As palavras “vos haveis feito tais” demonstra retrocesso ao invés do progresso que seria de se esperar no crente. O retrocesso voltava aos seis princípios rudimentares dos oráculos de Deus aqui mencionados: “o arrependimento de obras mortas” (o sistema levítico), “e de fé em Deus” (conversão ao senhorio de Cristo), “e o ensino sobre batismos” (as várias imersões e lavagens do sistema levítico) “e imposição de mãos” (a maneira de abençoar e dedicar ou se identificar com pessoas ou coisas no Velho Testamento), “e sobre ressurreição de mortos” (também uma doutrina do Velho Testamento achada em Jó 19:25, Isaías 26:19 e Daniel 12:2), “e juízo eterno” (o julgamento final, do “grande trono branco”).
O autor de Hebreus expressa que tem muito mais a dizer sobre o importante assunto do sacerdócio de Cristo na ordem de Melquisedeque (v.10), mas faltava maturidade aos seus leitores hebreus, embora já devessem ser mestres, considerando o tempo desde a sua conversão. Assim sendo, por causa da preguiça deles (v. 11), essa matéria era ainda difícil para compreenderem, e precisavam primeiro aprender os rudimentos da Palavra de Deus (“os princípios elementares dos oráculos de Deus”). Só assim entenderiam as implicações práticas da doutrina. A mesma distinção entre leite e alimento sólido em questão de ensino bíblico foi feita pelo apóstolo Paulo (1 Coríntios 3:1-3).
Esta imaturidade resulta de estagnação espiritual e incapacidade para aprender a “palavra da justiça” e, “pela prática, ter as faculdades exercitadas para discernir tanto o bem como o mal”. Nossa apreensão da verdade divina é limitada pela nossa própria condição espiritual. Quantas vezes não podemos suportar o ensino bíblico, achando-o difícil, complicado, exaustivo, etc. Como aconteceu com os discípulos, ainda não alcançamos a maturidade suficiente para isso (João 16:12).
Aqueles hebreus já tinham recebido instrução suficiente para que ensinassem a outros. Mas tragicamente ainda precisavam de alguém para lhes ensinar o ABC da palavra de Deus. A ordem de Deus é que cada crente amadureça ao ponto de poder ensinar aos outros. Embora certas pessoas tenham um dom especial de ensino e se preparem dedicadamente para esse fim, cabe a cada crente envolver-se em algum ministério de ensino. Nunca foi a intenção de Deus que este trabalho fosse limitado a alguns apenas.
Uma criança que nunca avança do leite para sólidos torna-se fisicamente deficiente. Há uma forma de crescimento atrofiado na vida espiritual também (1 Coríntios 3:2). Os que se dizem crentes mas ficam em uma dieta de leite não obedecem à palavra da Justiça. São ouvintes da palavra, mas não praticantes. Perdem o que não usam e permanecem em um estado de infância perpétua. Eles não têm discernimento em assuntos espirituais e são "levados ao redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia tendente à maquinação do erro" (Efésios 4:14). O alimento espiritual sólido é para o adulto, que ao comê-lo se exercita no discernimento do bem e do mal. Obedecendo à luz que recebe da palavra de Deus, ele é capaz de formar juízos espirituais e de se salvar dos perigos morais e doutrinários.
Neste livro, o sentido específico em que os leitores são exortados a distinguir é entre o bem e o mal em relação ao cristianismo e judaísmo. Não que o judaísmo fosse mau em si: o sistema levítico foi introduzido pelo próprio Deus. Mas sua finalidade foi apontar para Cristo. Ele é o cumprimento dos cerimoniais, tipos e sombras. Agora que Cristo veio, é pecado voltar para as figuras dEle.
É o desejo de Deus que o crente progrida para a maturidade, embora não o obrigue a fazê-lo (6:3). Alguns daqueles judeus, ao invés de progredir, já teriam regredido ao ponto de não poder avançar mais. Pensavam que tinham a opção de voltar atrás ao judaísmo e depois arrepender-se para voltar à fé cristã, assim apagando o pecado de apostasia. Mas devido à sua posição diante de Deus essas pessoas já haviam perdido essa opção, ela se lhes tornara impossível.
Os rudimentos da doutrina de Cristo são seis: o “arrependimento de obras mortas”, “ser iluminados” (regenerados e salvos), “provar o dom celestial” (a experiência real do Messias), “ser feitos participantes do Espírito Santo” (receber o Espírito Santo ao se converterem), “provar a boa palavra de Deus” (o benefício do conhecimento e ensino da Palavra), “e provar os poderes do mundo vindouro” (ver os milagres apostólicos, que eram uma amostra dos poderes que serão manifestados no reino do Messias).
Os versículos 4 a 6 compõem uma só sentença, declarando que é impossível aos que passaram por estas seis experiências e depois caíram, ser renovados para arrependimento. Evidentemente não se tratava de verdadeiros crentes pois estes, tendo nascido de novo e recebido a vida eterna, nunca terão vontade de voltar para trás. Se algum deles for negligente e pecar, será disciplinado nesta vida ou dará contas do seu proceder no tribunal de Cristo. Nunca perderá a sua salvação, que é eterna e não lhe será tirada (João 10:28, etc.).
A impossibilidade de ser renovado para arrependimento se limita aos falsos crentes que apenas ouviram e compreenderam o Evangelho (foram iluminados pela luz de Cristo), provaram as bênçãos que resultam de uma vida transformada (o dom celestial), e participaram de (não “do” pois o artigo “o” não consta do original) Espírito Santo, ou da Sua presença e Palavra na igreja. Estes são os que caíram, voltando ao seu primeiro estado (2 Pedro 2:20-22), e pela sua ação, manifestam sua rejeição de Jesus como Cristo, cometendo a apostasia, que efetivamente é escarnecer do Filho de Deus crucificando-o de novo. É blasfemar contra o Espírito Santo (Mateus 12:31).
Concluindo, temos uma ilustração em que as pessoas são comparadas a terras que recebem chuva: a que produz erva proveitosa para o lavrador é abençoada por Deus, e a que só produz espinhos e abrolhos é rejeitada para enfim ser queimada (ver também a parábola do semeador – Mateus 13:18-23).
11 Sobre isso temos muito que dizer, mas de difícil interpretação, porquanto vos tornastes tardios em ouvir.
12 Porque, devendo já ser mestres em razão do tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar os princípios elementares dos oráculos de Deus, e vos haveis feito tais que precisais de leite, e não de alimento sólido.
13 Ora, qualquer que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, pois é criança;
14 mas o alimento sólido é para os adultos, os quais têm, pela prática, as faculdades exercitadas para discernir tanto o bem como o mal.
Hebreus capítulo 5, versículos 11 a 14
1 Pelo que deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até a perfeição, não lançando de novo o fundamento de arrependimento de obras mortas e de fé em Deus,
2 e o ensino sobre batismos e imposição de mãos, e sobre ressurreição de mortos e juízo eterno.
3 E isso faremos, se Deus o permitir.
4 Porque é impossível que os que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo,
Heb 6:5 e provaram a boa palavra de Deus, e os poderes do mundo vindouro,
6 e depois caíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; visto que, quanto a eles, estão crucificando de novo o Filho de Deus, e o expondo ao vitupério.
7 Pois a terra que embebe a chuva, que cai muitas vezes sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a bênção da parte de Deus;
8 mas se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada, e perto está da maldição; o seu fim é ser queimada.
9 Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores, e que acompanham a salvação, ainda que assim falamos.
10 Porque Deus não é injusto, para se esquecer da vossa obra, e do amor que para com o seu nome mostrastes, porquanto servistes aos santos, e ainda os servis.
11 E desejamos que cada um de vós mostre o mesmo zelo até o fim, para completa certeza da esperança;
12 para que não vos torneis indolentes, mas sejais imitadores dos que pela fé e paciência herdam as promessas.
13 Porque, quando Deus fez a promessa a Abraão, visto que não tinha outro maior por quem jurar, jurou por si mesmo,
14 dizendo: Certamente te abençoarei, e grandemente te multiplicarei.
Hebreus capítulo 6, versículos 1 a 14