A palavra no início deste texto, traduzida aqui como “discurso” em nossa versão, é a mesma palavra hebraica “machal” traduzida como “provérbios” no título de Provérbios de Salomão. Significa um pensamento superior, uma máxima, um aforismo muito instrutivo, dito por alguém que tem muita autoridade no assunto. Vem de outra palavra que significa governar, ou ter domínio, e para alguns há aqui a sugestão que Jó já havia triunfado sobre os seus adversários, e estava falando como um que os tinha confundido.
É possível que os três amigos a esta altura já tivessem desistido de convencer Jó que ele estava errado, pois Jó tinha dado uma resposta ampla ao pequeno discurso de Bildade; talvez ele tenha esperado um pouco para ver se Zofar tomaria novamente a palavra sendo agora novamente a sua vez. Zofar ficou em silêncio. Era um caso muito difícil para eles, e tiveram que silenciar: grande é a verdade e vai prevalecer.
Jó havia se queixado que seus amigos tinham muito a dizer e não lhe davam uma oportunidade de falar. Agora aproveitou para dizer tudo o que queria sobre as questões que tinham levantado, e eles não o interromperam.
Começou defendendo solenemente a sua integridade e declarou a sua resolução de mantê-la (v. 2-6). Confirmou com juramento (“como Deus vive”) tudo o que antes dissera sobre a sua própria integridade, para evitar contradições e para levar toda a culpa sobre si se estivesse mentindo. Exaltou a Deus chamando O de Todo Poderoso, o Deus que vive (o que significa sempre vivo, o Deus eterno, que tem vida em si mesmo) e apelou para Deus como o seu único juiz e soberano.
No entanto, queixou-se d’Ele, dizendo que lhe havia tirado a sua justiça, isto é, Deus fez com que ele parecesse ser uma pessoa injusta diante todo mundo por causa da situação difícil em que o colocara, e não tinha vindo em seu socorro para justificá-lo. Jó estava cansando de esperar.
Jó acrescentou que Deus lhe tinha "amargurado a alma" ou seja, Deus lhe havia trazido amargura e ressentimento por agir contra ele. No entanto, vemos a confiança de Jó na bondade tanto da sua causa como a do seu Deus, já que, embora Deus parecesse estar irado e agisse ainda contra ele, Jó estava resolvido a continuar a manter a sua integridade firmemente durante toda a sua vida, apegando-se à sua justiça, e obedecendo à sua consciência.
Jó declarou que não iria falar maldade, nem pronunciar engano: nunca iria mentir e, da mesma maneira como neste debate só tinha falado a verdade, ele nunca iria mudar para dizer o contrário. Estava consciente de sua própria integridade, e seria enganoso acusar-se daquilo em que era inocente. Assim como não devemos dar falso testemunho contra o próximo, não devemos fazê-lo contra nós mesmos.
Sua resolução em manter a sua retidão enquanto vivesse nos ensina que nossa decisão de nos afastarmos do pecado também deve ser para toda a vida. Podemos mudar nossa atitude quanto a coisas não muito claras ou sem importância, porque há coisas que ainda não sabemos, mas nunca devemos falar ou praticar a iniquidade e o engano.
Acontece frequentemente que homens íntegros são censurados e condenados como se fossem hipócritas, mas eles devem manter-se firmes contra tais acusações. Não devem desanimar ou diminuir-se em sua opinião de si mesmos por causa delas. O autor de Hebreus teve essa experiência: "Orai por nós, porque estamos persuadidos de que temos boa consciência, sendo desejosos de, em tudo, portar-nos corretamente." (Hebreus 13:18).
Jó considerou que o estado de ímpio e de perverso certamente era o mais miserável para qualquer homem, sendo este o estado que desejaria para os seus piores inimigos (não havia estado pior que pudesse desejar para eles). Deu as suas razões: as esperanças do ímpio são frustradas por Deus porque se fez seu inimigo. Sua oração não será ouvida, Deus não ouvirá seu clamor quando lhe vier a tribulação, não se deleitará no Todo Poderoso nem invocará a Deus em todo o tempo.
Em seguida Jó mostrou muitos casos do final infeliz do ímpio, apesar da sua longa prosperidade, e a maldição a que está sujeito e é transmitida à sua família.
Enquanto os amigos de Jó tinham considerado que:
a punição vinha sobre os opressores ímpios durante seus dias no mundo,
na prosperidade o destruidor vinha sobre eles,
não enriqueciam nem se recuperavam da destruição que lhes acontecia antes do seu tempo (ver Elifaz no capítulo 15, v. 20,21,29,32 ),
os seus passos firmes se estreitavam,
terrores os amedrontavam de todos os lados (ver Bildade no capítulo 18:7, 11),
Jó devia vomitar suas riquezas, e na plenitude da sua abastança, estaria em angústia, vindo sobre ele toda a força da miséria (ver Zofar no capítulo 20:15,22 ),
Jó manteve que, em muitos casos, o castigo não lhes vem depressa, mas Deus castigará o ímpio e os opressores oportunamente - a Sua tolerância não é perdão. Para eles não há esperança depois que morrerem (v. 8).
O tema deste capítulo é muito diferente do resto deste livro. Jó parecia ter esquecido suas feridas, e todas as suas tristezas, e falava como um filósofo ou um virtuoso. Há muita filosofia natural e moral nesta palestra.
Muitos desejariam saber qual foi a razão pela qual Jó disse tudo isso a essa altura. Certamente não foi uma simples distração da controvérsia, embora talvez servisse para aliviar a tensão um pouco.
Jó e seus amigos tinham estado discorrendo sobre o tratamento dado por Deus aos ímpios e aos justos. Jó havia mostrado que alguns ímpios vivem e morrem em prosperidade, enquanto outros são castigados por Deus antes da morte.
Quanto à riqueza mundana, como é procurada e perseguida pelos homens, como se sacrificam, que capacidade inventiva têm, e quantos riscos correm para obtê-la (v. 1-11).
Com respeito à sabedoria (v. 12 ). Em geral, o seu preço é muito alto e seu valor não pode ser estimado (v. 15-19). A sabedoria e o lugar do entendimento estão escondidos dos homens (v. 14,20,22), mas Deus entende o seu caminho e sabe o seu lugar (v. 23-27) e há uma sabedoria que se revela aos homens (v. 28). Nossa procura pela sabedoria escondida é inútil porque está fora do nosso alcance, mas pela sabedoria revelada é de nosso maior interesse, pois é o que Deus deseja para nós: "Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento."
Continuando o seu discurso, Jó recordou seus amigos do seu passado, quando Deus o preservava até que foi atingido pela tragédia.
Disse que andava através da escuridão na luz de Deus desde os dias da sua juventude, e que o Todo Poderoso estava com ele.
Deus estava com ele quando cuidava da sua família, deu-lhe recursos abundantes, e honra entre os cidadãos da sua cidade para que tivesse um assento na rua perto do portão - a posição dada aos chefes e juízes. Fora próspero e influente.
Era tão importante que os jovens se intimidavam diante dele, os idosos se levantavam em sua presença e os que ocupavam as posições mais elevadas se abstinham de falar, assim como os nobres. Aguardavam que ele falasse.
Todos ouviam atentamente tudo o que dizia, e só vê-lo era algo que valia a pena contar aos outros, por causa da sua compaixão para com os desfavorecidos: os pobres que clamavam, os órfãos, os desamparados, os moribundos que o abençoavam, as viúvas que fazia rejubilar.
Era reto e justo, dava assistência aos cegos e aos coxos, era como um pai para os necessitados, e investigou as causas dos que ele desconhecia, castigava os perversos e arrancava deles as suas vítimas e o que os perversos haviam roubado.
Pensava que ia viver uma vida longa e morrer no conforto do seu lar. Estava bem estabelecido na comunidade e tinha tudo que precisava para uma boa vida saudável. Era consultado sobre todas as questões importantes e sua palavra era lei.
Em suma, Jó era superior a todos, sendo admirado por seu caráter e sabedoria, e recebendo a reverência e a atenção geral, poderoso como um rei.
Sua posição muito honrosa fora tirada, homens mais jovens zombavam dele, cujos pais ele desdenharia em empregar nos piores trabalhos para si, e descreveu a vida miserável que levavam (v. 2 a 7).
Estes jovens nascidos de insensatos, escória da comunidade e criados naquele meio infame estavam agora zombando de Jó. Eles o odiavam, não hesitavam em cuspir no seu rosto e se afastavam dele, porque Deus havia abandonado e humilhado a Jó.
Perdendo todo o seu respeito, o empurravam, levantavam obstáculos à sua frente, estragavam o caminho por onde andava, promoviam desastres, não havia quem os detivesse, traziam terrores sobre Jó. Tentavam destruir a sua honra como o vento, e desfazer a sua felicidade como uma nuvem. Sofrer uma perda extrema como Jó era humilhante. Mas enfrentar escárnio nas mãos de jovens que não prestavam para nada era o ápice da sua humilhação.
Jó havia perdido sua família, posses, saúde, posição e bom nome. Nem sequer respeitavam a coragem com que sofria. Infelizmente, os jovens, por vezes, zombam e se aproveitam dos mais idosos e dos que têm alguma espécie de deficiência. Em vez disso, deviam perceber que suas próprias habilidades e atributos físicos são de curta duração e que algum dia poderão se encontrar em uma situação semelhante sem ser por culpa própria.
Jó agora descreve a triste condição em que se encontra por causa dos desastres que tinham vindo sobre ele. Sua vida está se escoando através de dias de sofrimento, enfermidade, dor e desconforto de corpo e mente. Mesmo a sua roupa é desconfortável e foi desfigurada pelo mal. Ele havia lançado Jó na lama, e ficou tão inútil e de pouca importância como poeira e cinzas.
Jó clamava a Deus, mas não obtinha resposta, e quando se levantava Deus nada fazia para ajudá-lo. Ao contrário, Ele se fazia cruel perseguindo-o, montando-o sobre o vento para dissolvê-lo na tempestade, arruinando qualquer oportunidade de recuperação. Jó sabe que vai morrer, como todos os seres vivos.
“A verdade é que ninguém dá a mão ao homem arruinado, quando este, em sua aflição, grita por socorro” (v.24 NVI). Que ironia que, tendo em melhores dias chorado pelos aflitos e se compungido pelos necessitados, Jó fora recompensado com o mal, quando esperava o bem, e jogado na escuridão quando esperava a luz.
Ele não tinha paz interior, e continuava em aflição sem ver nada de bom pela frente. Perambulava escurecido, mas não pelo sol, e se levantava na assembleia clamando por ajuda. Vivia na solidão, repelido pelos homens, como os chacais e as corujas. Sua pele escurecia e caía e o seu corpo ardia com febre. Em seus instrumentos de música só tocava músicas tristes e fúnebres.
Jó não só tinha evitado cometer adultério, mas também decidira não dar o primeiro passo que é o de olhar para uma mulher com luxúria. Jó disse que era inocente de tanto o pecado interno como o externo.
No capítulo 29, Jó tinha revisto suas boas ações . Neste capítulo, ele listou os pecados que não havia cometido:
em seu coração (v.1-12 ),
contra os seus vizinhos (v.13-23 ),
e contra Deus (v. 24-34 ).
Jó afirmou que depender da riqueza para a felicidade é idolatria e nega o Deus do céu. Na verdade, a obsessão da sociedade com o dinheiro e posses hoje é geralmente uma consequência da descrença em Deus e na vida após a morte, o desejo de luxo, poder e prestígio que a riqueza traz.
Os verdadeiros crentes têm boas razões para não buscar tais coisas neste mundo. É preferível acumular um tesouro no céu que não pode jamais ser estragado ou perdido.
Finalmente, Jó declarou que ele não tentava esconder o seu pecado como os homens costumam fazer. Nada podemos esconder de Deus. Quando reconhecemos e nos arrependemos dos nossos pecados, temos o perdão porque o Senhor Jesus Cristo pagou o castigo por eles na cruz em nosso lugar.
Jó capítulo 27
1 E prosseguindo Jó em seu discurso, disse:
2 Vive Deus, que me tirou o direito, e o Todo-Poderoso, que me amargurou a alma;
3 enquanto em mim houver alento, e o sopro de Deus no meu nariz,
4 não falarão os meus lábios iniqüidade, nem a minha língua pronunciará engano.
5 Longe de mim que eu vos dê razão; até que eu morra, nunca apartarei de mim a minha integridade.
6 ë minha justiça me apegarei e não a largarei; o meu coração não reprova dia algum da minha vida.
7 Seja como o ímpio o meu inimigo, e como o perverso aquele que se levantar contra mim.
8 Pois qual é a esperança do ímpio, quando Deus o cortar, quando Deus lhe arrebatar a alma?
9 Acaso Deus lhe ouvirá o clamor, sobrevindo-lhe a tribulação?
10 Deleitar-se-á no Todo-Poderoso, ou invocará a Deus em todo o tempo?
11 Ensinar-vos-ei acerca do poder de Deus, e não vos encobrirei o que está com o Todo-Poderoso.
12 Eis que todos vós já vistes isso; por que, pois, vos entregais completamente à vaidade?
13 Esta é da parte de Deus a porção do ímpio, e a herança que os opressores recebem do Todo-Poderoso:
14 Se os seus filhos se multiplicarem, ser á para a espada; e a sua prole não se fartará de pão.
15 Os que ficarem dele, pela peste serão sepultados, e as suas viúvas não chorarão.
16 Embora amontoe prata como pó, e acumule vestes como barro,
17 ele as pode acumular, mas o justo as vestirá, e o inocente repartirá a prata.
18 A casa que ele edifica é como a teia da aranha, e como a cabana que o guarda faz.
19 Rico se deita, mas não o fará mais; abre os seus olhos, e já se foi a sua riqueza.
20 Pavores o alcançam como um dilúvio; de noite o arrebata a tempestade.
21 O vento oriental leva-o, e ele se vai; sim, varre-o com ímpeto do seu lugar:
22 Pois atira contra ele, e não o poupa, e ele foge precipitadamente do seu poder.
23 Bate palmas contra ele, e assobia contra ele do seu lugar.
Jó capítulo 28
b 28:1 Na verdade, há minas donde se extrai a prata, e também lugar onde se refina o ouro:
Job 28:2 O ferro tira-se da terra, e da pedra se funde o cobre.
Job 28:3 Os homens põem termo às trevas, e até os últimos confins exploram as pedras na escuridão e nas trevas mais densas.
Job 28:4 Abrem um poço de mina longe do lugar onde habitam; são esquecidos pelos viajantes, ficando pendentes longe dos homens, e oscilam de um lado para o outro.
Job 28:5 Quanto à terra, dela procede o pão, mas por baixo é revolvida como por fogo.
Job 28:6 As suas pedras são o lugar de safiras, e têm pó de ouro.
Job 28:7 A ave de rapina não conhece essa vereda, e não a viram os olhos do falcão.
Job 28:8 Nunca a pisaram feras altivas, nem o feroz leão passou por ela.
Job 28:9 O homem estende a mão contra a pederneira, e revolve os montes desde as suas raízes.
Job 28:10 Corta canais nas pedras, e os seus olhos descobrem todas as coisas preciosas.
Job 28:11 Ele tapa os veios d`água para que não gotejem; e tira para a luz o que estava escondido.
Job 28:12 Mas onde se achará a sabedoria? E onde está o lugar do entendimento?
Job 28:13 O homem não lhe conhece o caminho; nem se acha ela na terra dos viventes.
Job 28:14 O abismo diz: Não está em mim; e o mar diz: Ela não está comigo.
Job 28:15 Não pode ser comprada com ouro fino, nem a peso de prata se trocará.
Job 28:16 Nem se pode avaliar em ouro fino de Ofir, nem em pedras preciosas de berilo, ou safira.
Job 28:17 Com ela não se pode comparar o ouro ou o vidro; nem se trocara por jóias de ouro fino.
Job 28:18 Não se fará menção de coral nem de cristal; porque a aquisição da sabedoria é melhor que a das pérolas.
Job 28:19 Não se lhe igualará o topázio da Etiópia, nem se pode comprar por ouro puro.
Job 28:20 Donde, pois, vem a sabedoria? Onde está o lugar do entendimento?
Job 28:21 Está encoberta aos olhos de todo vivente, e oculta às aves do céu.
Job 28:22 O Abadom e a morte dizem: Ouvimos com os nossos ouvidos um rumor dela.
Job 28:23 Deus entende o seu caminho, e ele sabe o seu lugar.
Job 28:24 Porque ele perscruta até as extremidades da terra, sim, ele vê tudo o que há debaixo do céu.
Job 28:25 Quando regulou o peso do vento, e fixou a medida das águas;
Job 28:26 quando prescreveu leis para a chuva e caminho para o relâmpago dos trovões;
Job 28:27 então viu a sabedoria e a manifestou; estabeleceu-a, e também a esquadrinhou.
Job 28:28 E disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento.
Jó capítulo 29
1 E prosseguindo Jó no seu discurso, disse:
2 Ah! quem me dera ser como eu fui nos meses do passado, como nos dias em que Deus me guardava;
3 quando a sua lâmpada luzia sobre o minha cabeça, e eu com a sua luz caminhava através das trevas;
4 como era nos dias do meu vigor, quando o íntimo favor de Deus estava sobre a minha tenda;
5 quando o Todo-Poderoso ainda estava comigo, e os meus filhos em redor de mim;
6 quando os meus passos eram banhados em leite, e a rocha me deitava ribeiros de azeite!
7 Quando eu saía para a porta da cidade, e na praça preparava a minha cadeira,
8 os moços me viam e se escondiam, e os idosos se levantavam e se punham em pé;
9 os príncipes continham as suas palavras, e punham a mão sobre a sua boca;
10 a voz dos nobres emudecia, e a língua se lhes pegava ao paladar.
11 Pois, ouvindo-me algum ouvido, me tinha por bem-aventurado; e vendo-me algum olho, dava testemunho de mim;
12 porque eu livrava o miserável que clamava, e o órfão que não tinha quem o socorresse.
13 A bênção do que estava a perecer vinha sobre mim, e eu fazia rejubilar-se o coração da viúva.
14 vestia-me da retidão, e ela se vestia de mim; como manto e diadema era a minha justiça.
15 Fazia-me olhos para o cego, e pés para o coxo;
16 dos necessitados era pai, e a causa do que me era desconhecido examinava com diligência.
17 E quebrava os caninos do perverso, e arrancava-lhe a presa dentre os dentes.
18 Então dizia eu: No meu ninho expirarei, e multiplicarei os meus dias como a areia;
19 as minhas raízes se estendem até as águas, e o orvalho fica a noite toda sobre os meus ramos;
20 a minha honra se renova em mim, e o meu arco se revigora na minhã mão.
21 A mim me ouviam e esperavam, e em silêncio atendiam ao meu conselho.
22 Depois de eu falar, nada replicavam, e minha palavra destilava sobre eles;
23 esperavam-me como à chuva; e abriam a sua boca como à chuva tardia.
24 Eu lhes sorria quando não tinham confiança; e não desprezavam a luz do meu rosto;
25 eu lhes escolhia o caminho, assentava-me como chefe, e habitava como rei entre as suas tropas, como aquele que consola os aflitos.
Jó capítulo 30
1 Mas agora zombam de mim os de menos idade do que eu, cujos pais teria eu desdenhado de pôr com os cães do meu rebanho.
2 Pois de que me serviria a força das suas mãos, homens nos quais já pereceu o vigor?
3 De míngua e fome emagrecem; andam roendo pelo deserto, lugar de ruínas e desolação.
4 Apanham malvas junto aos arbustos, e o seu mantimento são as raízes dos zimbros.
5 São expulsos do meio dos homens, que gritam atrás deles, como atrás de um ladrão.
6 Têm que habitar nos desfiladeiros sombrios, nas cavernas da terra e dos penhascos.
7 Bramam entre os arbustos, ajuntam-se debaixo das urtigas.
8 São filhos de insensatos, filhos de gente sem nome; da terra foram enxotados.
9 Mas agora vim a ser a sua canção, e lhes sirvo de provérbio.
10 Eles me abominam, afastam-se de mim, e no meu rosto não se privam de cuspir.
11 Porquanto Deus desatou a minha corda e me humilhou, eles sacudiram de si o freio perante o meu rosto.
12 ë direita levanta-se gente vil; empurram os meus pés, e contra mim erigem os seus caminhos de destruição.
13 Estragam a minha vereda, promovem a minha calamidade; não há quem os detenha.
14 Vêm como por uma grande brecha, por entre as ruínas se precipitam.
15 Sobrevieram-me pavores; é perseguida a minha honra como pelo vento; e como nuvem passou a minha felicidade.
16 E agora dentro de mim se derrama a minha alma; os dias da aflição se apoderaram de mim.
17 De noite me são traspassados os ossos, e o mal que me corrói não descansa.
18 Pela violência do mal está desfigurada a minha veste; como a gola da minha túnica, me aperta.
19 Ele me lançou na lama, e fiquei semelhante ao pó e à cinza.
20 Clamo a ti, e não me respondes; ponho-me em pé, e não atentas para mim.
21 Tornas-te cruel para comigo; com a força da tua mão me persegues.
22 Levantas-me sobre o vento, fazes-me cavalgar sobre ele, e dissolves-me na tempestade.
23 Pois eu sei que me levarás à morte, e à casa do ajuntamento destinada a todos os viventes.
24 Contudo não estende a mão quem está a cair? ou não clama por socorro na sua calamidade?
25 Não chorava eu sobre aquele que estava aflito? ou não se angustiava a minha alma pelo necessitado?
26 Todavia aguardando eu o bem, eis que me veio o mal, e esperando eu a luz, veio a escuridão.
27 As minhas entranhas fervem e não descansam; os dias da aflição me surpreenderam.
28 Denegrido ando, mas não do sol; levanto-me na congregação, e clamo por socorro.
29 Tornei-me irmão dos chacais, e companheiro dos avestruzes.
30 A minha pele enegrece e se me cai, e os meus ossos estão queimados do calor.
31 Pelo que se tornou em pranto a minha harpa, e a minha flauta em voz dos que choram.