A morte de Miriã vem no início deste capítulo, e a morte de Arão no fim, quatro meses mais tarde. Entre os dois acontecimentos temos a rebeldia de Moisés e Arão e a inimizade do rei de Edom.
A perambulação do povo de Israel através do deserto estava chegando ao fim, e este capítulo começa no primeiro mês do quadragésimo ano desde que havia saído do Egito, tendo eles vagueado pelo deserto e por fim voltado a Cades, de onde haviam partido trinta e sete anos antes.
O relato desses trinta e sete anos estão todos contidos entre os capítulos 14 e 20 do livro de Números, o que não é muito. Não foram anos de grandes bênçãos para o povo, e durante eles todos os israelitas de vinte anos ou mais que haviam saído do Egito morreram, ou estavam para morrer até se completar esse ano, fora Calebe e Josué, para se cumprir o castigo de Deus sobre a sua incredulidade (Números 14:28-30).
Também quando nos deixamos esmorecer pela incredulidade, e não agimos pela fé segundo a vontade de Deus, deixando de testemunhar de Cristo e de fazer uso dos nossos dons espirituais dentro e fora da igreja de Cristo, somos estéreis, e nada acontece de importância. Não estamos prosseguindo para o alvo, mas vagueando sem destino.
A morte de Miriã é relatada em sete palavras! Não se fala em pranto, luto ou qualquer cerimônia especial.
Depois de todos esses anos, a nova geração estava se esquecendo que sua perambulação era o resultado do pecado dos seus pais, e começaram a por a culpa em Moisés.
Freqüentemente nossas encrencas resultam de nossa desobediência ou incredulidade. Não podemos acusar a Deus por elas e, enquanto não compreendermos isso, teremos pouca paz e crescimento espiritual.
Por causa da falta de água, o povo contendeu contra Moisés - foi sua sétima murmuração contra este servo de Deus, novamente em Cades. A terra de Canaã, com fartura de tudo, estava próxima, mas eles ainda não haviam chegado. É bom nos lembrarmos que não estamos aqui permanentemente: somos peregrinos neste mundo e um dia vamos sair daqui. Portanto não percamos o nosso tempo em lamentações sobre as condições do meio em que vivemos.
Novamente, como acontecia sempre que o povo contendia com Moisés, a glória do SENHOR apareceu, para resolver a situação. Ele mandou que Moisés tomasse a vara (de Arão), ajuntasse o povo e, com Arão, falasse à rocha para dela obter água.
Agora sabemos que a rocha era uma figura de Cristo (1 Coríntios 10:4). Muitos anos antes a rocha havia sido ferida por Moisés para obter água (Êxodo 17:5,6); para se manter o simbolismo, a rocha não deveria ser ferida novamente, pois Cristo iria ser ferido, ou crucificado, uma única vez pelos nossos pecados (Hebreus 10:12). A água abundante simboliza o derramamento do Espírito Santo, que satisfaz a sede espiritual e fortalece com Seu poder.
A ação de Moisés, declarando "porventura faremos sair água desta rocha", e ferindo a rocha duas vezes com a vara resultou de:
incredulidade: da outra vez obteve água ao bater na rocha; ele não cria que apenas falar à rocha daria resultado, e a sua incredulidade aparecia na palavra porventura.
petulância: não santificou (obedeceu) o SENHOR diante dos filhos de Israel, mas, dizendo faremos ele se arrogou autoridade que pertencia somente ao SENHOR, e feriu a rocha.
Moisés não somente prejudicou o simbolismo da rocha com a sua desobediência, mas exaltou-se a si próprio.
Assim mesmo, o SENHOR fez o milagre, e saíram muitas águas (fontes) da rocha. Mas Moisés foi castigado por sua incredulidade (o mesmo pecado que o povo havia cometido 37 anos antes) com a proibição de entrar na terra prometida (o mesmo castigo que o povo sofreu).
Meribá é um jogo de palavras, no hebraico, com o verbo "contender", e este nome havia sido dado ao lugar quando a rocha fora ferida da primeira vez (Êxodo 17:7).
Moisés, entretanto, havia sido instruído pelo SENHOR a deixar o deserto e levar o povo para a fronteira oriental de Canaã, ao norte do mar Morto (Deuteronômio 2:2-7). Do ponto onde se encontravam, havia um caminho real usado pelas caravanas, que atravessava a terra de Edom e ia até o lugar desejado.
Edom era a terra onde Esaú se estabeleceu, e os habitantes eram seus descendentes, portanto parentes distantes dos Israelitas, falando a mesma língua. Sua capital era Bozra, da qual ainda existem ruínas, e também habitavam a cidade de Petra, cavada na rocha, e abandonada dois séculos após Cristo.
Humildemente, Moisés mandou mensageiros até o rei de Edom, pedindo permissão para atravessar o seu território. Mesmo com a promessa de passarem a pé e de lhe pagarem pela água que consumissem, e de se manterem na estrada sem tocar em suas vinhas ou os seus poços, o rei de Edom proibiu sua passagem, e foi ao encontro dos israelitas tendo ajuntado muita gente armada. Os edomitas temiam os israelitas, não sabendo que o SENHOR havia proibido os israelitas de tocar neles (Deuteronômio 2:5).
Obediente a Deus, Moisés não se impôs, mas tomou outro caminho. Parece que Moisés não estivera seguindo a nuvem do SENHOR, mas quisera abreviar a viagem atravessando o território de Edom. Não deu certo. Também nós às vezes procuramos tomar um atalho que nos parece melhor do que o caminho de obediência a Deus, pensando que o fim justifica os meios. Igualmente não dá certo.
Quatro meses depois da morte de Miriã, o Sumo sacerdote Arão morreu no cume do monte Hor, aos 123 anos de idade (Números 33:38-39). Por causa da sua rebeldia, ele não viu a terra da promessa. Também há muitos crentes, salvos por terem recebido a Cristo como seu Salvador, que nunca chegam a gozar dos frutos da sua salvação e da paz do Espírito em suas vidas. Por causa da sua incredulidade não sabem o que é andar em comunhão com o Senhor Jesus.
Houve muita tristeza em Israel: o povo chorou a Arão trinta dias. Eles conheciam Arão e Arão os conhecia também. Decerto haviam sido confortados por ele muitas vezes, quando traziam os seus sacrifícios, e ensinados por ele a respeito das coisas de Deus.
Em lugar dele foi investido seu filho Eleazar (as vestes sacerdotais de Arão foram tiradas de Arão, logo antes de sua morte, e colocadas em Eleazar). Seria um novo relacionamento com o povo. Temos o privilégio de ter um Sumo Sacerdote melhor que Arão, pois Ele vive eternamente para fazer intercessão por nós: nunca morre! Ele nos conhece, e nós O conhecemos, e podemos confiar nEle.
A morte de Arão marca o fim da perambulação do povo. A partir daí Israel marcha ou para, não mais vagueia. Passar pelo deserto, a caminho do Egito até a terra de Canaã, era uma disciplina necessária, envolvendo:
O Mar Vermelho (como a cruz de Cristo, a morte dEle, que nos traz vida, separando-nos do mundo - Gálatas 6:14)
Elim (o poder de Deus que nos dá restauração e descanso)
Sinai (a santidade de Deus confrontada com nossa natureza pecaminosa - Romanos 7:7-24)
Mas as perambulações do povo pelo deserto nos restantes 38 anos, por causa da sua incredulidade, é para nossa advertência, e não imitação, exceto pela graça de Deus, que ainda permitiu que os mais novos do povo entrassem na terra da promessa (1 Coríntios 10:1-11; Hebreus 3:17-19).
Existe um descanso presente que nos é dado por Deus, do qual o sábado e Canaã são figura, no qual os crentes podem, e devem, entrar pela fé (Hebreus 3:1 - 4:16).
R David Jones
1 Chegando os filhos de Israel, toda a congregação, ao deserto de Zim, no mês primeiro, o povo ficou em Cades; e Miriã morreu ali e ali foi sepultada.
2 E não havia água para a congregação; então, se congregaram contra Moisés e contra Arão.
3 E o povo contendeu com Moisés, e falaram, dizendo: Antes tivéssemos expirado quando expiraram nossos irmãos perante o SENHOR!
4 E por que trouxestes a congregação do SENHOR a este deserto, para que morramos ali, nós e os nossos animais?
5 E por que nos fizestes subir do Egito, para nos trazer a este lugar mau? Lugar não de semente, nem de figos, nem de vides, nem de romãs, nem de água para beber.
6 Então, Moisés e Arão se foram de diante da congregação, à porta da tenda da congregação e se lançaram sobre o seu rosto; e a glória do SENHOR lhes apareceu.
7 E o SENHOR falou a Moisés, dizendo:
8 Toma a vara e ajunta a congregação, tu e Arão, teu irmão, e falai à rocha perante os seus olhos, e dará a sua água; assim, lhes tirarás água da rocha e darás a beber à congregação e aos seus animais.
9 Então, Moisés tomou a vara de diante do SENHOR, como lhe tinha ordenado.
10 E Moisés e Arão reuniram a congregação diante da rocha, e Moisés disse-lhes: Ouvi agora, rebeldes: porventura, tiraremos água desta rocha para vós?
11 Então, Moisés levantou a sua mão e feriu a rocha duas vezes com a sua vara, e saíram muitas águas; e bebeu a congregação e os seus animais.
12 E o SENHOR disse a Moisés e a Arão: Porquanto não me crestes a mim, para me santificar diante dos filhos de Israel, por isso não metereis esta congregação na terra que lhes tenho dado.
13 Estas são as águas de Meribá, porque os filhos de Israel contenderam com o SENHOR; e o SENHOR se santificou neles.
14 Depois, Moisés desde Cades mandou mensageiros ao rei de Edom, dizendo: Assim diz teu irmão Israel: Sabes todo o trabalho que nos sobreveio;
15 como nossos pais desceram ao Egito, e nós no Egito habitamos muitos dias; e como os egípcios nos maltrataram, a nós e a nossos pais;
16 e clamamos ao SENHOR, e ele ouviu a nossa voz, e mandou um anjo, e nos tirou do Egito; e eis que estamos em Cades, cidade na extremidade dos teus termos.
17 Deixa-nos, pois, passar pela tua terra; não passaremos pelo campo, nem pelas vinhas, nem beberemos a água dos poços; iremos pela estrada real; não nos desviaremos para a direita nem para a esquerda, até que passemos pelos teus termos.
18 Porém Edom lhe disse: Não passarás por mim, para que, porventura, eu não saia à espada ao teu encontro.
19 Então, os filhos de Israel lhe disseram: Subiremos pelo caminho igualado, e, se eu e o meu gado bebermos das tuas águas, darei o preço delas; sem fazer alguma outra coisa, deixa-me somente passar a pé.
20 Porém ele disse: Não passarás. E saiu-lhe Edom ao encontro com muita gente e com mão forte.
21 Assim, recusou Edom deixar passar a Israel pelo seu termo; pelo que Israel se desviou dele.
22 Então, partiram de Cades; e os filhos de Israel, toda a congregação, vieram ao monte Hor.
23 E falou o SENHOR a Moisés e a Arão no monte Hor, nos termos da terra de Edom, dizendo:
24 Arão recolhido será a seu povo, porque não entrará na terra que tenho dado aos filhos de Israel, porquanto rebeldes fostes à minha palavra, nas águas de Meribá.
25 Toma a Arão e a Eleazar, seu filho, e faze-os subir ao monte Hor.
26 E despe a Arão as suas vestes e veste-as a Eleazar, seu filho, porque Arão será recolhido e morrerá ali.
27 Fez, pois, Moisés como o SENHOR lhe ordenara; porque subiram ao monte Hor perante os olhos de toda a congregação.
28 E Moisés despiu a Arão as vestes e as vestiu a Eleazar, seu filho; e morreu Arão ali sobre o cume do monte; e desceram Moisés e Eleazar do monte.
29 Vendo, pois, toda a congregação que Arão era morto, choraram a Arão trinta dias, isto é, toda a casa de Israel.
Números capítulo 20