Capítulo 8 - versículos 1 a 7
Tendo informado no capítulo anterior que, após o massacre que se aproxima em Jerusalém, "os cadáveres deste povo servirão de pasto às aves do céu e aos animais da terra; e ninguém os enxotará”, Jeremias declara agora que aquele derramamento de sangue terrível não será suficiente para o invasor: mesmo os restos dos habitantes enterrados ao longo dos anos em Jerusalém seriam desenterrados.
Longe de ser um simples capricho do destino ou parte dos infortúnios da guerra, esta ação será parte do julgamento divino, e as razões são dadas na medida em que o capítulo prossegue. Com isso em mente, ele pode ser dividido como segue.
O insulto aos mortos (versículos 1 a 3)
As sepulturas eram comumente abertas por ladrões, particularmente as das classes governantes do Egito e da Babilônia, para roubar artigos de valor que eram sepultados com os mortos mais ricos. Neste caso, porém, parece que o invasor desejava impor a mais completa humilhação sobre os habitantes de Jerusalém, e seu último insulto foi a profanação das sepulturas. Os ossos dos reis e príncipes, dos sacerdotes e profetas, não seriam tratados melhor do que os ossos das pessoas em geral.
Foi mais uma demonstração da loucura da idolatria: os ossos daqueles que adoravam o sol, a lua e as estrelas seriam exumados pelos babilônios e exibidos a estes supostos deuses dos céus, a quem em vida amaram, serviram, seguiram, buscaram e adoraram, e seriam usados como fertilizantes na terra. Os vivos sobreviventes dessa raça maligna iriam sofrer tanto que prefeririam morrer. A linguagem dos versículos é irônica: as “divindades” astrais, que o povo de Judá amou tão pecaminosamente, veriam os despojos dos seus antigos adoradores sendo profanados.
Ao contrário daqueles que caem e se levantam novamente, que pecam e se arrependem, Judá recusou voltar para o Senhor. Em relação à lei, o povo era pior do que os pássaros que obedecem às leis de migração estabelecidas para eles: “será escolhida antes a morte do que a vida por todos os que restarem desta raça maligna, que ficarem em todos os lugares onde os lancei, diz o Senhor dos exércitos” (versículo 3). Isso tinha sido previsto séculos antes: " quanto aos que de vós ficarem, eu lhes meterei pavor no coração nas terras dos seus inimigos... e os que de vós ficarem definharão pela sua iniquidade nas terras dos vossos inimigos” (Levítico 26:36,39) e, “a tua vida estará como em suspenso diante de ti; e estremecerás de noite e de dia, e não terás segurança da tua própria vida” (Deuteronômio 28:66).
Os sobreviventes da carnificina em Jerusalém iriam provar o inerrância da palavra de Deus, fazendo com que pelo menos alguns deles digam, "Assim como o Senhor dos exércitos fez tenção de nos tratar, segundo os nossos caminhos, e segundo as nossas obras, assim Ele nos tratou” (Zacarias 1:6). Um dia o desejo de morrer será generalizado pelo mundo: “Naqueles dias os homens buscarão a morte, e de modo algum a acharão; e desejarão morrer, e a morte fugirá deles” (Apocalipse 9:6): a rebelião contra Deus e o desprezo por Sua palavra sempre trazem uma colheita amarga.
Apostasia (versículos 4 a 7)
Nestes versículos deve-se notar o que os homens fazem (4-6) e o que os pássaros fazem (7) onde temos a conclusão: as aves "observam o tempo da sua migração. Mas o meu povo não conhece as exigências do Senhor” (versículo 7 NVI).
O Senhor pergunta se quando os homens caem, eles não se levantam mais, e se alguém se desvia do caminho, não retorna a ele. A resposta certa seria “sim”. Mas, pergunta Ele em seguida, porque é que este povo se desviou e Jerusalém persiste em desviar-se? E esclarece que é porque se apegou ao engano e se recusa a voltar (versículo 5). Sua conduta foi deliberada. Não fosse a intervenção divina, todos os homens seriam dominados pelo mal desta forma, mas ao povo do Senhor pode-se dizer como o apóstolo Paulo, "graças a Deus que, embora tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues; e libertos do pecado, fostes feitos servos da justiça.” (Romanos 6:17,18).
Infelizmente, não era assim que acontecia com Judá e Jerusalém: o Senhor escutou e ouviu, concluindo que mentiam, e ninguém se arrependia da sua maldade, todos seguindo “o que parecia bem em seus olhos” (Juízes 21:25), “como um cavalo que arremete com ímpeto na batalha” (versículo 6). Os instintos do cavalo fazem com que obedeça ao seu líder, mesmo com sacrifício próprio. Era por isso muito usado nas batalhas, pois era capaz de arremeter com ímpeto mesmo nas circunstâncias mais adversas.
Os animais e aves são dirigidos por instintos neles gravados pelo Criador, inexplicáveis para nós, mas essenciais para a sua sobrevivência no ambiente em que vivem. Aqui o Senhor usa alguns exemplos: a cegonha, a rola, a pomba e a andorinha que migram por grandes distâncias anualmente, para declarar que elas conhecem os seus tempos determinados, mas Judá não conhece a Sua ordenança. Cerca de 150 anos antes, o Senhor havia dito: "O boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende” (Isaías 1:3). O povo do Senhor tinha afundado abaixo do nível de conhecimento dos animais.
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1 Naquele tempo, diz o Senhor, tirarão para fora das suas sepulturas os ossos dos reis de Judá, e os ossos dos seus príncipes, e os ossos dos sacerdotes, e os ossos dos profetas, e os ossos dos habitantes de Jerusalém;
2 e serão expostos ao sol, e à lua, e a todo o exército do céu, a quem eles amaram, e a quem serviram , e após quem andaram, e a quem buscaram, e a quem adoraram; não serão recolhidos nem sepultados; serão como esterco sobre a face da terra.
3 E será escolhida antes a morte do que a vida por todos os que restarem desta raça maligna, que ficarem em todos os lugares onde os lancei, diz o senhor dos exércitos.
4 Dize-lhes mais: Assim diz o Senhor: porventura cairão os homens, e não se levantarão? desviar-se-ão, e não voltarão?
5 Por que, pois, se desvia este povo de Jerusalém com uma apostasia contínua? ele retém o engano, recusa-se a voltar.
6 Eu escutei e ouvi; não falam o que é reto; ninguém há que se arrependa da sua maldade, dizendo: Que fiz eu? Cada um se desvia na sua carreira, como um cavalo que arremete com ímpeto na batalha.
7 Até a cegonha no céu conhece os seus tempos determinados; e a rola, a andorinha, e o grou observam o tempo da sua arribação; mas o meu povo não conhece a ordenança do Senhor.
Jeremias capítulo 8, versículos 1 a 7