Isaías capítulo 36
Uma nova seção das profecias de Isaías começa com os capítulos 36 a 39. Estes e os dois capítulos seguintes são devidamente introduzidos em sua configuração histórica. Os capítulos 36 até 39 têm sido chamados de "O livro de Ezequias," e formam a seção histórica do livro de Isaías. Exceto pelos versículos 9 a 20 do capítulo 38, eles são quase uma repetição exata de 2 Reis 18:13, 17 a 20:19.
As circunstâncias do reinado de Ezequias, mencionado em 2 Crônicas 32:32 como parte da "visão" de Isaías, são portanto um cumprimento do que Isaías tinha predito quase trinta anos antes (capítulo 8:5-10), e ao que tinha aludido subsequentemente (ver Isaías 10:12 a 19:33,34, 14:24,25, 30:28,31 e 31:8). Os capítulos 36 e 37, lidando com a invasão e derrubada da Assíria, portanto fazem a consumação histórica dos capítulos 7 a 35.
Os capítulos 38 e 39, por outro lado, concernem a doença de Ezequias, sua recuperação e falha, constituindo a base histórica dos capítulos 40 a 66. Os capítulos 36 e 37 são retrospectivos, e os capítulos 38 e 39 estão em perspectiva de fatos futuros. Os quatro estão claramente em sua configuração delineada divinamente em todo o livro. O fato de que toda a passagem é encontrada em 2 Reis 18:13 a 20:19 não fornece nenhum argumento para a suposição de que dois ou mais autores compilaram o livro. Os indícios de que esses capítulos formam o original da narrativa em 2 Reis evidenciam exatamente o contrário.
Seja como for, permanece o fato que os capítulos 36 e 37 informam os castigos que começariam a descer sobre a nação de Israel por causa da sua rejeição persistente dos testemunhos de Deus e sua desafiante rebelião contra Ele, juízos de que o profeta já os tinha avisado. No reinado de Ezequias já se verificava a corrupção nacional, e embora tenha havido alguma restauração ainda muito deficiente por parte do rei, após a misericórdia da sua recuperação, ficou evidente que Judá ainda teria que ser submetida ao desastre do cativeiro.
Tudo isso, no entanto, serviu para invocar a garantia de que Deus não lançaria fora seu povo permanentemente. Assim, a abertura da última parte do livro, começando com o capítulo 40, uma grande parte da qual é uma extensão das bênçãos prometidas no capítulo 35 e algumas passagens anteriores, revela o prazer que Deus terá em ser misericordioso e pôr fim ao julgamento.
O rei da Assíria invade Judá e ameaça Jerusalém (36:1-22)
No capítulo 36, o Rabsaqué (lit. Mordomo-chefe, título usado para um governador ou chefe de gabinete), enviado pelo rei da Assíria, se encontrou com três delegados do rei Ezequias junto ao aqueduto da piscina superior, na estrada junto ao Campo do Lavandeiro. É o mesmo lugar onde Acaz havia estado quando se curvou para confiar na Assíria ao invés do Senhor, para salvá-lo da aliança entre a Síria e Efraim (capítulo 7:3).
O Rabsaqué os avisou que o conselho e poder de Judá eram apenas vãs palavras, e também confiavam no Egito, porque seu exército era fraco e qualquer um poderia vencê-lo. A qualquer alegação de que eles confiavam no Senhor, não seria esse aquele cujos altares Ezequias tirou, dizendo ao povo “perante este altar adorareis?” (Isto era ignorância ou deturpação deliberada; Ezequias tinha removido o alto escalão dos ídolos e fortalecido a adoração do Senhor no templo).
O Rabsaqué os provocou mais ainda dizendo que o rei de Judá não podia fornecer suficientes cavaleiros mesmo que Senaqueribe lhe doasse dois mil cavalos. Uma vez que Judá tinha falta de pessoal, como podiam esperar derrotar os assírios, mesmo com a ajuda do Egito? Finalmente, alegou falsamente que o próprio Senhor lhe havia ordenado destruir Judá.
Os emissários de Ezequias, temendo que as ameaças insolentes do Rabsaqué faladas em hebraico, fossem minar o moral dos homens de Judá, pediram-lhe para falar em aramaico. Ele não só se recusou, mas declarou que falava de propósito para que o povo ouvisse, já que seria derrotado e sofreria com eles.
Rabsaqué convidou o povo a render-se, disse que nem Ezequias nem o Senhor iria livrá-los e prometeu deixá-los em paz em seus lares e eventualmente relocalizá-los em uma terra de fertilidade igual.
Ele listou uma série de cidades conquistadas (incluindo Samaria) cujos deuses não tinham sido capazes de salvá-los do rolo compressor da Assíria e incisivamente pergunta: que chance têm eles ou o Senhor de livrá-los?
Seguindo as instruções de Ezequias, o povo nada lhe respondeu, e os seus enviados rasgaram as suas vestiduras em sinal de tristeza e voltaram para informar-lhe as palavras de Rabsaqué.
1 No ano décimo quarto do rei Ezequias Senaqueribe, rei da Assíria, subiu contra todas as cidades fortificadas de Judá, e as tomou.
2 Ora, o rei da Assíria enviou Rabsaqué, de Laquis a Jerusalém, ao rei Ezequias, com um grande exército; e ele parou junto ao aqueduto da piscina superior, que está junto ao caminho do campo do lavandeiro.
3 Então saíram a ter com ele Eliaquim, filho de Hilquias, o mordomo, e Sebna, o escrivão, e Joá, filho de Asafe, o cronista.
4 E Rabsaqué lhes disse: Ora, dizei a Ezequias: Assim diz o grande rei, o rei da Assíria: Que confiança é essa em que te estribas?
5 Bem posso eu dizer: Teu conselho e poder para a guerra são apenas vãs palavras. Em quem pois agora confias, visto que contra mim te rebelas?
6 Eis que confias no Egito, aquele bordão de cana quebrada que, se alguém se apoiar nele, lhe entrará pela mão, e a furará; assim é Faraó, rei do Egito, para com todos os que nele confiam.
7 Mas se me disseres: No Senhor, nosso Deus, confiamos; porventura não é esse aquele cujos altos e cujos altares Ezequias tirou, e disse a Judá e a Jerusalém: Perante este altar adorareis?
8 Ora, pois, faze uma aposta com o meu senhor, o rei da Assíria; dar-te-ei dois mil cavalos, se tu puderes dar cavaleiros para eles.
9 Como então poderás repelir um só príncipe dos menores servos do meu senhor, quando confias no Egito pelos carros e cavaleiros?
10 Porventura subi eu agora sem o Senhor contra esta terra, para destruí-la? O Senhor mesmo me disse: Sobe contra esta terra, e destrói-a.
11 Então disseram Eliaquim, Sebna, e Joá, a Rabsaqué: Pedimos- te que fales aos teus servos em aramaico, porque bem o entendemos; e não nos fales em judaico, aos ouvidos do povo que está sobre o muro.
12 Rabsaqué, porém, disse: Porventura mandou-me o meu senhor só ao teu senhor e a ti, para dizer estas palavras e não aos homens que estão assentados sobre o muro, que juntamente convosco hão de comer o próprio excremento e beber a propria urina?
13 Então Rabsaqué se pôs em pé, e clamou em alta voz na língua judaica, e disse: Ouvi as palavras do grande rei, do rei da Assíria.
14 Assim diz o rei: Não vos engane Ezequias; porque não vos poderá livrar.
15 Nem tampouco Ezequias vos faça confiar no Senhor, dizendo: Infalivelmente nos livrará o Senhor, e esta cidade não será entregue nas mãos do rei da Assíria.
16 Não deis ouvidos a Ezequias; porque assim diz o rei da Assíria: Fazei as vossas pazes comigo, e saí a mim; e coma cada um da sua vide, e da sua figueira, e beba cada um da água da sua cisterna;
17 até que eu venha, e vos leve para uma terra semelhante à vossa, terra de trigo e de mosto, terra de pão e de vinhas.
18 Guardai-vos, para que não vos engane Ezequias, dizendo: O Senhor nos livrará. Porventura os deuses das nações livraram cada um a sua terra das mãos do rei da Assíria?
19 Onde estão os deuses de Hamate e de Arpade? onde estão os deuses de Sefarvaim? porventura livraram eles a Samária da minha mão?
20 Quais dentre todos os deuses destes países livraram a sua terra das minhas mãos, para que o Senhor possa livrar a Jerusalém das minhas mãos?
21 Eles, porém, se calaram e não lhe responderam palavra; porque havia mandado do rei, dizendo: Não lhe respondais.
22 Então Eliaquim, filho de Hilquias, o mordomo, e Sebna, o escrivão, e Joá, filho de Asafe, o cronista, vieram a Ezequias, com as vestiduras rasgadas, e lhe referiram as palavras de Rabsaqué.
Isaías capítulo 36