O nome Ágabo, vem do grego A´gabos, mas é de origem hebraica, provavelmente Hagabe, nome de um sacerdote que aparece em Esdras (p.e. 2:46).
Ágabo foi um profeta da igreja de Deus que se congregava em Jerusalém, e é mencionado no livro dos Atos apenas duas vezes.
Houve dispersão de muitos membros dessa igreja pioneira em seguida ao apedrejamento do diácono Estêvão pelo sinédrio dos judeus, e alguns foram até bem longe levando o Evangelho aos judeus dispersos por lá. Assim, alguns chegaram a Antioquia, capital da Síria, e da província romana da Ásia. Esta cidade era a mais importante do império romano depois de Roma e Alexandria.
Juntaram-se a eles alguns judeus convertidos procedentes de Chipre e de Cirene que falavam grego e os gentios então puderam ouvir o Evangelho através deles. Deus os abençoou e um grande número creu e se converteu ao Senhor Jesus. É notável que não nos é dado o nome desses pioneiros da evangelização entre os gentios.
A nova igreja precisava de bons ensinadores, portanto a igreja em Jerusalém enviou para lá Barnabé, um "homem de bem, e cheio do Espírito Santo e de fé": ótima recomendação para um missionário. Ele se alegrou ao ver a graça de Deus revelada entre os gentios, e animou a todos a permanecerem fiéis ao Senhor, de todo o coração.
Barnabé sabia que Saulo havia sido escolhido pelo Senhor Jesus para ser o Seu apóstolo entre os gentios (Atos 9:15, Romanos 1:1, Gálatas 1:1)), e também conhecia a sua capacidade para ensinar, por isso se empenhou para encontrá-lo em sua cidade natal de Tarso, para onde voltara, e trazê-lo até Antioquia. Os dois ficaram nesta cidade por um ano (calcula-se 44 AD), ensinando a muitos.
Alguns profetas também vieram de Jerusalém para Antioquia. Eram homens dotados pelo Espírito Santo com o dom de profecia, mediante o qual podiam transmitir a Palavra de Deus a fim de ensinar, exortar e fortalecer as igrejas antes de serem escritos os livros que encontramos no Novo Testamento e circuladas as suas cópias. Desta forma ajudavam os apóstolos assim como também faziam Judas (Barsabás) e Silas (Atos 15:22, 27, 32).
Ágabo era um destes profetas, e transmitiu uma mensagem de Deus revelando um acontecimento próximo: uma grande fome ia assolar “todo o mundo”. A expressão “todo o mundo” é coloquial, como ainda se pode ser usada hoje, significando uma grande extensão de território. O narrador, Lucas, informa que a fome aconteceu no tempo de Cláudio (imperador romano de 41 a 44 AD).
Os irmãos da igreja de Antioquia, aqui chamados “discípulos”, fizeram então uma coleta entre si, cada um dando conforme as suas posses, e enviaram uma contribuição para os irmãos que habitavam na Judéia (veja também AQUI).
Cerca de quinze anos mais tarde, quando voltava da sua terceira viagem missionária e se destinava a Jerusalém, Paulo desambarcou em Cesareia e ficou ali por alguns dias. Ao saber disto, Ágabo desceu de Jerusalém para encontrá-lo.
Ágabo tomou a cinta de Paulo e atou seus próprios pés e mãos com ela. Era uma ação dramática, simbólica, como fizeram muitos profetas antes dele, para representar e enfatizar a sua mensagem. Certa vez o Senhor Jesus havia dito que outros cingiriam as mãos de Pedro, significando que perderia a sua liberdade (João 21:18). Ágabo agora profetizou, pelo Espírito Santo, que em Jerusalém os judeus iam prender Paulo e entregá-lo nas mãos dos gentios (Atos 21:10-11).
Essa notícia não era novidade para Paulo. Já em Mileto ele havia declarado aos anciãos da igreja em Éfeso: “... eis que eu, constrangido no meu espírito, vou a Jerusalém, não sabendo o que ali acontecerá, senão o que o Espírito Santo me testifica, de cidade em cidade, dizendo que me esperam prisões e tribulações.” (Atos 20:22,23).
Os companheiros de Paulo, inclusive Lucas, assustados com essa perspectiva, rogaram a Paulo com lágrimas que desistisse da sua viagem a Jerusalém, mas ele lhes respondeu: “Que fazeis chorando e magoando-me o coração? Porque eu estou pronto não só a ser ligado, mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus” (Atos 21:13).
Como Paulo não se deixava persuadir, seus companheiros enfim se resignaram dizendo que a vontade do Senhor fosse feita e se calaram. Estariam eles sendo usados por Satanás para tentarem Paulo? Ou estaria Paulo resistindo ao Espírito Santo?
É de se notar que, em nenhuma das vezes em que o Espírito Santo preveniu Paulo que estaria em perigo quando fosse a Jerusalém, houve alguma instrução da parte dEle para não prosseguir na viagem até lá. Ao contrário, Paulo se sentia impelido pelo seu espírito (subordinado ao Espírito Santo) a ir, talvez mesmo contra seu próprio bom-senso. Paulo não nos revela a luta que estava travando em si mesmo por causa disto, mas a insistência dos seus irmãos o feria muito.
Sem dúvida seus companheiros o amavam e queriam que Paulo ficasse longe do perigo que havia sido previsto. Mas Paulo lhes mostrou que tinha um dever a cumprir, e que estava pronto a arriscar a própria vida, se fosse necessário, para que o Senhor Jesus fosse servido e honrado. Os acontecimentos que se seguiram provaram que este era o caminho que Deus havia planejado para que Paulo testemunhasse do Senhor Jesus, não somente em Jerusalém, mas também em Roma (capítulo 23:11).