Era cerca do ano 50 A.D. e Atenas já havia perdido a importância política de outrora, mas ainda era o centro de cultura dos países de idioma grego, pois era rica em filosofia, mitologia, tradição e artes. Hoje é capital da Grécia e ali ainda se encontram estátuas e ruínas de velhos templos, bem como nos grandes museus da atualidade.
Enquanto Paulo esperava por seus companheiros em Atenas, ele andou pela cidade e ficou profundamente indignado ao ver a grande quantidade e variedade de estátuas de deuses mitológicos que o povo cultuava. O historiador Plínio declarou que quando Nero era imperador romano, havia mais de trinta mil estátuas públicas em Atenas, além das que se encontravam em residências particulares.
Evidentemente o povo estava longe de Deus e do padrão de conduta definido nos dez mandamentos, a começar pelos primeiros dois que exigem o reconhecimento dEle como único verdadeiro Deus e proíbem a feitura de ídolos e imagens de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra, para lhes prestar homenagem e culto (Êxodo 20:3-6).
A humanidade sempre se inclinou a supor que coisas físicas, mesmo quando construídas ou fabricadas por ela, tenham ou venham a adquirir propriedades sobrenaturais. Superstições dessa natureza têm também invadido o cristianismo apóstata até os nossos dias, chegando ele, por conveniência, a suprimir o segundo mandamento dos seus catecismos.
Paulo não ficou calado: discutia na sinagoga com os judeus e com os judeus tementes a Deus, o que indica que possivelmente eles se acomodavam com a situação em que se encontravam, não se dando conta de como era grave diante de Deus. Também discutia, diariamente, com os que se encontravam na praça principal da cidade, enquanto anunciava o Evangelho de Jesus Cristo e da Sua ressurreição.
Na praça, é notório que se faziam presentes filósofos de renome, cujas obras são lidas ainda hoje. Entre eles estavam:
os epicureus, que alegavam que o prazer é o objetivo principal da vida, pois negavam a existência de uma vida futura após a morte.
os estóicos, que exaltavam a austeridade para controle da mente sobre o corpo, levando-os a um grande egoísmo e orgulho, busca de honra e glória para si, e ao panteísmo.
Ambas essas correntes de filosofia humanista ainda são muito influentes em nossos tempos, resultando em: “comamos e bebamos, porque amanhã morreremos” (Isaías 22:13, 1 Coríntios 15:32).
Os filósofos disputavam com Paulo, cujas doutrinas eram novidade para eles e se chocavam frontalmente com o que eles próprios acreditavam. Paulo sem dúvida já conhecia estes ramos da filosofia grega, pois estavam espalhados pelo mundo em que vivia, mas agora estava enfrentando os seus mestres no lugar de origem. Para ele os epicureus se assemelhariam aos saduceus entre os judeus, e os estóicos aos fariseus.
Alguns dos filósofos, desdenhosos, desprezavam o que Paulo dizia. Outros desconfiavam que ele estava pregando uma nova religião (“deuses estranhos”), o que seria ilegal segundo a lei romana. Finalmente o levaram para o Areópago para que ele se explicasse diante de todos, alegando que queriam se informar melhor das coisas estranhas e da nova doutrina que ele trazia.
Lucas nos informa que todos os atenienses e estrangeiros que ali viviam não se preocupavam com outra coisa senão falar ou ouvir as últimas novidades. O areópago constituía-se de uma elevação vizinha à praça, de formato semicircular, com assentos escavados na pedra, usada para reuniões do conselho de membros da aristocracia ateniense, e como auditório onde os filósofos podiam expor suas doutrinas ao público ávido por novidades, poetas declamavam suas poesias, etc.
Cercando o areópago via-se de um lado a Acrópole, cidadela onde se encontra o Pártenon, templo da deusa Atena que ainda se encontra ali, a praça principal e as ruas pontilhadas de estátuas artísticas de deuses da rica mitologia grega, o que fez com que Paulo iniciasse sua pregação com uma referência à grande religiosidade dos atenienses.
Sendo sua audiência composta de gentios, que pouco ou nada sabiam sobre as Sagradas Escrituras dos judeus, Paulo, com certa diplomacia, iniciou o seu discurso referindo-se a um altar em particular que havia visto, erigido “AO DEUS DESCONHECIDO”.
Habilmente Paulo usou o fato que os atenienses admitiam a existência de Deus e a realidade que eles não O conheciam, para apresentá-los ao Deus “que fez o mundo e tudo o que nele há, sendo Ele Senhor do céu e da terra”.
Como eles cultuavam esse Deus, embora sem conhecê-lo, Paulo escapava da acusação de estar ensinando uma nova religião, o que seria ilegal. Era também uma porta aberta para ensinar sobre o verdadeiro Deus, sobre o Seu Filho, Jesus Cristo, e sobre a necessidade de arrependimento porque o mundo será julgado por Ele, a quem Deus ressuscitou dos mortos.
É um sermão curto, compacto, e que traz o essencial para conhecer o ensino do Evangelho.
Note-se:
“Deus fez o mundo e tudo o que nele há” – Paulo mais tarde esclareceu “nele (Cristo) foram criadas todas as coisas nos céus e na terra .... tudo foi criado por ele e para ele”, (Colossenses 1:16) confirmando a divindade do Senhor Jesus.
“Deus não habita em templos feitos por mãos de homens” – Paulo informou também mais tarde: “Não sabeis vós que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Coríntios 3:16).
“De um só (Deus) fez todas as raças dos homens... determinando-lhes os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação”. Os atenienses julgavam-se ser uma criação especial. Os evolucionistas imaginam hoje que a humanidade é resultado de um acaso.
“Deus não está longe de cada um de nós – porque nele vivemos e nos movemos e existimos”. Deus não está limitado pelo espaço, mas está em toda a parte.
Deus não é semelhante à matéria, como ouro, prata, ou esculturas feitas pela imaginação do homem (como todos os deuses adorados e homenageados em forma de imagens pelos atenienses) – é curioso que eles não tinham uma imagem para o “Deus desconhecido”.
No entanto, Deus não leva em consideração a idolatria praticada em ignorância, mas agora ordena que todos em toda a parte do mundo se arrependam: está implícito o arrependimento de todo o mal que tenham praticado, não só a idolatria, e também a universalidade da mensagem do Evangelho.
Isso é urgente, pois a humanidade não permanecerá impune: “Deus... determinou um dia em que com justiça há de julgar o mundo por meio do varão (o Senhor Jesus)”. Ele será o Juiz no juízo final, terminado o milênio (Apocalipse 20:11-15).
“Disso (Deus) tem dado certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos” – a ressurreição corpórea de Jesus Cristo é a garantia da verdade do Evangelho, e consequentemente da nossa salvação, se o recebemos como Salvador e Senhor.
Quando ouviram Paulo falar em ressurreição dos mortos, uns daqueles filósofos escarneciam e outros o despediram. Gostavam de discutir idéias, teorias, comportamentos, que era um exercício intelectual, mas não podiam acreditar em um Deus criador onipotente, com poder soberano até sobre a matéria viva ou morta.
Paulo saiu do meio deles, no entanto houve conversões: “alguns homens aderiram a ele, e creram, distinguindo-se um areopagita chamado Dionísio, e uma mulher chamada Dâmaris e outros com eles”, suficiente para dar início a uma igreja local.
Enquanto estava em Atenas, Paulo escreveu a sua primeira carta aos Tessalonicenses, onde lemos que quando Timóteo veio até ele, em Atenas, Paulo o enviou a Tessalônica para se informar sobre como a igreja naquela cidade estava progredindo na fé, e Timóteo trouxe boas notícias dela (1 Tessalonicenses 3:4-6).
16 Enquanto Paulo os esperava em Atenas, revoltava-se nele o seu espírito, vendo a cidade cheia de ídolos.
17 Argumentava, portanto, na sinagoga com os judeus e os gregos devotos, e na praça todos os dias com os que se encontravam ali.
18 Ora, alguns filósofos epicureus e estóicos disputavam com ele. Uns diziam: Que quer dizer este paroleiro? E outros: Parece ser pregador de deuses estranhos; pois anunciava a boa nova de Jesus e a ressurreição.
19 E, tomando-o, o levaram ao Areópago, dizendo: Poderemos nós saber que nova doutrina é essa de que falas?
20 Pois tu nos trazes aos ouvidos coisas estranhas; portanto queremos saber o que vem a ser isto.
21 Ora, todos os atenienses, como também os estrangeiros que ali residiam, de nenhuma outra coisa se ocupavam senão de contar ou de ouvir a última novidade.
22 Então Paulo, estando de pé no meio do Areópago, disse: Varões atenienses, em tudo vejo que sois excepcionalmente religiosos;
23 Porque, passando eu e observando os objetos do vosso culto, encontrei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais sem o conhecer, é o que vos anuncio.
24 O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens;
25 nem tampouco é servido por mãos humanas, como se necessitasse de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas;
26 e de um só fez todas as raças dos homens, para habitarem sobre toda a face da terra, determinando-lhes os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação;
27 para que buscassem a Deus, se porventura, tateando, o pudessem achar, o qual, todavia, não está longe de cada um de nós;
28 porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois dele também somos geração.
29 Sendo nós, pois, geração de Deus, não devemos pensar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida pela arte e imaginação do homem.
30 Mas Deus, não levando em conta os tempos da ignorância, manda agora que todos os homens em todo lugar se arrependam;
31 porquanto determinou um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do varão que para isso ordenou; e disso tem dado certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos.
32 Mas quando ouviram falar em ressurreição de mortos, uns escarneciam, e outros diziam: Acerca disso te ouviremos ainda outra vez.
33 Assim Paulo saiu do meio deles.
34 Todavia, alguns homens aderiram a ele, e creram, entre os quais Dionísio, o areopagita, e uma mulher por nome Dâmaris, e com eles outros.
Atos capítulo 17, versículos 16 a 34