O julgamento sobre Jerusalém (Capítulo 22)
O vale da visão refere-se a Jerusalém (v. 9-11). Embora não situada exatamente num vale, existem montanhas ao seu redor (Salmo 125:2), e Deus a tinha escolhido como um lugar fechado, por assim dizer, do mundo, um lugar onde Ele daria, através dos Seus profetas, visões da Sua vontade e propósitos. As cidades do homem são desertos, espiritual e moralmente.
Jerusalém estava presa num cerco e seus habitantes andavam por cima das casas para ver o inimigo às suas portas. As ruas da cidade, uma vez festiva, estavam obstruídas com os mortos vítimas de uma peste. As autoridades fugiram, mas foram recapturadas indefesas embora tivessem fugido para longe. Isaías está inconsolável, sabendo do juizo ameaçado por Deus sobre a cidade.
O juizo viria através das autoridades dos gentios, mas o capítulo não está confinado aos eventos do então futuro próximo. Grande parte dos versiculos de abertura seráo cumpridos quando as nações estiverem reunidas contra a cidade no final desta época. Vai haver "um dia de destroço, de atropelamento e de confusão, um derrubar de muros e um clamor até as montanhas” tais como Jerusalém nunca experimentou.
Elam e Kir eram lugares estratégicos na Assíria, e a passagem refere-se principalmente à invasão Assíria. Seus carros e cavalaria enchem os vales que rodeiam a cidade. Os judeus fazem planos elaborados para resistir ao cerco. Eles saqueiam o arsenal (a casa da floresta), derrocam casas para obter a reparação da parede de pedras, tentam conseguir um abastecimento de água improvisado.
Os versículos 8 a 11 descrevem o que foi feito no tempo de Ezequias (2 Reis 20:12-21, 2 Crônicas 32:2-7, 30). Enquanto Deus abençoava seus esforços, Ezequias executou um pouco. Mas o povo estava em tal estado de apostasia contra Deus, que não podia purgar sua iniquidade (versículo 14). Não tinha ideia de olhar para o seu Criador, e quando o Senhor pediu remorso e arrependimento, o povo se entregou a festejos e completo descuido quanto aos juízos iminentes, embora tivesse ciência das consequências.
A lição desta passagem, é de extrema importância. Tudo o que tentamos conseguir por nossos próprios esforços é fútil e desastroso, a menos que seja dirigido por Deus e executado com Seu poder. O mal nunca pode ser evitado por meios adotados pela nossa sabedoria natural. O esquecimento de Deus leva à confiança nos recursos e meios humanos e termina em decepção e sofrimento.
Aprendemos aqui alguns fatos sobre Sebna adicionais àqueles em Isaías 36 e 37, e 2 Reis 19. Ele era uma espécie de vizir, ou mordomo sobre a casa do rei, encarregado do seu tesouro. A palavra "esse" no versículo 15, expressa desprezo divino. Seu mandonismo levou-o a escavar um sepulcro ornamentado para si nas rochas da cidade, copiando os ricos e poderosos da terra. Ele foi como “aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus” (Lucas 12:21). Através de Isaías o Senhor declara que será demitido do seu posto, e substituído por Eliaquim, um servo de Deus, filho de Hilquias. Sebna será jogado com seus carros como uma bola em uma terra distante para morrer lá em cativeiro. Sebna, cujo destino é repetido em Isaías 22:25, prefigura o Anticristo. Como Eliaquim substituiu Sebna, Jesus Cristo substituirá esse homem do pecado no governo do mundo.
Eliaquim (um tipo do Senhor Jesus) iria ser um governante responsável e compassivo com plena autoridade: a ele foi dada a chave da casa de David, controlando os aposentos reais e escolhendo os criados na casa real (o Senhor Jesus agora tem a chave da casa de David, conforme Apocalipse 3:7). Eliaquim seria estabelecido firmemente em sua posição, com autoridade absoluta em sua esfera de serviço.
Eliaquim é claramente o prego que é fixado em lugar seguro (v. 23a), e sua remoção e queda podem se referir ao cativeiro da casa de Judá, da qual foi um representante. A família de Eliaquim seria beneficiada por sua posição, como metaforicamente descrito nos versículos 23 e 24: é um prenúncio do efeito da fé em Jesus Cristo, que produz glória sobre aqueles que, tendo espiritualmente nascido de Deus, estão relacionados com Ele.
1 Oráculo acerca do vale da visão. Que tens agora, pois que com todos os teus subiste aos telhados?
2 e tu que estás cheia de clamor, cidade turbulenta, cidade alegre; os teus mortos não são mortos à espada, nem mortos em guerra.
3 Todos os teus homens principais juntamente fugiram, sem o arco foram presos; todos os que em ti se acharam, foram presos juntamente, embora tivessem fugido para longe.
4 Portanto digo: Desviai de mim a vista, e chorarei amargamente; não vos canseis mais em consolar-me pela destruição da filha do meu povo.
5 Porque dia de destroço, de atropelamento, e de confusão é este da parte do Senhor Deus dos exércitos, no vale da visão; um derrubar de muros, e um clamor até as montanhas.
6 Elão tomou a aljava, juntamente com carros e cavaleiros, e Quir descobriu os escudos.
7 Os teus mais formosos vales ficaram cheios de carros, e os cavaleiros postaram-se contra as portas.
8 Tirou-se a cobertura de Judá; e naquele dia olhaste para as armas da casa do bosque.
9 E vistes que as brechas da cidade de Davi eram muitas; e ajuntastes as águas da piscina de baixo;
10 e contastes as casas de Jerusalém, e derrubastes as casas, para fortalecer os muros;
11 fizestes também um reservatório entre os dois muros para as águas da piscina velha; mas não olhastes para aquele que o tinha feito, nem considerastes o que o formou desde a antiguidade.
12 O Senhor Deus dos exércitos vos convidou naquele dia para chorar e prantear, para rapar a cabeça e cingir o cilício;
13 mas eis aqui gozo e alegria; matam-se bois, degolam-se ovelhas, come-se carne, bebe-se vinho, e se diz: Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos.
14 Mas o Senhor dos exércitos revelou-se aos meus ouvidos, dizendo: Certamente esta maldade não se vos perdoará até que morrais, diz o Senhor Deus dos exércitos.
15 Assim diz o Senhor Deus dos exércitos: Anda, vai ter com esse administrador, Sebna, o mordomo, e pergunta-lhe:
16 Que fazes aqui? ou que parente tens tu aqui, para que cavasses aqui uma sepultura? Cavando em lugar alto a tua sepultura, cinzelando na rocha morada para ti mesmo!
17 Eis que o Senhor te arrojará violentamente, ó homem forte, e seguramente te prenderá.
18 Certamente te enrolará como uma bola, e te lançará para um país espaçoso. Ali morrerás, e ali irão os teus magníficos carros, ó tu, opróbrio da casa do teu senhor.
19 E demitir-te-ei do teu posto; e da tua categoria serás derrubado.
20 Naquele dia chamarei a meu servo Eliaquim, filho de Hilquias,
21 e vesti-lo-ei da tua túnica, e cingi-lo-ei com o teu cinto, e entregarei nas suas mãos o teu governo; e ele será como pai para os moradores de Jerusalém, e para a casa de Judá.
22 Porei a chave da casa de Davi sobre o seu ombro; ele abrirá, e ninguém fechará; fechará, e ninguém abrirá.
23 E fixá-lo-ei como a um prego num lugar firme; e será como um trono de honra para a casa de seu pai.
24 Nele, pois, pendurarão toda a glória da casa de seu pai, a prole e a progênie, todos os vasos menores, desde as taças até os jarros.
25 Naquele dia, diz o Senhor dos exércitos, cederá o prego fincado em lugar firme; será cortado, e cairá; e a carga que nele estava se desprenderá, porque o Senhor o disse.
Isaías capítulo 22