A partir do versículo 9, temos indicação que os versículos precedentes se referiam aos descrentes apóstatas:
Há uma mudança nos pronomes. Ao falar sobre os apóstatas, o autor se refere a "eles". Agora ele se dirige aos verdadeiros crentes, usando os pronomes “nós” e “vós”, mostrando que não acreditava que houvesse apóstatas entre eles.
Dirigindo-se a esses crentes, ele diz: "Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores, e que acompanham a salvação." A inferência é que as coisas que ele havia descrito nos versículos 4-6 e 8 não acompanhavam a salvação.
Em seu desejo de tranquiliza-los, a fim de que o que acabava de afirmar sobre os apóstatas não os desanimasse, o autor usa afetuosamente o adjetivo “amados” .
Duas das coisas que acompanham a salvação se manifestavam nas suas vidas— o seu trabalho e o amor que mostravam em seu serviço aos santos, assim evidenciando a sua fé. Eles continuavam a servir o povo do Senhor por causa da sua fé, e Deus não esquecerá a sua obra. Podemos concluir por isto que o seu trabalho feito ao povo de Deus é considerado por Deus como se fosse para Ele mesmo.
Este zelo deveria ser mostrado “até o fim, para completa certeza da esperança". A última esperança do cristão é realizada no céu, que é a prova da sua realidade. Os crentes não devem se tornar indolentes, mas sim imitar os que herdavam as promessas pela fé e paciência, dos quais serão dados exemplos mais adiante (capítulo 11). A perseverança na obra de Deus produz progresso.
O exemplo de Abraão é dado como um estímulo e a certeza da esperança do crente é afirmada. Abraão creu em Deus, e na promessa que Deus lhe deu feita sob juramento em seu próprio Nome de abençoá-lo e multiplicar a sua descendência. Abraão esperou com paciência e alcançou a promessa. Como no caso de Abraão, a esperança do crente está em algo invisível, no futuro, e para consegui-lo empenha a sua vida e se abstém das riquezas e prazeres deste mundo.
A palavra de Deus é a coisa mais segura do universo. Qualquer promessa de Deus é tão segura como se de fato já tivesse sido cumprida. No entanto, Deus ainda acrescentou um juramento à promessa da salvação eterna para todos os que creem nele, e estes, por serem fiéis, são chamados de “filhos de Abraão”.
Assim, o crente tem duas coisas inalteráveis, na qual confia: a palavra e o juramento de Deus. É impossível imaginar algo mais seguro ou certo. Deus promete salvar todos os que creem em Cristo; em seguida, Ele confirma Sua promessa com um juramento. A conclusão é inevitável: o crente está seguro eternamente.
No restante do capítulo 6, o escritor emprega quatro figuras para confirmar a confiabilidade absoluta da esperança cristã:
Uma cidade de refúgio: aqueles que são verdadeiros crentes são retratados como a fugir deste mundo condenado para a cidade celestial de refúgio. Para incentivá-los na sua fuga, Deus lhes deu uma esperança inabalável, baseada em sua palavra e seu juramento.
Uma âncora: ´é nas tempestades e provações da vida que esta esperança serve como uma âncora da alma. O conhecimento que nossa glorificação é tão certa como se já tivesse acontecido nos impede de derivar nas ondas selvagens da dúvida e desespero. A âncora não se desprende nas areias movediças deste mundo, mas se apodera do santuário celestial. Desde que nossa esperança é a âncora, o significado é que nossa esperança é garantida pela presença de Deus por trás do véu. Tão certo quanto a âncora está lá, estaremos lá também.
Um precursor: o Senhor Jesus entrou no santuário interno também como nosso precursor. Sua presença garante a entrada final de todos os que lhe pertencem. Não é exagero dizer que é tão certo que o crente mais simples na terra estará céu como que os santos já estão lá. Nosso precursor, Jesus Cristo, entrou onde ninguém mais O poderia seguir. Mas nosso precursor fez uma promessa que onde Ele está, nós também estaremos. Como precursor Ele anunciou nossa chegada futura, tomou posse das glórias do céu em nosso nome, e está ali para nos dar as boas-vindas quando também viermos e nos apresentarmos perante a Majestade do céu.
O sumo sacerdote: nosso Senhor se tornou sumo sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque. Seu sacerdócio eterno garante nossa preservação eterna. Tão certo como fomos reconciliados com Deus através de Sua morte, estaremos salvos por Sua vida como nosso sacerdote na mão direita de Deus (Romanos 5:10).
Esta menção de Jesus como sumo sacerdote da ordem de Melquisedeque nos lembra que este assunto foi interrompido no capítulo 5:10 quando o autor advertiu contra a apostasia. Em seguida vai retornar ao seu tema sobre a superioridade do sacerdócio de Cristo sobre o de Arão.
9 Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores, e que acompanham a salvação, ainda que assim falamos.
10 Porque Deus não é injusto, para se esquecer da vossa obra, e do amor que para com o seu nome mostrastes, porquanto servistes aos santos, e ainda os servis.
11 E desejamos que cada um de vós mostre o mesmo zelo até o fim, para completa certeza da esperança;
12 para que não vos torneis indolentes, mas sejais imitadores dos que pela fé e paciência herdam as promessas.
13 Porque, quando Deus fez a promessa a Abraão, visto que não tinha outro maior por quem jurar, jurou por si mesmo,
14 dizendo: Certamente te abençoarei, e grandemente te multiplicarei.
15 E assim, tendo Abraão esperado com paciência, alcançou a promessa.
16 Pois os homens juram por quem é maior do que eles, e o juramento para confirmação é, para eles, o fim de toda contenda.
17 assim que, querendo Deus mostrar mais abundantemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu conselho, se interpôs com juramento;
18 para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossivel que Deus minta, tenhamos poderosa consolação, nós, os que nos refugiamos em lançar mão da esperança proposta;
19 a qual temos como âncora da alma, segura e firme, e que penetra até o interior do véu;
20 aonde Jesus, como precursor, entrou por nós, feito sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.
Hebreus capítulo 6, versículos 9 a 20