sobre a sua cabeça, e faze com que sejam um despojo, numa terra de cativeiro.
5 E não cubras a sua iniqüidade, e não se risque diante de ti o seu pecado, pois que te irritaram defronte dos edificadores.
6 Assim, edificamos o muro, e todo o muro se cerrou até sua metade; porque o coração do povo se inclinava a trabalhar.
7 E sucedeu que, ouvindo Sambalate, e Tobias, e os arábios, e os amonitas, e os asdoditas que tanto ia crescendo a reparação dos muros de Jerusalém, que já as roturas se começavam a tapar, iraram-se sobremodo.
8 E ligaram-se entre si todos, para virem atacar Jerusalém e para os desviarem do seu intento.
9 Porém nós oramos ao nosso Deus e pusemos uma guarda contra eles, de dia e de noite, por causa deles.
10 Então, disse Judá: Já desfaleceram as forças dos acarretadores, e o pó é muito, e nós não poderemos edificar o muro.
11 Disseram, porém, os nossos inimigos: Nada saberão disso, nem verão, até que entremos no meio deles e os matemos; assim, faremos cessar a obra.
12 E sucedeu que, vindo os judeus que habitavam entre eles, dez vezes nos disseram que, de todos os lugares, tornavam a nós.
13 Pelo que pus guardas nos lugares baixos por detrás do muro e nos altos; e pus o povo, pelas suas famílias, com as suas espadas, com as suas lanças e com os seus arcos.
14 E olhei, e levantei-me, e disse aos nobres, e aos magistrados, e ao resto do povo: Não os temais; lembrai-vos do Senhor, grande e terrível, e pelejai pelos vossos irmãos, vossos filhos, vossas mulheres e vossas casas.
15 E sucedeu que, ouvindo os nossos inimigos que já o sabíamos e que Deus tinha dissipado o conselho deles, todos voltamos ao muro, cada um à sua obra.
16 E sucedeu que, desde aquele dia, metade dos meus moços trabalhava na obra, e a outra metade deles tinha as lanças, os escudos, os arcos e as couraças; e os chefes estavam por detrás de toda a casa de Judá.
17 Os que edificavam o muro, e os que traziam as cargas, e os que carregavam, cada um com uma mão fazia a obra e na outra tinha as armas.
18 E os edificadores cada um trazia a sua espada cingida aos lombos, e edificavam; e o que tocava a trombeta estava junto comigo.
19 E disse eu aos nobres, e aos magistrados, e ao resto do povo: Grande e extensa é a obra, e nós estamos apartados do muro, longe uns dos outros.
20 No lugar onde ouvirdes o som da buzina, ali vos ajuntareis conosco; o nosso Deus pelejará por nós.
21 Assim trabalhávamos na obra; e metade deles tinha as lanças desde a subida da alva até ao sair das estrelas.
22 Também, naquele tempo, disse ao povo: Cada um com o seu moço fique em Jerusalém, para que, de noite, nos sirvam de guarda e, de dia, na obra.
23 E nem eu, nem meus irmãos, nem meus moços, nem os homens da guarda que me seguiam largávamos as nossas vestes; cada um ia com suas armas à água.