Esta seção começa com a característica conjunção conclusiva “portanto", que a liga à exortação anterior para entrar no descanso de Deus (4:11-13), com uma motivação mais do que convincente para fazê-lo.
O Senhor Jesus é o “sumo sacerdote absolutamente imenso e excelente” (gr. megas): o adjetivo qualificativo “megas” nos dá o nosso prefixo "mega". É notável que, tendo sido submetidos a um escrutínio completo pela palavra de Deus, que discerne até os pensamentos e intenções do coração (v.12 e 13), temos acesso contínuo direto a este sublime sacerdote que transcendeu a terra, penetrou nos céus (veja o terceiro céu em 2 Coríntios 12:2) e permanece lá, na presença de Deus.
O Senhor Jesus Cristo está habilitado a nos defender mais eficazmente do que qualquer pessoa no mundo, pois:
Ele é o grandíssimo Sumo Sacerdote. Houve muitos sumos sacerdotes sob o regime mosaico, mas nenhum chegou a ser chamado nem mesmo de “grande”.
Ele está agora glorificado à direita do seu Pai, nos céus. Ascendeu para o terceiro céu (2 Coríntios 12:2), a morada de Deus, passando pelo céu atmosférico (Atos 1:9) e o céu estelar (Salmo 8:3).
Ele é humano. Jesus foi o nome dado a ele no seu nascimento e é o nome que está particularmente ligado com sua humanidade.
Ele é divino. O nome Filho de Deus, designando Cristo, indica a Sua absoluta igualdade com Deus Pai.
Consideremos a Sua experiência: ninguém pode realmente compreender e se compadecer de outra pessoa a não ser que ele próprio já tenha passado por uma experiência semelhante. Como homem, nosso Senhor compartilhou nossas experiências e, portanto, pode compreender as provações que podemos suportar. As escrituras sustentam zelosamente a perfeição impecável do Senhor Jesus e isso também devemos fazer em nosso procedimento. Ele não conheceu pecado (2 Coríntios 5:21), não cometeu pecado (1 Pedro 2:22), e nEle nunca houve, nem há, nem haverá pecado (1 João 3:5).
Pecar é impossível para Jesus Cristo, como Deus ou homem. Como Homem perfeito, Ele nada fazia de Si mesmo, mas fazia tudo igual ao Pai, sendo absolutamente obediente a Ele (João 5:19), e certamente o Pai nunca O levaria ao pecado. Não existe base para o argumento que Ele não podia ser tentado em sua humanidade (v.15). A tentação não é pecado, mas é uma prova da nossa fidelidade, para verificar a nossa resistência. Se cairmos, pecamos, mas Jesus Cristo nunca caiu quando tentado.
O fato do Senhor Jesus não ter pecado, não reduz a Sua humanidade. Pecar não é uma característica essencial do ser humano: ao contrário, o pecado vem de fora, como uma doença infecciosa, e o contamina irremediavelmente. Cristo conservou a sua humanidade pura, impecável.
A nossa humanidade foi contaminada pelo pecado e “o salário do pecado é a morte”, “mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor” (Romanos 6:23). Somos então instados a nos chegar confiadamente ao trono da graça. Nossa confiança é baseada no conhecimento que Ele morreu para nos salvar e que agora nos dá misericórdia e graça “a fim de sermos socorridos no momento oportuno”. Podemos ir à sua presença a qualquer hora do dia ou da noite e alcançar misericórdia e achar graça, para ajudar na hora da necessidade. Sua misericórdia abrange as coisas que não devíamos ter feito, e sua graça nos capacita a fazer o que devemos fazer, mas não temos o poder de fazer. O socorro vem na hora da necessidade, oportuno, quando e onde for preciso.
Deus instituiu um sacerdócio humano pelo qual o povo israelita podia se aproximar dEle, quando deu a Sua lei para Moisés no Monte Sinai. Determinou que os sacerdotes deviam ser os filhos e descendentes da tribo de Levi da família de Arão. Uma das suas principais funções era a de oferecer ofertas e sacrifícios pelos pecados. As ofertas eram apresentadas como tributos a Deus. Os sacrifícios eram de animais que foram mortos e queimados no altar para que seu sangue servisse para a expiação de pecados. Esta ordem de sacerdotes é conhecida como o sacerdócio arônico ou levítico, sendo Arão o seu primeiro sumo sacerdote.
O sumo sacerdote estava em condições de compadecer-se devidamente “dos ignorantes e errados”, ou seja, ele tinha que ter compaixão da fragilidade humana e de lidar cuidadosamente com os ignorantes e retrógrados. Sua própria fraqueza humana o equipava para compreender os problemas que seu povo estava enfrentando. A referência neste versículo aos “ignorantes e errados” sugere que não seriam pecados deliberados. Mesmo o sumo sacerdote, por ser parte da humanidade contaminada pelo pecado, oferecia sacrifício pelos seus próprios pecados.
Só quem é chamado por Deus, como foi Arão, tem essa honra de intermediar entre os homens e Deus. Não era algo que qualquer pessoa pudesse escolher fazer por conta própria. Assim, o chamado de Deus foi limitado a Arão e os seus descendentes. Fora dessa família, ninguém mais
Encontramos no Velho Testamento outro sacerdócio divinamente ordenado, o de Melquisedeque (Salmo 110:4). Este homem viveu nos dias de Abraão, muito tempo antes que a lei fora dada, e era tanto rei quanto sacerdote na cidade de Salém (mais tarde chamada Jerusalém). Na passagem em apreço veremos que o Senhor Jesus Cristo é um sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, e que esta ordem é superior ao sacerdócio arônico. Nos quatro primeiros versículos, temos a descrição do sacerdote arônico. Em seguida, até o versículo 10, encontramos detalhes sobre a habilitação de Cristo como sacerdote, em contraste com Arão.
Assim como foi comprovada a supremacia das qualificações de Jesus Cristo sobre Moisés, vamos prosseguir agora verificando sua superioridade sobre as do irmão de Moisés, Arão. A posição de grandíssimo sumo sacerdote não foi tomada presunçosamente mediante uma autopromoção. O Messias ("Cristo," "Ungido") submeteu-se à mesma seleção divina que teve Arão. No Salmo 110: 4 vemos:
A frase "segundo a ordem de Melquisedeque" é interpretada para nós no capítulo 7. Lá o sacerdócio de Melquisedeque é comparado e contrastado com o Sacerdócio arônico ou levítico. Sob a lei Deus designou os homens da tribo de Levi e a família de Arão para serem sacerdotes. Seu sacerdócio era uma questão de filiação e terminou com sua morte.
O sacerdócio do misterioso Melquisedeque foi por nomeação soberana de Deus. Ela não foi herdada de seus pais e não há nenhuma menção de princípio e fim (7:3). Em estas e outras formas o sacerdócio de Melquisedeque foi superior ao levítico.
Melquisedeque foi um protótipo do Senhor Jesus. O sacerdócio de nosso Senhor não foi herdado; Ele era da tribo de Judá, não de Levi. Seu sacerdócio foi estabelecido pela ordem soberana e eterna de Deus, e como vive no poder de uma vida eterna, Seu sacerdócio nunca terminará. Outra forma em que Melquisedeque prenunciou o Messias é que ele era rei e sacerdote. Seu nome e título significam que ele foi rei de justiça e de paz (7:2). Ele também era sacerdote do Deus Altíssimo (Gênesis 14:18).
Cristo não é apenas o filho de Deus, sem pecado; Ele também é verdadeiramente homem. Teve uma variedade de experiências humanas, através das quais passou nos dias da sua humanidade, para dar provas disso. Observe as palavras usadas para descrever a sua vida e especialmente sua experiência no jardim do Getsêmani: orações e súplicas, com veemente clamor e lágrimas. Elas comprovam Sua vida como a de um homem dependente que vive em obediência a Deus e participa de todas as emoções humanas que não estão ligadas ao pecado. A oração de Cristo não foi para ser salvo da morte; afinal, morrer por pecadores era Seu propósito ao vir ao mundo (João 12:27). Sua oração foi que fosse livrado do estado de morto, para que sua alma não ficasse no Hades. Esta oração foi atendida quando Deus O ressuscitou dentre os mortos. Ele foi ouvido por causa da Sua reverência.
Jesus Cristo era Filho (não meramente um filho) unigênito de Deus. Apesar da sua sublime identidade, Ele aprendeu obediência pelas coisas que sofreu. Sua entrada neste mundo como um homem o envolveu em experiências pelas quais Ele nunca teria passado se tivesse permanecido no céu. Todas as manhãs foi despertado para ser ensinado pelo seu pai (Isaías 50:4). Ele aprendeu obediência à vontade de Deus, mesmo através do sofrimento que o levou à cruz.
O resultado da obediência resoluta de Jesus Cristo, no entanto, foi a realização impressionante de Sua perfeição. Isto não é dizer que o Senhor Jesus foi a qualquer tempo imperfeito, pois qualquer indício de defeito moral iria efetivamente negar ou subverter sua natureza divina. O nível de perfeição que ele alcançou estava ligado à obediência completa que caracterizou sua experiência humana. Paradoxalmente, foi quem era participante da essência de Deus e do esplendor da Sua glória (1:3) que passou pela experiência da humanidade, e o processo de crescimento resultou em equilíbrio perfeito das duas naturezas, a humana e a divina.
A realização deste nível de perfeição estava diretamente relacionada à Sua posição exaltada de sumo-sacerdote recém-instalado dos céus, concedida pelo seu Pai. Como perfeito sumo sacerdote, Jesus se tornou a fonte de salvação eterna "a todos os que lhe obedecem," ou seja, todos aqueles que se sujeitam à Sua autoridade. A frase "eterna salvação", é encontrada exclusivamente em apenas um único versículo do Velho Testamento (Isaías 45:17), uma passagem que trata da era messiânica.
Claramente, ser a fonte da salvação eterna é uma qualidade categoricamente diferente do que a que fora exercida por qualquer membro do sacerdócio levítico. Na verdade, Jesus Cristo é um sacerdote de uma classe totalmente diferente: ele foi designado por Deus como um sumo sacerdote, não segundo a ordem de Arão, mas " segundo a ordem de Melquisedeque".
Heb 4:14 Portanto, tendo um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou os céus, retenhamos firmemente a nossa confissão.
15 Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer- se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado.
16 Cheguemo-nos, pois, confiadamente ao trono da graça, para que recebamos misericórdia e achemos graça, a fim de sermos socorridos no momento oportuno.
Heb. 5:1 Porque todo sumo sacerdote tomado dentre os homens é constituído a favor dos homens nas coisas concernentes a Deus, para que ofereça dons e sacrifícios pelos pecados,
2 podendo ele compadecer-se devidamente dos ignorantes e errados, porquanto também ele mesmo está rodeado de fraqueza.
3 E por esta razão deve ele, tanto pelo povo como também por si mesmo, oferecer sacrifício pelos pecados.
4 Ora, ninguém toma para si esta honra, senão quando é chamado por Deus, como o foi Arão.
5 assim também Cristo não se glorificou a si mesmo, para se fazer sumo sacerdote, mas o glorificou aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, hoje te gerei;
6 como também em outro lugar diz: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.
7 O qual nos dias da sua carne, tendo oferecido, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que podia livrar da morte, e tendo sido ouvido por causa da sua reverência,
8 ainda que era Filho, aprendeu a obediência por meio daquilo que sofreu;
9 e, tendo sido aperfeiçoado, veio a ser autor de eterna salvação para todos os que lhe obedecem,
10 sendo por Deus chamado sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque.
Hebreus capítulo 4, versículo 14 até capítulo 5, versículo 10)