A ordem do sacerdócio de Melquisedeque (7:1-3)
Melquisedeque é um personagem enigmático que apareceu brevemente na narrativa histórica das Escrituras (Gênesis 14:18-20), indo ao encontro de Abraão, que regressava de uma conquista militar bem sucedida. Séculos mais tarde seu nome foi mencionado por Davi (Salmo 110:4) como sendo o titular de uma ordem sacerdotal. Séculos ainda depois disto ele é citado no livro de Hebreus. Claramente Deus organizou os detalhes de sua vida para que fosse um tipo do Senhor Jesus Cristo.
Quatro fatos históricos são revelados aqui a seu respeito:
É identificado como sendo rei da cidade de Salem ("paz" no hebraico), uma cidade mais tarde conhecida como Jerusalém. Nas Escrituras, os nomes das pessoas significam o que os pais desejavam que fossem, ou o que foram, e não algum tipo de apelido espiritual. “Melquisedeque” foi o nome literal desse rei. É composto por duas palavras:
A palavra “melqui” que se traduz como “rei”. A palavra zedeque, "justo". Esta qualidade é compartilhada com outro rei jebuseu de Jerusalém que também aparece relativamente cedo na história de Israel, Adoni-Zedeque, "senhor-justo" (Josué 10:1). É razoável concluir que zedeque pode ter sido um nome dinástico ou título.
Melquizedeque, ou "rei de Justiça", era o rei de Salém, que se traduz "rei de paz". É notável que justiça é mencionada primeiro, depois a paz: não pode haver paz a menos que primeiro haja justiça. Vemos isso claramente na obra de Cristo na cruz, "A benignidade e a fidelidade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram" (Salmo 85:10). Porque o Salvador atendeu todas as exigências justas de Deus contra os nossos pecados, podemos ter paz com Deus.
Nessa passagem de Gênesis também lemos que ele era um sacerdote do "Deus Altíssimo" (ver Marcos 5:7, Atos 7:48 e 16:17). Assim combinando a liderança política (rei) com a espiritual (sacerdote), Melquisedeque fez a integração do poder político com o espiritual. Isto é o ideal, e acontecerá efetivamente quando o Senhor Jesus Cristo reinar sobre a terra: então não haverá mais separação entre o secular e o sagrado (Isaías 32:1, 17, Apocalipse 19:11-16).
Esta seria uma benção sacerdotal.
Foi um décimo dos despojos militares de Abraão, dado voluntariamente para Melquisedeque em reconhecimento de seu sacerdócio.
O mistério sobre Melchisedeque se aprofunda quando lemos que ele não tinha pai nem mãe, nem genealogia, nem princípio de dias, nem fim de vida. É errado concluir que Melquisedeque literalmente não tinha pais, que ele nunca nasceu, e que nunca morreu. Nem era ele o próprio Filho de Deus, como alguns erroneamente têm pensado, mas foi feito semelhante a Ele, para que seu sacerdócio continuasse sem interrupção. Vejamos:
Se o argumento é que o nome de Melquisedeque é uma indicação de Sua identidade pre-messiânica, temos o outro nome, Adoni-Zedeque (senhor de justiça – Josué 10:1) ainda mais adequado, mas ninguém considera este como viável. O texto afirma que Melquisedeque é como o filho de Deus, não que ele realmente é o filho de Deus. Um requisito para o sacerdócio era a posse de humanidade (capítulo 5). Por definição, em nenhum momento antes da Sua encarnação Jesus possuiu o atributo da humanidade. No Salmo 110:4 o Senhor nomeia o Messias como um sacerdote da ordem de Melquisedeque, assim distinguindo as duas personalidades. Não faria sentido nomear o Messias como um sacerdote de Sua própria ordem.
As informações dadas no versículo 3 concernem o tipo do sacerdócio de Melquisedeque, distinguindo entre ele e o tipo do sacerdócio de Arão.
Para se qualificar ao sacerdócio arônico era necessário ter nascido da tribo de Levi e da família de Arão. A genealogia era muito importante. Além disso, sua qualificação começava ao nascer e terminava ao morrer.
O sacerdócio de Melquisedeque foi bem diferente do arônico. Ele não herdou o sacerdócio através de nascimento de uma família sacerdotal mas Deus simplesmente o escolheu e o designou como um sacerdote. A identidade dos seus pais e sua genealogia são irrelevantes, assim como alguma informação sobre seu nascimento ou morte. Seu sacerdócio ou ordem sacerdotal, portanto, não teve início nem fim. Nisto o sacerdócio do Senhor Jesus Cristo é da mesma ordem que a de Melquisedeque.
1 Porque este Melquisedeque, rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, que saiu ao encontro de Abraão quando este regressava da matança dos reis, e o abençoou,
2 a quem também Abraão separou o dízimo de tudo (sendo primeiramente, por interpretação do seu nome, rei de justiça, e depois também rei de Salém, que é rei de paz;
3 sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, mas feito semelhante ao Filho de Deus), permanece sacerdote para sempre.
Habreus, capítulo 7, versículos 1 a 3