Os pastores que nada compreendem (56:9-12)
O versículo 9 reverte a Israel nos seus dias de rebelião. As nações (animais do campo e do bosque) são convidadas a se servir de um povo que ignora o perigo que corre. Os pastores e vigias em Israel eram preguiçosos, nada viam e nada sabiam. Eram como "cães mudos", incapazes de ladrar, e “deitados, sonham e gostam de dormir”. Mercenários, egoístas, vorazes, gananciosos, alcoólatras, gostavam das festas impuras com seus amigos, julgando que tudo estava bem e o futuro seria melhor ainda. Todos a quem o Senhor dá responsabilidade para pastorear o Seu rebanho devem se precaver contra:
A perdição dos idólatras (57:1-13)
Em contraste com os vigilantes, pastores e governantes maus, envolvidos em libertinagem e auto-indulgência, os justos perecem e ninguém se importa com isto. Ninguém entende porque homens compassivos, tementes a Deus, são arrebatados pela morte. Mas o justo é assim arrebatado da calamidade, entra em paz e todos os que andam na retidão “descansam nas suas camas” (leia AQUI).
O piedoso sofre pela opressão e é angustiado pelo que acontece em torno de si, mas retém a sua bênção aos olhos de Deus, e a recompensa pela sua fidelidade. Ele morre na fé e passará a desfrutar da paz eterna dos justos. É muito melhor morrer por praticar a justiça, do que comprometer-se com o mundo para livrar-se da luta contra ele e gozar das suas atrações.
A partir do versículo 3 há uma impressionante mudança de tema. Primeiro vem um chamado aos malfeitores para se aproximarem ao ouvir a voz de Deus. Frequentemente nas Escrituras o caráter moral de uma pessoa é indicado por uma referência ao seu pai (2 Reis 5:32)), ou à sua mãe (1 Samuel 20:30), ou ambos (Jó 30:8). Consequentemente aqueles que estavam em cativeiro e continuaram na idolatria dos seus pais, após sua derrota pelos caldeus, são chamados de "filhos da agoureira, a linhagem do adúltero e da prostituta."
Os versículos 4 até 13 compreendem uma repreensão dirigida a esses malfeitores. A referência aos “terebintos” e “árvores verdes” concernem as formas de adoração em que as árvores eram consideradas como moradias especiais de divindades diferentes. Orgias abomináveis eram praticadas ali. A matança sacrificial de crianças "nos vales, debaixo das fendas das rochas", não era a realizada em sacrifício a Moloque no vale de Hinom, mas se relacionava com a adoração de Baal (Jeremias 19:5, Ezequiel 16:21). A libação e oblação do versículo 6 se referem à adoração da pedra. A adoração idólatra é descrita em fraseologia metafórica como adultério nos versículos 7 a 9.
Toda esta maldade envolveu muita labuta e cansaço, mas o povo estava tão afastado do Senhor que não se desesperou, e com esforço conseguiu sobreviver e continuar suas alianças com os idólatras a quem havia imitado. A longanimidade do Senhor evitou que fosse castigado para impor medo, por isso o povo mentia, não se lembrava dEle, nem se importava. Mas o silêncio de Deus não duraria indefinidamente.
Há perigos na maioria das associações entre crentes e incrédulos. É o jugo desigual mencionado em 2 Coríntios 6:14 (veja AQUI). A associação com os que não aderem à palavra de Deus, mesmo sob o pretexto de ser considerado como caridade ou outro fim nobre, traz riscos que não se percebem no início, mas surgem depois, e podem ser desastrosos. A fidelidade ao Senhor exige manter a honra do Seu nome, custe o que custar.
A “justiça” do povo que o Senhor ia publicar não era a verdadeira justiça divina, mas a falsa justiça que o povo praticava para agradar os seus deuses inexistentes. Era uma retidão mentirosa, e seu verdadeiro caráter seria declarado, ou seja, exposto e julgado pelo Senhor. Isto é confirmado pelo que se segue: “...e quanto às tuas obras, elas não te aproveitarão. Quando clamares, livrem-te os ídolos que ajuntaste; mas o vento a todos levará, e um assopro os arrebatará... (versículos 12 e 13).
Esta séria repreensão termina com uma promessa, “mas o que confia em mim possuirá a terra, e herdará o meu santo monte” (versículo 13).
A vivificação do contrito e de espírito humilde (57:14-21)
O caminho está sendo feito para o retorno dos exilados, e a mensagem a ser dada é, " Aplanai, aplanai, preparai e caminho, tirai os tropeços do caminho do meu povo”. O esclarecimento está em Isaías 62:10, e este parece ser o fim do impedimento que fazem as nações ao retorno de Israel à sua terra. Os tropeços consistem em toda e qualquer obstrução que impeça o seu retorno.
No último parágrafo deste capítulo o Senhor, o Alto e o Excelso, “que habita na eternidade e cujo nome é santo” transmite uma mensagem declarando que “habita num alto e santo lugar”, mas também “com o contrito e humilde de espírito”. A mensagem tem por objetivo “vivificar o espírito dos humildes e o coração dos contritos.”
Esta será a condição de seu povo terrestre após a restauração. Se nos humilharmos debaixo da potente mão de Deus, Ele vai nos exaltar (1 Pedro 5:6), ou, como Ele diz aqui, em Isaías, Ele vai vivificar o nosso espírito e o nossa coração. Contrição e humildade são como causa e efeito. Como já foi dito, "o egoísmo que se quebra com o arrependimento tem sua raiz no coração; e a auto-consciência, baixada da sua falsa elevação pelo arrependimento, tem a sua sede no espírito."
O Senhor não contende para sempre nem fica continuamente irado com Israel, porque dEle procede o espírito bem como o fôlego de vida que Ele criou, ou seja, tudo foi feito por Ele e Ele deseja a harmonia com Sua criação (versículo 16). Aqui, significativamente, o Senhor dá um lembrete de que a existência da alma é devido ao Seu poder criativo, e este é Seu comovente apelo à contrição e humildade perante Ele. Lembramos que, apesar de sua misericórdia criativa, nos primórdios de Noé foi necessário destruir grande parte da Sua criação mediante um dilúvio global. O Senhor então prometeu nunca mais repetir o dilúvio.
O Senhor havia se indignado e ferido Israel, e se escondera dele por causa da sua avareza (ou melhor, egoismo). Não obstante, Israel se rebelara e seguira o seu próprio caminho. Assim mesmo, o Senhor agora se dispõe a curá-lo e a consolá-lo, bem como os que simpatizavam com ele.
O Senhor vai restaurar os que se arrependem e deixam a sua idolatria, tanto perto como longe, e criará o fruto dos lábios deles para O adorarem, que é o sacrifício de louvor (Hebreus 13:15). Também lhes dará paz (a duplicação da palavra “paz” significa perfeição e perpetuidade), e saúde.
Mas não haverá paz para os ímpios, diz o Senhor Deus. Estes são os impenitentes descritos “como o mar agitado; pois não pode estar quieto, e as suas águas lançam de si lama e lodo” (versículo 21). Estes não terão descanso e continuarão produzindo a devassidão e a imundície.
9 Vós, todos os animais do campo, todos os animais do bosque, vinde comer.
10 Todos os seus atalaias são cegos, nada sabem; todos são cães mudos, não podem ladrar; deitados, sonham e gostam de dormir.
11 E estes cães são gulosos, nunca se podem fartar; e eles são pastores que nada compreendem; todos eles se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância, todos sem exceção.
12 Vinde, dizem, trarei vinho, e nos encheremos de bebida forte; e o dia de amanhã será como hoje, ou ainda mais festivo.
Isaías capítulo 56, versículos 9 a 12
1 Perece o justo, e não há quem se importe com isso; os homens compassivos são arrebatados, e não há ninguém que entenda. Pois o justo é arrebatado da calamidade,
2 entra em paz; descansam nas suas camas todos os que andam na retidão.
3 Mas chegai-vos aqui, vós os filhos da agoureira, linhagem do adúltero e da prostituta.
4 De quem fazeis escárnio? Contra quem escancarais a boca, e deitais para fora a língua? Porventura não sois vós filhos da transgressão, estirpe da falsidade,
5 que vos inflamais junto aos terebintos, debaixo de toda árvore verde, e sacrificais os filhos nos vales, debaixo das fendas dos penhascos?
6 Por entre as pedras lisas do vale está o teu quinhão; estas, estas são a tua sorte; também a estas derramaste a tua libação e lhes ofereceste uma oblação. Contentar-me-ia com estas coisas?
7 sobre um monte alto e levantado puseste a tua cama; e lá subiste para oferecer sacrifícios.
8 Detrás das portas e dos umbrais colocaste o teu memorial; pois te descobriste a outro que não a mim, e subiste, e alargaste a tua cama; e fizeste para ti um pacto com eles; amaste a sua cama, onde quer que a viste.
9 E foste ao rei com óleo, e multiplicaste os teus perfumes, e enviaste os teus embaixadores para longe, e te abateste até o Seol.
10 Na tua comprida viagem te cansaste; contudo não disseste: Não há esperança; achaste com que renovar as tuas forças; por isso não enfraqueceste.
11 Mas de quem tiveste receio ou medo, para que mentisses, e não te lembrasses de mim, nem te importasses? Não é porventura porque eu me calei, e isso há muito tempo, e não me temes?
12 Eu publicarei essa justiça tua; e quanto às tuas obras, elas não te aproveitarão.
13 Quando clamares, livrem-te os ídolos que ajuntaste; mas o vento a todos levará, e um assopro os arrebatará; mas o que confia em mim possuirá a terra, e herdarão o meu santo monte.
14 E dir-se-á: Aplanai, aplanai, preparai e caminho, tirai os tropeços do caminho do meu povo.
15 Porque assim diz o Alto e o Excelso, que habita na eternidade e cujo nome é santo: Num alto e santo lugar habito, e também com o contrito e humilde de espírito, para vivificar o espírito dos humildes, e para vivificar o coração dos contritos.
16 Pois eu não contenderei para sempre, nem continuamente ficarei irado; porque de mim procede o espírito, bem como o fôlego da vida que eu criei.
17 Por causa da iniqüidade da sua avareza me indignei e o feri; escondi-me, e indignei-me; mas, rebelando-se, ele seguiu o caminho do seu coração.
18 Tenho visto os seus caminhos, mas eu o sararei; também o guiarei, e tornarei a dar-lhe consolação, a ele e aos que o pranteiam.
19 Eu crio o fruto dos lábios; paz, paz, para o que está longe, e para o que está perto diz o Senhor; e eu o sararei.
20 Mas os ímpios são como o mar agitado; pois não pode estar quieto, e as suas águas lançam de si lama e lodo.
21 Não há paz para os ímpios, diz o meu Deus.
Isaías capítulo 57