O oitavo capítulo deste livro começa com nova expansão do argumento que integra a nova aliança com o que já foi estabelecido a respeito do sacerdócio de Jesus Cristo, e chega ao seu ponto principal.
Os primeiros dois versículos repetem o que foi asseverado e comprovado até aqui, e nos dão uma previsão do que está por vir. Estes são os fatos comprovados:
Temos um Sumo Sacerdote! Eis uma exclamação triunfante.
Não é qualquer homem aqui no mundo, mas está nos céus, assentado à direita do trono da Majestade divina.
Ele é Ministro do Santuário (leitourgos, "um servo sagrado de adoração") no verdadeiro Tabernáculo fundado pelo Senhor e não pelo homem. É impossível que este servo sagrado pudesse ter servido no templo existente em Jerusalém, ou nos santuários mais antigos, pois eram reservados exclusivamente para o ministério dos sacerdotes da tribo de Levi. O Messias Jesus descende da tribo real de Judá (por sua mãe, e legalmente por seu padrasto).
Nos versículos que seguem, o ministério de Cristo é provado como sendo superior ao mosaico não só porque Ele oficia em um santuário melhor (v. 1-5) mas também no contexto de uma aliança melhor (v. 7-13). Essa é uma resposta aos judeus que provocavam os primeiros cristãos com as palavras, "nós temos o Tabernáculo; temos o sacerdócio; temos as ofertas; temos as cerimônias; temos o templo; temos as belas vestes sacerdotais". A resposta confiante dos crentes é, "Sim, vocês têm a figura e as sombras, mas nós temos o cumprimento. Vocês têm as cerimônias, mas nós temos Cristo. Vocês têm a representação, mas nós temos a Pessoa. E nosso Sumo Sacerdote está assentado à destra do trono da Majestade nos céus. Nenhum outro sumo sacerdote já se sentou em reconhecimento de um trabalho terminado, e nenhum ocupou um lugar de honra e poder como Este."
Ele oficia no santuário do céu. Este é o verdadeiro Tabernáculo, do qual o tabernáculo terrestre foi uma mera cópia ou representação. O verdadeiro Tabernáculo foi erigido pelo Senhor e não o homem, como foi a tenda terrena.
Existe ainda uma ideia falsa segundo a qual o sacerdócio levítico continua sendo legítimo a par do sacerdócio de Cristo, com base em Êxodo 29:9, Números 25:13, etc. No entanto, o hebraico do Velho Testamento carece de uma palavra que possa transmitir o conceito de "eternidade" ou "eterno" ou "para sempre" em um sentido absoluto. A palavra em questão, olam, significa simplesmente "longa duração por tempo indeterminado", definido pelo contexto, como quando usada para a duração da vida de uma pessoa (Êxodo 14:13, 21:6, Levítico 25:46, Deuteronômio 15:17) ou dez gerações (Deuteronômio 23:3). A legislação mosaica não foi imposta para a eternidade, mas apenas para Israel por um período preparatório de mil e quinhentos anos antes da chegada de seu Messias (Gálatas 3:19-25). Portanto, pode-se argumentar com confiança a favor da revogação do sistema Levítico.
Desde que uma das principais funções de um sumo sacerdote era oferecer tanto dons como sacrifícios, é de se assumir que nosso Sumo Sacerdote deve fazer isso também. Dons é um termo geral que abrange todos os tipos de ofertas apresentadas a Deus. Sacrifícios eram dons em que um animal era sacrificado. O que oferece o nosso Sumo Sacerdote? Esta pergunta não é respondida diretamente até chegarmos ao capítulo 9.
Segundo a lei mosaica, Cristo não estava habilitado a exercer o sacerdócio pois era descendente de Judá e não de Levi e da família de Arão, o que era um requisito essencial para servir no santuário de Jerusalém. Quando lemos nos Evangelhos que Jesus entrou no templo (Lucas 19:45), devemos lembrar que Ele foi apenas ao pátio que o rodeava, e não ao santuário ou ao Santo dos Santos. Mas isso não significa que ele não poderia executar as funções de um sacerdote da ordem de Melquizedeque. Afinal, sua oração em João 17 é uma grande oração sacerdotal, e sua oferta de si mesmo como um sacrifício perfeito no Calvário foi certamente um ato sacerdotal (ver Hebreus 2:17).
O tabernáculo na terra era uma réplica do santuário celestial. Sua disposição demonstrava a maneira em que o povo de Deus poderia aproximar-se d’Ele em adoração. Primeiro estava a porta do pátio exterior, em seguida o altar de holocausto e a pia. Em seguida os sacerdotes entravam no lugar Santo e o sumo sacerdote entrava no lugar Santíssimo onde Deus se manifestava. O tabernáculo não fora destinado a ser o último santuário. Foi apenas uma figura e sombra. Quando Deus chamou Moisés até o Monte Sinai e o instruiu para construir o Tabernáculo, deu-lhe "uma imagem", "um formato", "um padrão", "um modelo" do santuário celestial, espiritual, que agora conhecemos.
O exercício do ministério do nosso Senhor no santuário celestial resulta da sua obra como mediador (mesites, "um árbitro," "ir entre") de um melhor pacto, uma nova aliança feita com melhores promessas (kreittonos e kreittosin, respectivamente, usando o duplo enfático de "melhor"). A mediação de Jesus Cristo na nova aliança é a garantia de que nossa salvação permanece segura e que nosso acesso imediato à presença de Deus continua a ser assegurado.
Voltar ao sacerdócio mosaico com suas ofertas, suas cerimônias, seu templo e suas belas vestes sacerdotais, é deixar a realidade para voltar às sombras, ao invés de sair das sombras para assumir a realidade que elas apenas representavam. O versículo 5 ensina claramente que as instituições do Velho Testamento eram tipos das realidades celestes; por conseguinte, o ensino dessa tipologia só se justifica quando é feito em consonância com as escrituras e sem se tornar fantasioso.
O versículo 6 faz a transição entre o assunto da superioridade do santuário e a da aliança. Fazendo uma comparação, o ministério de Jesus Cristo é tão superior ao ministério dos sacerdotes levitas quanto é mediador de uma aliança melhor do que a antiga, pois:
Quanto ao ministério de Jesus Cristo:
Ele se ofereceu a Si mesmo, não um animal.
Ele apresentou o valor de Seu próprio sangue, não o sangue de touros e cabras.
Ele apaga os pecados, não meramente os cobre.
Ele deu aos crentes uma perfeita consciência, não um lembrete anual dos pecados.
Ele abriu o caminho para entrarmos todos na presença de Deus, não nos deixando à distância para ver.
Ele fica entre Deus e homem para fazer a ligação.
Quanto à nova aliança:
É absoluta e não condicional.
É espiritual e não carnal.
É universal e não local ou nacional.
É eterna e não temporal.
É de graça, incondicional, imputando justiça ao pecador e premiando os crentes.
Volta <
Seguinte>
1 Ora, do que estamos dizendo, o ponto principal é este: Temos um sumo sacerdote tal, que se assentou nos céus à direita do trono da Majestade,
2 ministro do santuário, e do verdadeiro tabernáculo, que o Senhor fundou, e não o homem.
3 Porque todo sumo sacerdote é constituído para oferecer dons e sacrifícios; pelo que era necessário que esse sumo sacerdote também tivesse alguma coisa que oferecer.
4 Ora, se ele estivesse na terra, nem seria sacerdote, havendo já os que oferecem dons segundo a lei,
5 os quais servem àquilo que é figura e sombra das coisas celestiais, como Moisés foi divinamente avisado, quando estava para construir o tabernáculo; porque lhe foi dito: Olha, faze conforme o modelo que no monte se te mostrou.
6 Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de um melhor pacto, o qual está firmado sobre melhores promessas.
Hebreus capítulo 8, versículos 1 a 6