Considerando que “Judá não voltou para Mim de todo o seu coração, mas fingidamente” (capítulo 3:10), o Senhor reclama pela sua submissão autêntica, e vida virtuosa. O resultado seria impressionante: "nele se bendirão as nações, e nele se gloriarão” (versículo 2), cumprindo a previsão anterior: "Naquele tempo chamarão a Jerusalém o trono do Senhor; e todas as nações se ajuntarão a ela, em nome do Senhor, a Jerusalém; e não mais andarão obstinadamente segundo o propósito do seu coração maligno” (capítulo 3:17). O apóstolo Paulo declarou: “Ora se o tropeço deles é a riqueza do mundo, e a sua diminuição a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude!” e “se a sua rejeição é a reconciliação do mundo, qual será a sua admissão, senão a vida dentre os mortos?” (Romanos 11:12 e 15). O Senhor Jesus declarou aos seus discípulos no chamado “sermão do monte”: “resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus“ (Mateus 5:16).
O reino de Judá foi testemunha do que aconteceu às dez tribos do norte de Israel (3:6-11), e informada das condições para que Israel fosse restaurada (3:12 a 4:2). Dirigindo-se a Judá, o Senhor exige profundo arrependimento, enfatizado pela palavra "coração" (versículos 4, 14 e 18) e conversão para evitar a Sua ira e punição.
Para isso aponta três medidas essenciais:
Lavrar seus campos não arados (versículo 3), ou fazer sulcos no seu solo duro. Havia uma crosta de resistência à palavra de Deus, e essa expressão é bem adequada para descrever um povo endurecido por noções mundanas e idólatras. O arado do arrependimento e obediência é necessário para amolecer essa crosta.
"Não semeiar entre espinhos" Seria inútil semear as sementes do arrependimento em solo inadequado, pela simples razão que as ervas daninhas e espinhos crescem mais rapidamente do que o grão e rapidamente vão sufocá-lo. A lição é ilustrada pelo Senhor Jesus: " Outra parte caiu entre os espinhos. Estes, ao crescer, sufocaram as plantas” (Mateus 13:7). Quem cai entre os espinhos é “aquele que ouve a Palavra, mas as preocupações desta vida e a sedução das riquezas sufocam a mensagem, tornando-a infrutífera” (Mateus 13:22). Isto constitui um aviso para o povo de Deus hoje que, no entanto, frequentemente lêm a palavra de Deus e ouvem o ensino dela, mas nada duradouro será realizado em suas vidas a não ser que "recebam humildemente a Palavra neles implantada” (Tiago 1:21).
"Circuncidar-se ao Senhor" (versículo 4). A circuncisão física é primeiramente mencionada em Gênesis 17, quando Deus prometeu um filho a Abraão e Sara. A remoção da carne pela circuncisão era um símbolo que Abraão não confiava em si próprio (a carne) mas punha toda a sua confiança em Deus, e passou a ser praticada pelos seus descendentes físicos, mas em muitos casos era mera formalidade. Para que realmente fosse efetiva, Moisés havia comandado “circuncidai, pois, o vosso coração espiritual, retirando toda a obstrução carnal, deixai de ser insubmissos e teimosos!” (Deuteronômio 10:16). Essa é a circuncisão espiritual “ao Senhor” comandada neste versículo, em que toda a obstrução carnal é retirada. Os crentes em Cristo até hoje levam em conta o significado espiritual da circuncisão: "Porquanto, nós é que somos a própria circuncisão, todos nós que adoramos pelo Espírito de Deus, que nos gloriamos em Cristo Jesus e não depositamos confiança alguma na carne.” (Filipenses 3:3). Chama-se "a circuncisão feita por Cristo, que é o despojar da carne pecaminosa” (Colossenses 2:11). Deus ainda exige a verdadeira fé e devoção do seu povo: “acheguemo-nos a Deus com um coração sincero e com absoluta certeza de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada, e os nossos corpos lavados com água pura.” (Hebreus 10:22)
A profecia que se segue prevê a rejeição do recurso aos "homens de Judá e de Jerusalém" dos dois versículos anteriores. A situação não é sem precedentes no Velho Testamento: Moisés disse a Israel, "Eu sei que depois da minha morte certamente vos corrompereis, e vos desviareis do caminho que vos ordenei; então este mal vos sobrevirá nos últimos dias...” (Deuteronômio 31:29). O restante do capítulo descreve a invasão da terra do reino de Judá, o cerco de Jerusalém, a devastação da terra e a dizimação da população. Tão certo é o castigo que Jeremias vê a iminente invasão como já ocorrendo.
O Senhor ordena a Jeremias que se faça a proclamação em Judá e Jerusalém, com trombeta e alta voz, ordenando o ajuntamento e a fuga dos habitantes do campo para as cidades fortificadas; que seja arvorado um estandarte no caminho para Sião (Jerusalém) e que busquem refúgio, sem demora, porque Ele (o Senhor) estava trazendo do norte uma grande destruição. Note-se que a invasão iminente não era nenhum capricho do destino, nem tinha algo a ver com as fortunas da guerra: era castigo vindo de Deus.
Em seu primeiro capítulo, Ezequiel aponta para o fato que a invasão vinda do Norte descrito por Jeremias estava sujeita ao trono de Deus. Ele controla a ascensão, queda e movimentos das nações. As palavras, "Eu trago do norte um mal do Norte, sim, uma grande destruição" (versículo 6) lembram as palavras do capítulo 1, versículos 13 e 14, "Vejo uma panela a ferver, que se apresenta da banda do norte. Ao que me disse o Senhor: Do norte se estenderá o mal sobre todos os habitantes da terra”. Jeremias faz várias referências ao invasor que vem do norte, como no capítulo 6:22, 10:22 e 13:20.
O Messias viria para aqueles que iriam retornar ao Senhor, e as nações seriam abençoadas nEle. Agora, porém, o Senhor adverte os homens de Judá e Jerusalém, novamente, exortando-os a serem contritos e jogarem fora seus ídolos. Caso contrário Deus enviará o destruidor de nações (Babilônia) como um leão subindo da sua ramada, um vento abrasador forte demais vindo dos altos escalvados no deserto, carros subindo como nuvens, como o redemoinho, e seus cavalos mais ligeiros do que as águias” (versículos 7, 11 a 13). O versículo 10 manifesta a incapacidade de Jeremias para reconciliar as promessas antigas do Senhor da paz com essas ameaças de julgamento. O profeta sabia que Deus é fiel, mas estava cometendo o erro de duvidar, na escuridão, do que ele sabia na luz. Em tempos de dificuldade e desânimo, há uma tendência a questionar as nossas certezas. Uma melhor solução para os cristãos é crer segundo a nossa fé e duvidar de nossas incertezas, ao invés de duvidar de nossas crenças e crer em nossas dúvidas.
Judá deve cingir-se de saco, lamentar e uivar por causa do castigo que está chegando, apressar-se a deixar as suas iniquidades porque os sinais de aflição já estão vindo de Dan e do monte Efraim no norte. Os invasores estão prontos para descer sobre Jerusalém por causa da maldosa iniquidade e rebelião de Judá (versículos 14 a 18).
O afeto do profeta pelo seu povo é expresso nos versículos 19-21: "Ó entranhas minhas, entranhas minhas! Eu me torço em dores! Paredes do meu coração! O meu coração se aflige em mim”. Ele está oprimido, quando percebe a aproximação da guerra, destruição sobre destruição e devastação. A pergunta no versículo 21: "Até quando verei o estandarte, e ouvirei a voz da trombeta?" é respondida pelo Senhor no versículo 22, onde Ele diz: "Toda a terra ficará assolada; de todo, porém, não a consumirei " (versículos 19 a 27).
Assim Jeremias descreve sua visão contemplatória da catástrofe, vindo com tudo incluído sobre Judá. O Senhor adverte que a desolação será completa, mas ainda não a consumiria totalmente. O propósito inalterável de Deus é de castigar a todos, e não será dissuadido pela beleza cosmética de Jerusalém ou pelo seu grito de angústia, como o de uma mulher que dá à luz seu primeiro filho (versículos 28 a 31).
3 Porque assim diz o Senhor aos homens de Judá e a Jerusalém: Lavrai o vosso terreno alqueivado, e não semeeis entre espinhos.
4 Circuncidai-vos ao Senhor, e tirai os prepúcios do vosso coração, ó homens de Judá e habitadores de Jerusalém, para que a minha indignação não venha a sair como fogo, e arda de modo que ninguém o possa apagar, por causa da maldade das vossas obras.
Disaster from the North
5 Anunciai em Judá, e publicai em Jerusalém; e dizei: Tocai a trombeta na terra; gritai em alta voz, dizendo: Ajuntai-vos, e entremos nas cidades fortificadas.
6 Arvorai um estandarte no caminho para Sião; buscai refúgio, não demoreis; porque eu trago do norte um mal, sim, uma grande destruição.
7 Subiu um leão da sua ramada, um destruidor de nações; ele já partiu, saiu do seu lugar para fazer da tua terra uma desolação, a fim de que as tuas cidades sejam assoladas, e ninguém habite nelas.
8 Por isso cingi-vos de saco, lamentai, e uivai, porque o ardor da ira do Senhor não se desviou de nós.
9 Naquele dia, diz o Senhor, desfalecerá o coração do rei e o coração dos príncipes; os sacerdotes pasmarão, e os profetas se maravilharão.
10 Então disse eu: Ah, Senhor Deus! verdadeiramente trouxeste grande ilusão a este povo e a Jerusalém, dizendo: Tereis paz; entretanto a espada penetra-lhe até a alma.
11 Naquele tempo se dirá a este povo e a Jerusalém: Um vento abrasador, vindo dos altos escalvados no deserto, aproxima-se da filha do meu povo, não para cirandar, nem para alimpar,
12 mas um vento forte demais para isto virá da minha parte; agora também pronunciarei eu juízos contra eles.
13 Eis que vem subindo como nuvens, como o redemoinho são os seus carros; os seus cavalos são mais ligeiros do que as águias. Ai de nós! pois estamos arruinados!
14 Lava o teu coração da maldade, ó Jerusalém, para que sejas salva; até quando permanecerão em ti os teus maus pensamentos?
15 Porque uma voz anuncia desde Dã, e proclama a calamidade desde o monte de Efraim.
16 Anunciai isto às nações; eis, proclamai contra Jerusalém que vigias vêm de uma terra remota; eles levantam a voz contra as cidades de Judá.
17 Como guardas de campo estão contra ela ao redor; porquanto ela se rebelou contra mim, diz o Senhor.
18 O teu caminho e as tuas obras te trouxeram essas coisas; essa e a tua iniquidade, e amargosa é, chegando até o coração.
Anguish over Judah's Desolation
19 Ah, entranhas minhas, entranhas minhas! Eu me torço em dores! Paredes do meu coração! O meu coração se aflige em mim. Não posso calar; porque tu, ó minha alma, ouviste o som da trombeta e o alarido da guerra.
20 Destruição sobre destruição se apregoa; porque já toda a terra está assolada; de repente são destruídas as minhas tendas, e as minhas cortinas num momento.
21 Até quando verei o estandarte, e ouvirei a voz da trombeta?
22 Deveras o meu povo é insensato, já me não conhece; são filhos obtusos, e não entendidos; são sábios para fazerem o mal, mas não sabem fazer o bem.
23 Observei a terra, e eis que era sem forma e vazia; também os céus, e não tinham a sua luz.
24 Observei os montes, e eis que estavam tremendo; e todos os outeiros estremeciam.
25 Observei e eis que não havia homem algum, e todas as aves do céu tinham fugido.
26 Vi também que a terra fértil era um deserto, e todas as suas cidades estavam derrubadas diante do Senhor, diante do furor da sua ira.
27 Pois assim diz o Senhor: Toda a terra ficará assolada; de todo, porém, não a consumirei.
28 Por isso lamentará a terra, e os céus em cima se enegrecerão; porquanto assim o disse eu, assim o propus, e não me arrependi, nem me desviarei disso.
29 Ao clamor dos cavaleiros e dos flecheiros fogem todas as cidades; entram pelas matas, e trepam pelos penhascos; todas as cidades ficam desamparadas, e já ninguém habita nelas.
30 Agora, pois, ó assolada, que farás? Embora te vistas de escarlate, e te adornes com enfeites de ouro, embora te pintes em volta dos olhos com antimônio, debalde te farias bela; os teus amantes te desprezam, e procuram tirar-te a vida.
31 Pois ouvi uma voz, como a de mulher que está de parto, a angústia como a de quem dá à luz o seu primeiro filho; a voz da filha de Sião, ofegante, que estende as mãos, dizendo: Ai de mim agora! porque a minha alma desfalece por causa dos assassinos.
Jeremias capítulo 4, versículos 3 a 31