Após o seu chamado, e o recebimento do seu encargo (capítulo 1), Jeremias começa agora seu ministério declarando as causas que Deus tem contra o Seu povo.
O Senhor o chama de "Meu povo" quatro vezes no capítulo 2, mas em cada uma o povo havia agido como se não fosse: "Meu povo trocou a sua glória por aquilo que é de nenhum proveito” (versículo 11), " o Meu povo fez duas maldades” (versículo 13); "Por que pois diz o Meu povo: Andamos à vontade; não tornaremos mais a Ti?" (versículo 31); "o Meu povo se esqueceu de Mim por inumeráveis dias" (versículo 32).
A expressão, "Meu povo", deve ser entendida em termos de amor mútuo entre a noiva e o noivo. Nesta causa contra o Seu povo, o Senhor declara que enquanto Ele tinha sido fiel ao povo, este fora infiel. Deixando seu primeiro amor por Ele (versículo 2) o povo favoreceu muitos amantes (versículo 20), e esqueceu a sua promessa (versículo 32). Não obstante, o Senhor conclui com um apelo para a retomada da relação de casamento (3:1).
Pecaminoso como era, o remanescente de Israel ainda continuava em aliança com Deus. Portanto Deus chamava o Seu povo: "Voltai, ó filhos pérfidos, diz o Senhor; porque eu sou como esposo para vós” (3:14). O amor de cônjuge de Deus para com o Seu povo é revelado em Oseias 11:8 “Como te deixaria, ó Efraim? Como te entregaria, ó Israel? Como te faria como Admá? Ou como Zeboim? Está comovido em Mim o Meu coração, as Minhas compaixões à uma se acendem.” Em antecipação à libertação final e bênção do remanescente futuro de Israel, o apóstolo Paulo observa, "Quanto ao evangelho, eles na verdade, são inimigos por causa de vós; mas, quanto à eleição, amados por causa dos pais. Porque os dons e a vocação de Deus são irretratáveis." (Romanos 11:28-29).
É muito significativo que o ministério de Jeremias tenha começado assim. Como crentes no Senhor Jesus, o Filho de Deus, nunca devemos esquecer que, se nosso amor a Deus declinar, ficamos vulneráveis a todo o mal. A deterioração descrita por Malaquias começa na dúvida: "Eu vos tenho amado, diz o Senhor. Mas vós dizeis: Em que nos tens amado?” (Malaquias 1:2).
Essa matéria compreende quatro pontos principais:
1. A correspondência inicial de Israel ao amor a Deus – versículos 1 a 3
O Senhor lembra a promessa e a prova da fidelidade inicial de Israel: " Eu me recordo bem do teu profundo e leal amor como minha noiva nos tempos da tua juventude; como recém-casados, estavas apaixonada por mim e me seguias pelo deserto, por terras áridas e ainda não semeadas” (versículo 2). A palavra hebraica traduzida "profundo e leal amor” (chesed) é muitas vezes traduzida como "benignidade", bem como "bondade" denotando um amor misericordioso, condescendente e altruista. Aqui é o da noiva amorosa que se apega ao seu noivo amado, referindo-se à devoção de Israel a Deus, no período imediatamente após a libertação do Egito até a chegada no Sinai.
Este foi o período de noivado, seguido pela aceitação da Aliança no Sinai. Seu amor ao Senhor foi manifestado quando O seguia "pelo deserto, por terras áridas e ainda não semeadas". Afinal de contas, a “terra deserta e um erma de solidão e horrendos uivos” (Deuteronômio 32:10) não fornecia nenhum incentivo. Nada tinha para oferecer. O povo encontrava-se totalmente dependente do Senhor quando O amou mais intensamente.
Realmente a vida espiritual estará num baixo nível se a devoção a Deus depender de bênçãos materiais. Outro profeta declarou: “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto nas vides; ainda que falhe o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que o rebanho seja exterminado da malhada e nos currais não haja gado; todavia eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação” (Habacuque 3:17,18).
Infelizmente, o povo sobre quem o Senhor disse “do amor... de como me seguiste no deserto” (versículo 2) estava agora dizendo “Não há esperança; porque tenho amado os estranhos, e após eles andarei” (versículo 25). Isto nos lembra a acusação do Senhor Jesus contra a igreja de Éfeso, onde havia tanto para elogiar, mas ela tinha se tornado uma concha vazia: "Tenho, porém contra ti que deixaste o teu primeiro amor”. O problema era tão grave, que o Senhor Jesus continuou: " Lembra-te, pois, donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; e se não, brevemente virei a ti, e removerei do seu lugar o teu candeeiro, se não te arrependeres” (Apocalipse 2:4 e 5). A igreja que perde seu amor a Cristo, perde sua razão de existir.
A devoção de Israel os fez um povo santo: "Então Israel era santo para o Senhor, primícias da sua novidade" (versículo 3). É importante lembrar que a santidade não é fria e sem sentimentos. É marcada por um amor ao Senhor, que exclui qualquer rivalidade, e isso é confirmado pelas palavras, "primícias da sua novidade". Tiago nos lembra que os crentes também são "como que primícias das suas criaturas” (Tiago 1:18).
As primícias (primeiros frutos da colheita) são todas para o Senhor, e como a "porção do Senhor é o Seu povo" (Deuteronômio 32:9), ninguém mais poderá comê-la com impunidade: "todos os que o devoravam eram tidos como culpados; o mal vinha sobre eles, diz o Senhor". Isto é sublinhado nos versículos 6 e 7, que lembram sua libertação do Egito, sua orientação através do deserto e seu descanso em Canaã, todos os três dados pelo Senhor. Infelizmente, deve ser notado que embora declarasse que "Israel era santo para o Senhor" (versículo 3) , Deus também foi obrigado a dizer, "a mancha da tua iniquidade está diante de mim" (versículo 22).
2. A recusa do amor do Senhor (versículos 4 a 8)
Esta seção trata da injustiça (versículo 5), ingratidão (versículos 6 e 7), ignorância e idolatria (versículo 8) do povo de Israel.
Sua admirável devoção inicial tinha se apagado: "Que injustiça acharam em mim vossos pais, para se afastarem de mim, indo após a vaidade, e tornando-se levianos?" (versículo 5). A expressão, "indo após a vaidade", refere-se à idolatria (veja em 8:9, 10:15, etc). É uma descrição adequada, tendo em conta o fato que os ídolos representam o que realmente não existe: “sabemos que o ídolo nada é no mundo, e que não há outro O Senhor, senão um só” (1 Coríntios 8:4).
É impressionante o entendimento que a apostasia de Israel teria implicado em alguma falha da parte do Senhor. A profecia de Miqueias contém a mesma pergunta: "ó povo meu, que é que te tenho feito? E em que te enfadei? Testifica contra mim" (Miqueias 6:3). Esse retrocesso implica em dúvida e desconfiança; é uma comprovada afronta ao Senhor com Seu amor e fidelidade. Como já fora observado, Ele os livrara do Egito, guiou-os através do deserto e os introduziu "numa terra abundante" (versículo 7). O Senhor não tinha sido "um deserto para Israel" (versículo 31), mas foi obrigado a declarar: "contaminastes a minha terra, e da minha herança fizestes uma abominação” (versículo 7).
No versículo 8 é feita uma referência específica aos sacerdotes, aos levitas, aos governadores e aos profetas. Vejamos a parte que toca a cada um destes:
Os sacerdotes - Estes eram os intermediários entre o povo e o Senhor, mas falharam pois perderam o seu contato com o Senhor e nem se interessavam em procurá-lo: “Os sacerdotes não disseram: Onde está o Senhor?” Em Malaquias 2:7 lemos: “os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens procurar a instrução, porque ele é o mensageiro do Senhor dos exércitos”. Em resultado da sua situação de afastamento do Senhor, os sacerdotes usavam sua própria autoridade para dominar o povo. Essa situação altamente prejudicial continua a prevalecer nas instituições religiosas, que se dizem cristãs, mas que estabeleceram hierarquias sacerdotais estranhas ao espírito do Novo Testamento, e não é raro acontecer também em grandes congregações cristãs.
Os levitas – eram os que “tratavam da lei”, cuidadosamente preservando e copiando minuciosamente seus livros, e ensinando os seus preceitos ao povo. Mas eles não conheceram o Senhor – cuidavam da letra, mas não conheciam o seu Autor. Ainda é infelizmente possível conhecer a palavra do Senhor, mas não conhecer o Senhor. Todo pregador deve ser solenemente advertido. Professores e pregadores não devem se tornar "líderes cegos dos cegos". A instrução para o povo do Senhor só pode ser eficaz quando flui da comunhão sacerdotal com O Senhor. Não só os pregadores do Evangelho e mestres da Bíblia, mas todos os crentes devem atuar como sacerdotes, prestando seu culto a Deus, edificando uns aos outros e proclamando o Evangelho de Cristo aos perdidos. Paulo se descreve como "ministro de Cristo Jesus entre os gentios, ministrando o evangelho de Deus, para que sejam aceitáveis os gentios como oferta, santificada pelo Espírito Santo (Romanos 15:16)”. As palavras "ministro" (gr. leitourgos) e "administrador" (gr. leitourgeo) referem-se ao seu ministério evangélico, cumprido como serviam os sacerdotes do antigo testamento.
Os governadores - estes eram os homens que deviam cuidar das pessoas, mas falharam: "os governadores prevaricaram contra mim”. Temos mais referências à sua falha nos capítulos 10:21, 12:10 e 23:1 e 2. Eles são severamente censurados em Ezequiel 34:2: "Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não devem os pastores apascentar as ovelhas?” Quando voltar à sua terra, o remanescente de Israel irá desfrutar do ministério de "pastores segundo o Meu coração, os quais vos apascentarão com ciência e com inteligência" (versículo 15). O Senhor ama o trabalho de pastor. Ele é investido com o mais alto caráter possível nas Escrituras. Temos apenas de pensar no pastoreio do próprio Senhor Jesus (Isaías 40:11, João 10:11, Hebreus 13:20, 1 Pedro 5:4) e de cada ancião de uma igreja. Lembremos, portanto, a importância do seu trabalho para O Senhor. É muito bem resumido nas palavras, "cuidar da igreja de Deus" (1 Timóteo 3:5), onde a expressão "cuidar" é melhor ilustrada pelas ministrações caridosas do “bom samaritano” (Lucas 10:33-35).
Os profetas - Estes eram os homens através de quem O Senhor continuava a falar ao Seu povo, mas também falhavam: "os profetas profetizaram por Baal, e andaram após o que é de nenhum proveito" (versículo 8). A expressão " andaram após o que é de nenhum proveito", como a expressão "indo após a vaidade” (versículo 5), refere-se à idolatria (versículo 11). Em Habacuque 2:18 temos a pergunta: "que aproveita a imagem esculpida, tendo-a esculpido o seu artífice? A imagem de fundição, que ensina a mentira?" (Habacuque 2:18). O verdadeiro profeta "esteve no concílio do Senhor, para que percebesse e ouvisse a Sua palavra " (Jeremias 23:18). Paulo tem conselhos semelhantes para o profeta do novo testamento e para todos os professores da Bíblia também: "Se alguém se considera profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor” (1 Coríntios 14:37).
3. A acusação do Senhor (versículos 9 a 13)
"Portanto ainda contenderei convosco, diz o Senhor; e até com os filhos de vossos filhos contenderei" (versículo 9). Tendo mostrado claramente a profunda ingratidão da nação, o Senhor agora apresenta duas acusações contra ela:
Israel deixara o Senhor, o manancial de águas vivas (versículo 13a) -
Israel havia trocado o Deus verdadeiro, sua “glória”, por deuses inexistentes, “aquilo que é de nenhum proveito”. Isto era coisa unaudita entre os povos idólatras, como os das ilhas de "Quitim" (Chipre) e "Quedar" (versículo 10) bem como entre os árabes do deserto: todos permaneciam fieis aos seus ídolos e não os trocavam pelos “deuses” dos outros, mesmo sendo todos falsos.
A expressão "seus deuses", uma descrição irônica dos ídolos, ocorre em Gálatas 4:8 com respeito aos idólatras que se converteram a Cristo “outrora, quando não conhecíeis a Deus, servíeis aos que por natureza não são deuses; agora, porém, que já conheceis a Deus, ou, melhor, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?".
Israel também havia sido libertada do Egito. Sua idolatria, em particular aos deuses do Egito e da Assíria (versículo 18), tinha sido substituída pela adoração ao verdadeiro Deus. Agora, no entanto, "meu povo trocou a sua glória por aquilo que é de nenhum proveito". Esta foi a troca a mais prejudicial imaginável. A expressão, "sua glória", refere-se ao próprio Senhor: "Fizeram um bezerro em Horebe, e adoraram uma imagem de fundição. Assim trocaram a sua glória pela figura de um boi que come erva." (Salmo 106:19,20). Ele é chamado "O Deus de glória" (Atos 7:2). Paulo se refere aos privilégios de Israel: "os quais são israelitas, de quem é a adoção, e a glória”. Os céus são testemunhas horrorizadas da rendição de Israel da glória para a vergonha.
Séculos mais tarde, esses mesmos céus testemunharam o inverso: Paulo escreve aos Tessalonicenses, "... como vos convertestes dos ídolos a Deus, para servirdes ao Deus vivo e verdadeiro”(1 Tessalonicenses 1:9).
4. Os resultados do crime de Israel (versículos 14 a 19)
Israel tornou-se um escravo: "Acaso é Israel um servo? E ele um escravo nascido em casa? Por que, pois, veio a ser presa?” (versículo 14).
“Os leões novos rugiram... fizeram da terra dele uma desolação; as suas cidades se queimaram, e ninguém habita nelas - ” Os "leões" (versículo 15) são os assírios, que conquistaram e deportaram as dez tribos do reino do norte em 721 a.c. (2 Reis 17) e invadiram o remanescente reino de Judá (Isaías 10).
“Até os filhos de Mênfis e de Tapanes te quebraram o alto da cabeça” - são os egípcios. Mênfis era a capital do baixo Egito, e Tapanes localizava-se na fronteira nordeste do Egito. Encontramos mais referências a essas duas cidades nos capítulos 43 e 44. A referência ao Egito não é tão facilmente explicada como a referência à Assíria. As opiniões variam entre a expedição de Faraó Neco contra os assírios e sua continuação (2 Reis 23:29-35, 2 Crônicas 36-3-4), e ao tempo em que Deus advertiou contra a aliança com o Egito (Isaías 30 e 31).
Nos versículos 17 a 19 o Senhor se refere a três "caminhos":
- O Seu caminho - "Porventura não trouxeste isso sobre ti mesmo, deixando o Senhor teu Deus no tempo em que ele te guiava pelo caminho?". Mas os judeus tinham esquecido as lições do "caminho de Deus" e procuraram as "cisternas rotas" do versículo 13:
- O " caminho do Egito", referindo-se ao rio Nilo no Egito: "Sior" traduz-se "Rio Negro", assim chamado pela incidência de terra preta na água do rio após a inundação anual.
- O "caminho da Assíria" (versículo 18). "As águas do Rio" dizem respeito ao rio Eufrates na Assíria.
O reino de Israel (as dez tribos do norte, também chamadas Efraim nas profecias) se arruinou com suas alianças com os reinos do Egito e Assíria (veja Oseias 7:8,11, 9:3) pois teve que se sujeitar a eles.
Os crentes que procurarem favores do mundo, não deverão se surpreender se o mundo vier a domina-los. No caso do Egito, Israel voltou a se submeter ao jugo do poder do qual havia sido originalmente liberto. Infelizmente, isso acontece com demasiada frequência entre os filhos de Deus. A conclusão é dada no versículo 19: " A tua malícia te castigará, e as tuas apostasias te repreenderão...”
5. A obsessão de Israel com ídolos (versículos 20 a 28)
A obsessão do povo de Israel com ídolos trouxe a sua degeneração. Na verdade, já havia muito tempo desde que, por decisão própria, deixaram de servir ao Senhor e se prostituiram com a idolatria perversa dos outros povos.
A idolatria aqui é descrita como imoralidade, mas embora se possa entender nesta oportunidade que se trata de linguagem figurada, a idolatria e a imoralidade realmente estão intimamente ligadas na prática. Vê-se isto, por exemplo, por ocasião da volta de Moisés com as tábuas da lei no monte Sinai, quando encontrou o povo em plena idolatria e alguns se prostituiram (1 Coríntios 10:7-8). Tiago se refere à imoralidade espiritual da seguinte maneira: "adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus" (Tiago 4:4 NVI). Deus tinha plantado o reino de Judá como “uma vide excelente" (v.21), referindo-se à que produz uvas roxas de alta qualidade. A sua origem era uma “semente inteiramente fiel” lembrando sua ascendência de Abraão, mas para o Senhor esse povo se tornara em "uma planta degenerada de uma videira estranha" ao Senhor. Sua iniquidade a sujou tanto que, por mais que se esforçasse, não podia se limpar na presença do Senhor Deus.
Mesmo que negasse essas acusações, o fato incontestável era que esse povo estava sendo inteiramente governado por atividades idólatras. Sua procura de prazeres ilícitos era insaciável, perseguindo sempre novos objetos de adoração. Fora-se a modéstia e auto-controle, na procura de ídolos. Jeremias implora que não corram com os pés descalços nem suas gargantas secas em sua luxúria por deuses estranhos (versículo 25). Mas eles respondem que estão decididos a fazê-lo, apesar das advertências de Deus. Judá recusou definitivamente por um fim à sua idolatria.
A idolatria trouxe a desilusão a Judá (versículos 26 a 28). A insensatez absoluta de adorar "a criatura mais do que o criador" (Romanos 1:25) é especialmente evidente quando surgem os problemas: "... voltaram para Mim as costas e não o rosto mas na hora da adversidade dizem: ‘Vem salvar-nos!’” (versículo 27 NVI). Os seus deuses são inúteis: um toco de árvore, um pilar de pedra, símbolos do culto da deusa da fertilidade cananita, Asera. Deus nunca deve ser usado como um talismã. O povo de Deus não pode contar com Sua ajuda em uma emergência, quando vive habitualmente sem se lembrar dEle.
6. A reclamação do povo de Judá contra Deus (versículos 29 a 37)
Depois de transgredir tanto contra o Senhor, o povo agora faz denúncias infundadas contra Ele. Seu clamor é rejeitado porque:
Recusou corrigir-se quando foi castigado, e
Como um leão devorador matou os servos do Senhor enviados para castigá-lo com vista à restauração (versículo 30 - veja Mateus 22:6).
Rejeitou a Sua autoridade (versículo 31).
Esqueceu já por dias inumeráveis o amor que o Senhor revelara por ele (versículo 32). O Senhor se lembrava do amor que revelara naquele tempo, mas não o povo, que sofregamente agora andava à roda procurando outros ídolos para com eles satisfazer seus desejos, tanto que mesmo as mulheres da pior espécie aprenderam com o seu procedimento (versículo 33).
Cometeu o assassínio “de pobres inocentes que não foram flagrados arrombando casas” (versículo 34 NVI). Não se dão exemplos, mas entende-se que pobres pessoas inocentes eram mortas indiscriminadamente com os criminosos por se encontrarem no mesmo local (2 Reis 24:4).
Apesar disso, o povo de Judá declarava que era inocente e que o Senhor não estava irado com ele. Mas será castigado por dizer que não pecou (versículo 35).
Judá não conseguiu aprender com os erros do passado: quando o rei Acaz foi perturbado por incursões dos edomitas e pela invasão dos filisteus, ele enviou mensageiros "para os reis da Assíria, para ajudá-lo". Tiglate-Pileser atendeu, mas isso revelou-se desastroso. O rei assírio "o pôs em aperto, em vez de fortalecê-lo. Pois Acaz saqueou a casa do Senhor, e a casa do rei, e dos príncipes, e deu os despojos por tributo ao rei da Assíria; porém isso não o ajudou” (2 Crônicas 28:16, 20-21).
A confiança no Egito produziu o mesmo resultado que a confiança na Assíria. "Por que te desvias tanto, mudando o teu caminho? Também pelo Egito serás envergonhada, como já foste envergonhada pela Assíria" (versículo 36). O Egito falharia em ajudá-los, e os detalhes são dados no capítulo 37, versículos 5 a 8. O Senhor descreve sua calamidade próxima graficamente, e deixa claro que isso não poderia ser explicado pelas fortunas da guerra: "Também deixarás aquele lugar com as mãos na cabeça, pois o Senhor rejeitou aqueles em quem confiastes; não receberás a ajuda deles" (versículo 37 NVI). A lição se repete: "a amizade do mundo é inimizade contra Deus" (Tiago 4:4). A prosperidade se encontra na feliz obediência à palavra de Deus.
(Continua no capítulo seguinte).
Jeremias capítulo 2
1 Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:
2 Vai, e clama aos ouvidos de Jerusalém, dizendo: Assim diz o Senhor: Lembro-me, a favor de ti, da devoção da tua mocidade, do amor dos teus desposórios, de como me seguiste no deserto, numa terra não semeada.
3 Então Israel era santo para o Senhor, primícias da sua novidade; todos os que o devoravam eram tidos por culpados; o mal vinha sobre eles, diz o Senhor.
4 Ouvi a palavra do Senhor, ó casa de Jacó, e todas as famílias da casa de Israel;
5 assim diz o Senhor: Que injustiça acharam em mim vossos pais, para se afastarem de mim, indo após a vaidade, e tornando-se levianos?
6 Eles não perguntaram: Onde está o Senhor, que nos fez subir da terra do Egito? que nos enviou através do deserto, por uma terra de charnecas e de covas, por uma terra de sequidão e densas trevas, por uma terra em que ninguém transitava, nem morava?
7 E eu vos introduzi numa terra fértil, para comerdes o seu fruto e o seu bem; mas quando nela entrastes, contaminastes a minha terra, e da minha herança fizestes uma abominação.
8 Os sacerdotes não disseram: Onde está o Senhor? E os que tratavam da lei não me conheceram, e os governadores prevaricaram contra mim, e os profetas profetizaram por Baal, e andaram após o que é de nenhum proveito.
9 Portanto ainda contenderei convosco, diz o Senhor; e até com os filhos de vossos filhos contenderei.
10 Pois passai às ilhas de Quitim, e vede; enviai a Quedar, e atentai bem; vede se jamais sucedeu coisa semelhante.
11 Acaso trocou alguma nação os seus deuses, que contudo não são deuses? Mas o meu povo trocou a sua glória por aquilo que é de nenhum proveito.
12 Espantai-vos disto, ó céus, e horrorizai-vos! ficai verdadeiramente desolados, diz o Senhor.
13 Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram para si cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas.
14 Acaso é Israel um servo? E ele um escravo nascido em casa? Por que, pois, veio a ser presa?
15 Os leões novos rugiram sobre ele, e levantaram a sua voz; e fizeram da terra dele uma desolação; as suas cidades se queimaram, e ninguém habita nelas.
16 Até os filhos de Mênfis e de Tapanes te quebraram o alto da cabeça.
17 Porventura não trouxeste isso sobre ti mesmo, deixando o Senhor teu Deus no tempo em que ele te guiava pelo caminho?
18 Agora, pois, que te importa a ti o caminho do Egito, para beberes as águas do Nilo? e que te importa a ti o caminho da Assíria, para beberes as águas do Eufrates?
19 A tua malícia te castigará, e as tuas apostasias te repreenderão; sabe, pois, e vê, que má e amarga coisa é o teres deixado o Senhor teu Deus, e o não haver em ti o temor de mim, diz o Senhor Deus dos exércitos.
20 Já há muito quebraste o teu jugo, e rompeste as tuas ataduras, e disseste: Não servirei: Pois em todo outeiro alto e debaixo de toda árvore frondosa te deitaste, fazendo-te prostituta.
21 Todavia eu mesmo te plantei como vide excelente, uma semente inteiramente fiel; como, pois, te tornaste para mim uma planta degenerada, de vida estranha?
22 Pelo que, ainda que te laves com salitre, e uses muito sabão, a mancha da tua iniqüidade está diante de mim, diz o Senhor Deus.
23 Como dizes logo: Não estou contaminada nem andei após Baal? Vê o teu caminho no vale, conhece o que fizeste; dromedária ligeira és, que anda torcendo os seus caminhos;
24 asna selvagem acostumada ao deserto e que no ardor do cio sorve o vento; quem lhe pode impedir o desejo? Dos que a buscarem, nenhum precisa cansar-se; pois no mês dela, achá-la-ão.
25 Evita que o teu pé ande descalço, e que a tua garganta tenha sede. Mas tu dizes: Não há esperança; porque tenho amado os estranhos, e após eles andarei.
26 Como fica confundido o ladrão quando o apanham, assim se confundem os da casa de Israel; eles, os seus reis, os seus príncipes, e os seus sacerdotes, e os seus profetas,
27 que dizem ao pau: Tu és meu pai; e à pedra: Tu me geraste. Porque me viraram as costas, e não o rosto; mas no tempo do seu aperto dir-me-ão: Levanta-te, e salvamos.
28 Mas onde estão os teus deuses que fizeste para ti? Que se levantem eles, se te podem livrar no tempo da tua tribulação; porque os teus deuses, ó Judá, são tão numerosos como as tuas cidades.
29 Por que disputais comigo? Todos vós transgredistes contra mim diz o Senhor.
30 Em vão castiguei os vossos filhos; eles não aceitaram a correção; a vossa espada devorou os vossos profetas como um leão destruidor.
31 ó geração, considerai vós a palavra do Senhor: Porventura tenho eu sido para Israel um deserto? ou uma terra de espessa escuridão? Por que pois diz o meu povo: Andamos à vontade; não tornaremos mais a ti?
32 Porventura esquece-se a virgem dos seus enfeites, ou a esposa dos seus cendais? todavia o meu povo se esqueceu de mim por inumeráveis dias.
33 Como ornamentas o teu caminho, para buscares o amor! de sorte que até às malignas ensinaste os teus caminhos.
34 Até nas orlas dos teus vestidos se achou o sangue dos pobres inocentes; e não foi no lugar do arrombamento que os achaste; mas apesar de todas estas coisas,
35 ainda dizes: Eu sou inocente; certamente a sua ira se desviou de mim. Eis que entrarei em juízo contigo, porquanto dizes: Não pequei.
36 Por que te desvias tanto, mudando o teu caminho? Também pelo Egito serás envergonhada, como já foste envergonhada pela Assíria.
Jer 2:37 Também daquele sairás com as mãos sobre a tua cabeça; porque o Senhor rejeitou as tuas confianças, e não prosperarás com elas.
Jeremias capíitulo 2