Ao entregar o seu espírito a Deus, na cruz do Calvário, a alma de Jesus Cristo foi para o "Hades", como acontecia com todo o mundo. O "Hades" é a região onde iam os espíritos dos mortos, referida quatro vezes nos Evangelhos, todas pelo Senhor Jesus (Mateus 11:23, 16:18, Lucas 10:15, 16:23). A única descrição do estado dos que lá se encontravam se encontra em Lucas 16:23-31.
O Seu corpo foi sepultado num sepulcro novo onde ninguém ainda havia sido colocado (Lucas 23:53). No terceiro dia, que era o domingo seguinte, de madrugada, Sua alma voltou ao Seu corpo, que não havia sofrido decomposição, conforme havia sido profetizado por Davi no Salmo 16:10 (ali a palavra no original hebraico é "Sheol" traduzida como "Hades" em Atos 2:27).
Poucas horas depois, Ele começou a aparecer aos Seus discípulos, a partir de Maria Madalena. A Palavra de Deus não nos revela o que Ele fez enquanto estava no Sheol. Quanto ao "Hades", somos informados que o "cativeiro" no "Hades" contendo as almas dos justos, chamado de "seio de Abraão" ou paraíso, foi levado pelo Senhor Jesus com Ele ao céu por ocasião da Sua ascensão (Efésios 4:8-10, Hebreus 2:14,15).
Estão presas no "Hades", desde então, somente as almas dos mortos perdidos, e Jesus Cristo tem a chave (Apocalipse 1:18). No dia do juízo final, após o milênio, o "Hades" entregará os mortos que nele houver, e ele será lançado no lago de fogo que arde com enxofre. (Apocalipse 20:13,14).
Além da profecia de três dias e três noites, temos também a declaração dos dois discípulos que iam para Emaús no primeiro dia da semana, domingo, quando houve a ressurreição “...E hoje é o terceiro dia desde que tudo isso aconteceu” (Lucas 24:21).
A resposta simples é que havia dois sábados, com um dia no meio, como segue:
Deve-se lembrar primeiro que a noite vai do ocaso ao raiar do sol no dia seguinte. Tem-se por certo que o “dia” judaico se contava de por em por do sol, começando da noite e depois o dia, ou seja, das 18.0 horas até 18.0 horas segundo nossa contagem. Por exemplo, o sábado semanal terminava às 18.0 horas e nessa hora começava o dia seguinte, nosso domingo.
No entanto, o dia que se seguia ao dia da Páscoa, sendo o primeiro dia da festa dos pães asmos, era também um dia de descanso obrigatório, um “sábado” especial, ou “preparação” (João 19:31). No dia seguinte, sexta-feira, os líderes judeus foram até Pilatos e pediram guardas para evitar que o corpo do Senhor Jesus fosse roubado, e as mulheres foram comprar especiarias e descansaram no sábado semanal (Lucas 23:56).
Todos os quatro Evangelhos contribuem com detalhes diferentes sobre o intervalo entre a morte do Senhor Jesus, como peças de um quebra-cabeça. Colocados juntos, em seu lugar, podemos concluir que, tendo entregue seu espírito logo após as 15:00 h de uma quarta-feira Ele foi sepultado cerca das 18:00 h., ao anoitecer. Setenta e duas horas depois, às 18:00 do sábado, seria o início do primeiro dia da semana, quando ele ressuscitou; não nos é dito a hora exata, pois não houve testemunha humana do fato, mas quando a pedra que tampava a entrada do sepulcro foi rolada por um anjo, para que os discípulos pudessem entrar, era ainda noite.
Que a crucificação se deu na quarta-feira pode ser comprovado pelos fatos desde a sexta-feira anterior até o domingo da ressurreição, conforme são relatados nos Evangelhos, e tem sido afirmado em escritos através dos tempos desde a antigüidade. Tem havido alguns que sustentam ter sido na quinta-feira, por causa do que disseram os discípulos indo para Emaús, mas aí falta o intervalo de um dia , quando os líderes foram a Pilatos e as mulheres compraram as especiarias.
No entanto, a maioria dos comentaristas segue a tradição católico-romana, que vem desde os tempos do imperador Constantino que assumiu a sua liderança. Ele detestava os judeus, e fez com que se introduzisse uma “páscoa cristã” tendo por base as fases da lua, tendo sexta-feira como o dia da semana comemorativo da morte do Senhor Jesus. Era conveniente para combinar e substituir festas pagãs.
A explicação do intervalo mais curto foi que se deve contar o dia da morte e o dia da ressurreição (uma fração de cada um), e um sábado no meio. São assim três dias, mas ficam somente duas noites. Explicaram então que “três dias e três noites” é só maneira de dizer, comum (?) na época.
Não convence, e, pessoalmente, acho melhor me ater ao que vejo claramente no relato bíblico, pois ele é infalível, ao contrário das tradições humanas.
Para um estudo mais detalhado, leia aqui.
Todos os quatro Evangelhos contribuem com detalhes sobre a noite entre nosso sábado e o domingo quando se deu a ressurreição do Senhor Jesus. Vamos incluí-los todos nesta síntese, ou seja, os textos de Mateus 28:1 a 15, Marcos 16:2 a 11, Lucas 24:1 a 12 e João 20:1 a 10, e procurar harmonizar as quatro narrativas o quanto possível. É necessário lembrar sempre que as 24 horas de um dia judaico eram contados das 18 às 18 horas do dia seguinte. A madrugada de um domingo começava logo às 18 horas do sábado.
Destacamos os seguintes fatos:
O terremoto e os guardas
Pouco depois do pôr-do-sol que terminava o sábado judeu, um anjo do Senhor desceu do céu com um grande terremoto, e afastou a pedra na entrada do túmulo onde havia sido depositado o corpo do Senhor Jesus, abrindo passagem.
O túmulo já estava vazio: exatamente três dias e três noites depois do sepultamento o espírito do Senhor Jesus voltou e o corpo fora transformado, obtendo novas características gloriosas (comp. 1 Coríntios 15:35-52). Este corpo não podia ser contido por barreiras materiais.
O anjo assentou-se na pedra. Sua aparência (conforme vista pelos guardas), era "como um relâmpago, e suas vestes eram brancas como a neve", assustando tanto os guardas que eles tremeram de medo e ficaram como mortos por algum tempo.
Em seguida, os guardas se levantaram e saíram correndo (as mulheres ainda estavam a caminho - ver. 11). Alguns deles foram até a cidade e contaram o que havia ocorrido aos chefes dos sacerdotes. Estes convocaram uma reunião e decidiram dar um grande suborno aos soldados para que dissessem que haviam dormido, e enquanto dormiam os discípulos haviam entrado na sepultura e furtado o corpo. Prometeram que não seriam castigados. Esta versão inacreditável inventada pelos sacerdotes foi divulgada no primeiro século. Outras versões igualmente inverossímeis foram propostas através dos séculos, mas nenhuma pode desfazer a realidade bíblica dos fatos.
As mulheres
Maria Madalena, Salomé e a outra Maria (mãe de Tiago) haviam saído de casa (Betânia) antes do pôr-do-sol do sábado para ver o sepulcro, levando aromas para ungir o corpo do Senhor.
Ao chegarem lá, encontraram a pedra removida, e um jovem vestido de roupas brancas (o anjo) lhes disse que Jesus que foi crucificado não estava mais ali, pois havia ressuscitado como Ele tinha dito. Entrou com elas para mostrar o lugar, agora vazio, onde o corpo havia sido colocado, e pediu que elas fossem contar o fato aos discípulos e informar que Ele ia adiante deles para a Galiléia, onde os encontraria.
As três mulheres saíram depressa do sepulcro, tremendo e assustadas, e duas delas não disseram nada a ninguém, porque estavam amedrontadas (Marcos 16:8).
Mas Maria Madalena foi até Pedro e João e disse que haviam levado o Senhor do sepulcro (João 20:2); eles correram até lá, entraram e viram os lençóis e o lenço que estivera na cabeça, mas não o corpo. Voltaram para casa, e João creu (João 20:1-10).
Maria Madalena também foi novamente ao sepulcro, olhou dentro, e viu dois anjos vestidos de branco que lhe perguntaram porque chorava. Voltando-se ela, teve um comovente e surpreendente encontro com o Senhor, ressuscitado. Ele ainda não havia subido para o Pai. Em seguida, Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos o que lhe havia acontecido. Mas eles não creram. (João 20:11-17).
Já ao amanhecer, outras mulheres que haviam vindo da Galiléia também subiram de Jerusalém, levando as especiarias que haviam preparado, e a elas se juntaram Salomé e a mãe de Tiago. Acharam a pedra revolvida e não acharam o corpo do Senhor Jesus, mas dois homens com as roupas resplandecentes pararam junto delas e perguntaram: "Por que buscais o vivente entre os mortos? Não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos como vos falou, estando ainda na Galiléia, dizendo: Convém que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, e seja crucificado, e ao terceiro dia ressuscite." (Lucas 12:1-7)
As mulheres saíram depressa do sepulcro, amedrontadas e cheias de alegria. Quando corriam para anunciar aos discípulos o que tinha acontecido, de repente o Senhor Jesus lhes saiu ao encontro e saudou-as. Elas, chegando, abraçaram os seus pés e adoraram. Note-se que, desta vez, Ele permitiu que elas o tocassem, logo, no intervalo, Ele já tinha ido ao Pai e voltado.
Novamente receberam a ordem para dizer aos discípulos para irem para a Galiléia, onde eles O veriam - note-se que Ele agora os chama de "Meus irmãos". Também quando falava com Maria Madalena Ele disse "vai para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus".
Agora, completada a redenção, Seus discípulos já haviam sido adotados como filhos por Deus, introduzindo o relacionamento filial a Deus de todo aquele que recebe a Cristo como seu Senhor e Salvador (João 1:12). E o Senhor Jesus dá a honra aos Seus discípulos de chamá-los de "irmãos" por terem o mesmo Pai. Notemos, porém, que é condescendência da parte dele, e que nunca, na Bíblia, lemos que algum discípulo, mesmo seus irmãos carnais e espirituais Tiago e Judas se atreveram a chamá-lo de "Irmão". Sua divindade o faz sublime demais para tomarmos essa liberdade.
Os discípulos
As mulheres foram, e contaram tudo aos discípulos, mas eles não acreditaram nas mulheres; as palavras delas lhes pareciam loucura (Lucas 24:11).
Pedro novamente "correu até o sepulcro, abaixou-se e viu as faixas de linho e mais nada; afastou-se, e voltou admirado com o que acontecera." (Lucas 24:12).
Dois discípulos que moravam em Emaús, uma aldeia a 60 estádios (10,8 km) de Jerusalém, estavam voltando para casa nesse dia, depois desses eventos, e estavam conversando sobre as coisas extraordinárias que haviam acontecido nos últimos dias.
No caminho, o Senhor Jesus se chegou a eles, mas eles não O reconheceram.
O Senhor indagou sobre o que falavam, e eles contaram o que havia acontecido com "Jesus de Nazaré, um profeta, poderoso em palavras e em obras diante de Deus e de todo o povo" (Lucas 24:19): sua entrega pelos chefes dos sacerdotes e suas autoridades para ser condenado à morte e crucificação, enquanto os discípulos esperavam que fosse Ele que iria trazer a redenção a Israel.
Contaram também do susto que haviam levado de manhã com as mulheres que tinham encontrado o túmulo vazio e tiveram uma visão de anjos que lhes disseram que Ele estava vivo. Alguns dos seus companheiros tinham ido ao sepulcro e comprovaram que ele estava vazio, mas não viram o Senhor.
O Senhor repreendeu a demora deles a entender e crer em tudo o que os profetas falaram. Perguntou se o Cristo não devia sofrer estas coisas para entrar na Sua glória? E procedeu a lhes explicar o que constava a respeito dele em todas as Escrituras.
Quando já estava ficando tarde, concordou em ficar em sua casa depois de muita insistência da parte deles, mas ao se iniciar a refeição, tendo Ele dado graças e partido o pão eles O reconheceram. No mesmo instante Ele desapareceu da sua vista. Os dois discípulos se levantaram e voltaram imediatamente a Jerusalém, às pressas.
Encontraram os onze apóstolos e outros discípulos reunidos, que estavam comentando que a ressurreição era verdade, pois o Senhor havia também aparecido a Pedro (não temos o relato desse encontro). Os dois discípulos começaram a contar sua própria experiência, mas foram interrompidos pela aparição do próprio Senhor Jesus Cristo, ressuscitado, entre eles.
O Senhor os cumprimentou e, para que não houvesse mais dúvidas (pensavam que fosse um espírito) Ele se identificou mostrando suas mãos e seus pés e pediu que O tocassem para provar que tinha carne e ossos. Como não cressem ainda, tão cheios estavam de alegria e de espanto, Ele pediu comida, deram-lhe um pedaço de peixe assado, e Ele o comeu na presença deles.
Este foi o domingo mais memorável de toda a história.