Capítulo 7 - versículos 17 a 34
A prática da idolatria – versículos 17 a 20
"Não vês tu o que eles andam fazendo nas cidades de Judá, e nas ruas de Jerusalém? Os filhos apanham a lenha, e os pais acendem o fogo, e as mulheres amassam a farinha para fazerem bolos à rainha do céu, e oferecem libações a outros deuses, a fim de me provocarem à ira" (versículos 17 e 18). O termo "rainha do céu" também é encontrado no capítulo 44:17-19,25 e parece que esta deusa era cultuada especialmente por mulheres. Alguns comentaristas julgam se tratar da lua por ser mencionada junto com o “exército dos céus” referindo-se às estrelas. No entanto, é mais provável que se trate de Astarote (2 Reis 23:13), uma deusa semítica que era a “abominação dos sidônios” cujos altos Salomão havia edificado e foram profanados pelo rei Josias nos tempos de Jeremias, possivelmente em consequência desta profecia.
Astarote era a deusa Astarte da mitologia babilônica e assíria, conhecida também pelo nome de Astorete pelos fenícios e os sidônios, pelo nome de Afrodite pelos gregos e pelo nome de Vênus pelos romanos. O culto desta “rainha dos céus”, ou a deusa-mãe de Baal, foi um costume antigo praticado através do Oriente em várias formas e com vários nomes, mas da mesma natureza. Em alguns países, ela foi considerada como a divindade lunar e os bolos que faziam parte do ato de adoração eram redondos e se assemelhavam à lua. Isto tem um significado especial hoje: em 1950, o Papa Pio XII proclamou o Dogma da Assunção, elevando Maria a uma posição divina, tornando-se necessário para os fiéis acreditar que, após a morte, Maria subiu corporalmente ao céu. Em 1954, a encíclica anunciando o Ano Mariano foi mais longe e proclamou que essa suposição tinha sido seguida por uma coroação: Maria tinha sido coroada e entronizada como "Rainha dos céus". Vemos assim que a adoração de uma mulher não é nenhum conceito novo e que está enraizado no paganismo antigo. Isto nos lembra que o falso sistema religioso é simbolizado por uma mulher em Apocalipse 17, e ela dirá em seu coração “estou assentada como rainha” (Apocalipse 18:7).
O julgamento sobre Judá, portanto, era inevitável: "Acaso é a mim que eles provocam à ira? diz o Senhor; não se provocam a si mesmos, para a sua própria confusão?“ O Senhor via que o povo O colocava à parte, desdenhosamente, e cultuava os seus ídolos como desafio ao Seu poder, trazendo sobre si próprios o castigo e a confusão.
O castigo resultante da ira e do furor do Senhor era dramático e insustentável por aquele povo: cairia sobre o lugar onde estavam, atingindo homens, animais e todas as plantas de forma permanente. A idolatria tinha sido uma declaração deliberada de rebelião contra Deus, mas estavam muito errados em pensar que poderiam perturbar a paz da mente de Deus, fazê-lo sentir-se infeliz, desolado, por causa das transgressões intencionais do Seu mandamento (como aconteceria a um ser humano).
A rejeição dos sacrifícios – versículos 21 a 28
O Senhor dos exércitos, o Deus de Israel ordena ao povo de Judá que juntem suas ofertas queimadas aos sacrifícios e comam a carne pois Ele não quer mais nada disso. De acordo com o capítulo 1 de Levítico a oferta queimada era inteiramente para o Senhor, mas Ele não queria nada agora. O povo poderia servir-se dela, pois não passava de mera carne.
O Senhor já havia exclamado através de Isaías cerca de um século antes: “Estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes” (Isaías 1:11). Nada havia mudado no final do Velho Testamento: "Oxalá que entre vós houvesse até um que fechasse as portas para que não acendesse debalde o fogo do meu altar!" (Malaquias 1:10). Como disse o sábio Salomão: "Fazer justiça e julgar com retidão é mais aceitável ao Senhor do que oferecer-lhe sacrifício” (Provérbios 21:3).
A rejeição dos sacrifícios, embora fossem parte da lei do Senhor, surgiu do fato de serem feitos por pessoas que tinham pouco ou nenhum desejo de obedecer a palavra de Deus, e que tinham convenientemente esquecido que Ele ordenara a obediência antes de comandar os sacrifícios: no dia em que os livrara da servidão do Egito, Ele não lhes ordenou coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios, mas simplesmente comandou que O obedecessem para que Ele fosse o seu Deus, “e vós sereis o meu povo: e andai em todo o caminho que Eu vos mandar, para que vos vá bem”. “Com que me apresentarei diante do Senhor, e me prostrarei perante o Deus excelso? Apresentar-me-ei diante dele com holocausto, com bezerros de um ano? Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros, ou de miríades de ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto das minhas entranhas pelo pecado da minha alma? Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor requer de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benevolência, e andes humildemente com o teu Deus?” (Miqueias 6:6-8). Estes são os "caminhos antigos" em que o povo do Senhor devia andar.
Isto não consiste em um repúdio ao sistema de sacrifícios instituído por Deus mediante a lei mosaica, mas é uma denúncia contra os ímpios e apóstatas que fizeram dos rituais um fim em si mesmos. Tudo foi recebido com extrema desobediência: "Mas não ouviram, nem inclinaram os seus ouvidos; porém andaram nos seus próprios conselhos, no propósito do seu coração malvado; e andaram para trás, e não para diante" (versículo 24).
O Senhor não tinha permanecido em silêncio, mas desde Moisés até aquele dia lhes mandara todos os Seus servos os profetas, diariamente, levantando-se cedo para enviá-los. Este deve ser um incentivo para o povo do Senhor hoje. Ele continuará a manter o testemunho de "todo o conselho de Deus" (Atos 20:27), e mesmo quando Jerusalém se tornar o centro de atenção na terra Ele vai conceder às Suas "duas testemunhas... esses dois profetas" que profetizem na terra “por mil duzentos e sessenta dias” (Apocalipse 11:3,10).
Aquela nação não dera ouvidos à voz de Deus transmitida pelos profetas. Na verdade, todo o povo retrocedera e se fizera pior que seus pais. Jeremias foi prevenido que também deveria chamá-los, mas não lhe dariam ouvidos nem resposta, obrigando-o a reconhecer que “esta é a nação que não obedeceu a voz do Senhor seu Deus e não aceitou a correção; já pereceu a verdade, e está exterminada da sua boca" (versículo 28).
A desolação resultante – versículos 29 a 34
O comando, "corta os teus cabelos, Jerusalém, e lança-os fora" (versículo 29) poderia ser entendido com referência ao luto em um sentido geral (Jó 1:30, Miqueias 1:16), mas o uso da palavra "cabelos" aqui sugere que a passagem está se referindo ao voto do nazireu (Números 6:1-21), onde os cabelos representam sua "consagração" (versículos 7,9) e "separação" (versículo 19). Quando o nazireu contraia impureza cerimonial, ele devia raspar a cabeça como um sinal de que sua consagração ao Senhor tinha sido terminada. O reino de Judá, como o nazireu, tornou-se impuro: ele já não era consagrado ao Senhor, com resultados desastrosos: “... levanta um pranto sobre os altos escalvados; porque o Senhor já rejeitou e desamparou esta geração, objeto do seu furor" (versículo 29).
São dadas duas razões:
"Puseram suas abominações na casa que se chama pelo Meu nome, para a contaminarem" (versículo 30)
“Edificaram os altos de Tofete, que está no Vale do filho de Hinom, para queimarem no fogo seus filhos e as suas filhas, o que nunca ordenei, nem me veio à mente” (versículo 31).
Não haviam apenas montado ídolos ("abominações") no templo, mas também queimado seus filhos em Tofete, que estava no vale de Kidrom, filho de Hinom, para apaziguar o fogo do falso deus Moloque: as crianças não foram apenas feridas com queimaduras, mas mortas. Esse culto abominável a Moloque fora já proscrito pela lei de Moisés (Levítico 18:21 e 20:2-5) que condenava à morte quem o praticasse.
O Senhor acrescenta que, por causa da gravidade destes pecados, viriam dias em que o morticínio seria tal, que não seria possível impedir que os pássaros e animais da terra se alimentassem dos cadáveres desse povo, e o lugar passaria a se denominar de “Vale da Matança”. Tão grande seria a desolação, que iria desaparecer toda a alegria, mesmo até a alegria do casamento (versículo 34). A remoção da alegria se repete desta forma nos capítulos 16:9 e 25:10, mas a alegria será restaurada no reino milenar de Cristo (capítulo 33, versículos 10 e 11).
R David Jones
17 Não vês tu o que eles andam fazendo nas cidades de Judá, e nas ruas de Jerusalém?
18 Os filhos apanham a lenha, e os pais acendem o fogo, e as mulheres amassam a farinha para fazerem bolos à rainha do céu, e oferecem libações a outros deuses, a fim de me provocarem à ira.
19 Acaso é a mim que eles provocam à ira? diz o Senhor; não se provocam a si mesmos, para a sua própria confusão?
20 Portanto assim diz o Senhor Deus: Eis que a minha ira e o meu furor se derramarão sobre este lugar, sobre os homens e sobre os animais, sobre as árvores do campo e sobre os frutos da terra; sim, acender-se-á, e não se apagará.
21 Assim diz o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel: Ajuntai os vossos holocaustos aos vossos sacrifícios, e comei a carne.
22 Pois não falei a vossos pais no dia em que os tirei da terra do Egito, nem lhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios.
23 Mas isto lhes ordenei: Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo; andai em todo o caminho que eu vos mandar, para que vos vá bem.
24 Mas não ouviram, nem inclinaram os seus ouvidos; porém andaram nos seus próprios conselhos, no propósito do seu coração malvado; e andaram para trás, e não para diante.
25 Desde o dia em que vossos pais saíram da terra do Egito, até hoje, tenho-vos enviado insistentemente todos os meus servos, os profetas, dia após dia;
26 contudo não me deram ouvidos, nem inclinaram os seus ouvidos, mas endureceram a sua cerviz. Fizeram pior do que seus pais.
27 Dir-lhes-ás pois todas estas palavras, mas não te darão ouvidos; chamá-los-ás, mas não te responderão.
28 E lhes dirás: Esta é a nação que não obedeceu a voz do Senhor seu Deus e não aceitou a correção; já pereceu a verdade, e está exterminada da sua boca.
29 Corta os teus cabelos, Jerusalém, e lança-os fora, e levanta um pranto sobre os altos escalvados; porque o Senhor já rejeitou e desamparou esta geração, objeto do seu furor.
30 Porque os filhos de Judá fizeram o que era mau aos meus olhos, diz o Senhor; puseram as suas abominações na casa que se chama pelo meu nome, para a contaminarem.
31 E edificaram os altos de Tofete, que está no Vale do filho de Hinom, para queimarem no fogo a seus filhos e a suas filhas, o que nunca ordenei, nem me veio à mente.
32 Portanto, eis que vêm os dias, diz o Senhor, em que não se chamará mais Tofete, nem Vale do filho de Hinom, mas o Vale da Matança; pois enterrarão em Tofete, por não haver mais outro lugar.
33 E os cadáveres deste povo servirão de pasto às aves do céu e aos animais da terra; e ninguém os enxotará.
34 E farei cessar nas cidades de Judá, e nas ruas de Jerusalém, a voz de gozo e a voz de alegria, a voz de noivo e a voz de noiva; porque a terra se tornará em desolação.
Jeremias, capítulo 7, versículos 17 a 34