Esta seção começa com o uso da conjunção causal gar, "pois", para explicar o raciocínio na exposição anterior sobre a superioridade do novo pacto. A primeira aliança não chegava a estabelecer o relacionamento ideal entre o homem e Deus, e se a primeira aliança com Israel, ou seja, a aliança mosaica, fosse perfeita (amemptos, "sem defeito"), não teria havido motivo para considerar uma segunda aliança. A primeira nunca fora destinada a ser definitiva, mas para preparar para a vinda de Cristo. O fato que uma segunda aliança é mencionada mais tarde mostra que a primeira não era ideal, pois estava incompleta.
Não que a primeira aliança fosse defeituosa, pois: "a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom" (Romanos 7:12). O problema consistia em sua adequação às pessoas com quem foi feita, pois não tinham a competência necessária para obedecer aos seus ditames. Isto é afirmado aqui: “porque repreendendo-os, diz...”. O Senhor não encontrou falha com a aliança, mas com o Seu povo da aliança. Ela fora baseada na promessa do povo de cumprir a sua parte (Êxodo 19:8; 24:7), e, portanto, não se destinava a durar muito tempo. A nova aliança é um recital, do começo ao fim, do que Deus concorda em fazer. Esta é a sua força. Nas escrituras judaicas o Senhor já havia prometido uma nova aliança (Jeremias 31:31-34). Todo o argumento gira em torno da palavra “novo”. Se o velho pacto fosse suficiente e satisfatório, por que apresentar um novo?
Deus ainda prometeu especificamente fazer uma nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá, os dois reinos em que os israelitas haviam se dividido. Como mencionado anteriormente, a nova aliança tem a ver principalmente com a nação de Israel e não com a igreja. Encontrará seu cumprimento completo quando Cristo voltar para reinar sobre essa nação arrependida e redimida. Entretanto, algumas das bênçãos do pacto já são gozadas por todos os crentes. Assim, quando o Salvador passou o copo da Sua ceia aos seus discípulos, Ele disse, "Este cálice é o novo pacto no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim" (1Coríntios 11:25).
Podemos assim já distinguir entre a interpretação primária para Israel e o aplicativo secundário, espiritual para a igreja hoje. Agora já fruímos de muitas das bênçãos da nova aliança, e ainda haverá mais manifestações no futuro para Israel de acordo com a promessa de Deus.
Especificamente, Deus prometeu que o novo pacto não seria como a aliança que fez com eles, quando os tirou da terra do Egito. Esta aliança havia falhado porque era condicional, envolvendo a obediência de um povo que não a produziu. Como não cumpriram a sua parte do tratado, Deus não atentou mais para eles (veja Juízes 10:13-14, Lamentações 4:16, Amós 5:22 e Malaquias 2:13).
Um novo pacto será feito com a casa de Israel (note-se que se trata especificamente do povo israelita e não da igreja de Cristo). Esta é uma uma aliança incondicional, provinda da graça de Deus, sua realização depende apenas de Deus mesmo, e Ele não pode falhar. Este novo pacto já havia sido previsto no passado (629 a.C) numa profecia dada através de Jeremias (31:31-34), onde Deus declara que fará:
A antiga aliança dizia o que o homem deve fazer; a nova aliança diz que o que Deus vai fazer. Depois que os dias da desobediência de Israel tenham passado, Deus colocará Suas leis em sua mente para que os israelitas as saibam e as amem em seus corações. Eles vão querer obedecer, não por medo de punição, mas por causa do seu amor por Ele. As leis já não serão gravadas em pedra, mas em seu coração. “Eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo” fala de proximidade, de um relacionamento contínuo e segurança incondicional. Nada jamais irá interromper esta ligação comprada com sangue.
A nova aliança também inclui o conhecimento universal do Senhor. Durante o reinado glorioso de Cristo, não será necessário um homem ensinar seu próximo ou seu irmão para conhecer o Senhor. Todos terão consciência dEle, desde o menor ao maior: "a terra se encherá do conhecimento do senhor como as águas cobrem o mar" (Isaías11:9).
Melhor ainda, a nova aliança promete misericórdia para um povo injusto, e esquecimento eterno dos seus pecados. A lei era inflexível: "toda transgressão e desobediência recebeu justa retribuição" (Hebreus 2:2). Além disso, a lei não poderia lidar eficazmente com pecados. Fornecia o necessário para a expiação dos pecados, mas não para a sua remoção. (A palavra hebraica para “expiação” vem de um verbo significando “cobertura”). Os sacrifícios prescritos na lei tornavam um homem cerimonialmente “limpo”, ou seja, eles o qualificaram para se envolver na vida religiosa da nação. Mas essa limpeza ritual era externa, Não tocava a vida interior do homem, nem fornecia a limpeza moral ou uma consciência limpa.
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7 Pois, se aquele primeiro fora sem defeito, nunca se teria buscado lugar para o segundo.
8 Porque repreendendo-os, diz: Eis que virão dias, diz o Senhor, em que estabelecerei com a casa de Israel e com a casa de Judá um novo pacto.
Não segundo o pacto que fiz com seus pais no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; pois não permaneceram naquele meu pacto, e eu para eles não atentei, diz o Senhor.
10 Ora, este é o pacto que farei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor; porei as minhas leis no seu entendimento, e em seu coração as escreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo;
11 e não ensinará cada um ao seu concidadão, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior.
12 Porque serei misericordioso para com suas iniquidades, e de seus pecados não me lembrarei mais.
Hebreus capitulo 8, versículos 7 a 12