Sob a lei, quem tocasse num cadáver (ou mesmo entrasse ou se encontrasse na tenda onde alguém tivesse morrido), ou num osso humano, ou numa sepultura, ficava cerimonialmente impuro por sete dias. Tinha que purificar-se aspergindo em seu próprio corpo uma mistura de água de uma nascente pura com cinzas de uma novilha vermelha, no terceiro e sétimo dia: havia um ritual complexo para a escolha e sacrifício dessa novilha. O imundo que não se purificasse seria extirpado de Israel. Segundo os historiadores, considerava-se que as cinzas concentravam as propriedades essenciais da oferta pelo pecado e não importava a quantidade usada cada vez. Assim as cinzas de uma só novilha vermelha eram aproveitadas através de muitos anos, mediante a diluição de uma quantidade ínfima de suas cinzas em grandes recipientes de água (Números capítulo 19).
Se a aspersão do sangue de bodes e de touros, e das simples cinzas de uma novilha purificavam cerimonialmente tantos contaminados, não se pode duvidar que o sangue imaculado de Cristo, que Ele mesmo ofereceu a Deus através do Espírito eterno, pode purificar a consciência de todos os que nEle confiam para servir ao Deus vivo. A perfeição moral da Sua vida o qualificou perfeitamente para levar sobre Si o nosso pecado. O sangue de Cristo purifica nossa consciência das “obras mortas”: não se trata de uma simples limpeza física ou cerimonial, mas de uma renovação moral que purifica a consciência, e nos livra das obras sem vida que se fazem no desejo de obter justificação.
Assim surgiu uma nova aliança, ou novo testamento, entre Deus e os homens, da qual Cristo é o “mediador”: essa palavra se refere a alguém que intervém entre dois partidos, para fazer ou restaurar a paz e a amizade, para formar um contrato, ou para ratificar uma aliança. Aqui, o Messias atua como um intermediário ou mediador entre um Deus Santo e o homem pecador. Por sua morte na Cruz, Ele remove o obstáculo (pecado), que causa distanciamento entre o homem e Deus. Quando o pecador aceita os méritos do Messias como sacrifício, a culpa e a pena de seu pecado são apagados, o poder do pecado em sua vida é quebrado, ele começa uma vida nova dedicada ao serviço de Deus, e desaparece o obstáculo legal e pessoal que havia entre ele e Deus.
Com a nova aliança, aqueles que se convertem (são os “chamados”) recebem a prometida herança eterna. Através do sacrifício de Cristo os santos do Velho Testamento também, a partir da nova aliança, passaram a desfrutar da salvação eterna e da redenção eterna. "E por este motivo é mediador de um novo pacto”: a ênfase é sobre o fato de que Ele é o mediador da nova aliança. Aqueles que viveram sob a antiga aliança, os santos do Velho Testamento, foram salvos porque ansiavam pela Sua vinda quando traziam seus sacrifícios. Não sabemos quanto eles compreendiam, mas o Senhor Jesus disse, " Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia; viu-o, e alegrou-se" (João 8:56). Não foi escrito no Gênesis, mas o Senhor Jesus nos deu essa informação. É mesmo possível que todas as pessoas destacadas pela sua fidelidade a Deus no Velho Testamento esperavam ansiosamente pela vinda do Messias (Cristo) prometido profeticamente.
Em outras palavras, Deus salvou “a crédito”. O sangue de bodes e touros nunca pagou pecados. Os israelitas ofereciam seus sacrifícios pela fé, e quando Cristo veio, Ele morreu "... por ter ele na sua paciência, deixado de lado os delitos outrora cometidos...”... (Romanos 3:25); ou seja, Jesus morreu pelos pecados de todos os que, temendo a Deus, invocavam o nome do Senhor, desde Adão e Sete (Gênesis 4:26) até o momento da Sua morte. E desde então, todos podemos vir a Ele mediante a fé, pela graça de Deus. Este é o Novo Testamento.
Um testamento é um documento em que uma pessoa (o testador) determina o destino a ser dado à sua propriedade após a sua morte. Obviamente é inútil e sem valor enquanto o testador estiver vivo, portanto sua morte precisa ser comprovada legalmente antes da partilha dos seus bens aos seus herdeiros. Desde os primórdios da criação, o sangue representa vida na linguagem bíblica (Gênesis 4:10,11, 9:4,5). Quem “derramar sangue de homem” (assassinar) deve morrer (“terá seu sangue derramado”) por mão humana (Gênesis 9:6). Deus aqui instituiu a pena de morte para os homicidas.
Nos tempos antigos cada aliança era ratificada pela morte de um animal sacrificial: o sangue era uma promessa que os termos da aliança seria cumprida. A antiga aliança feita por Deus com o povo israelita através de Moisés também foi ratificada com o derramamento de sangue: depois de proclamar as leis de Deus a Israel, Moisés “tomou o sangue dos novilhos e dos bodes, com água, lã purpúrea e hissopo e aspergiu tanto o próprio livro como todo o povo”. Ao aspergir o sangue, Moisés dizia “este é o sangue do pacto que Deus ordenou para vós”.
Desta forma Moisés estabeleceu a cerimônia para a selagem solene da aliança (Êxodo 24:1-11). Deus (aqui representado pelo altar) e o povo israelita eram as partes contratantes, o sangue salpicado obrigava ambas as partes a manter os termos do pacto. O povo prometeu obedecer, e o Senhor prometeu abençoá-los se eles assim o fizessem.
De maneira semelhante, Moises aspergiu com sangue, tanto o Tabernáculo como todos os utensílios utilizados no culto. Este ritual não é encontrado no Velho Testamento. Nenhuma menção do sangue é feita na consagração do Tabernáculo em Êxodo 40. No entanto, o simbolismo é claro. Tudo o que tem qualquer contato com o homem pecador torna-se contaminado e precisa de ser purificado.
Debaixo da lei quase tudo era purificado com sangue. Mas há exceções. Por exemplo, quando um homem vinha para ser alistado em uma enumeração dos filhos de Israel, ele devia trazer um meio-siclo de prata como “oferta do Senhor” para resgate da sua alma (Êxodo 30:11-16) sob pena de uma praga entre o povo por ocasião do alistamento. Outra exceção é encontrada em Levítico 5:11, onde os pobres que não tivessem recursos para oferecer animais por certos pecados poderiam simplesmente oferecer uma medida de flor de farinha. Mas “quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão”(v.22). Aquelas exceções se tratavam de expiação, ou cobertura, de pecados. Mas no que respeita a remissão dos pecados, não há nenhuma exceção: sangue deve ser derramado.
Finalmente, temos a comparação e contraste das duas alianças:
O Tabernáculo terrestre tinha que ser purificado com o sangue de touros e bodes. Era uma purificação cerimonial, uma santificação simbólica de um santuário simbólico. O santuário celestial é a realidade do que era simbólico, e exige um sacrifício imensamente superior, o sacrifício do Filho de Deus. O uso do plural para descrever o sacrifício único de Cristo é uma figura de linguagem conhecida como o plural de Majestade. Pode parecer surpreendente que os lugares celestiais precisavam ser purificados. No livro de Jó temos a declaração de Elifaz, o temanita “Eis que Deus não confia nos seus santos, e nem o céu é puro aos seus olhos” (15:15): Satanás e seus anjos se rebelaram contra Deus no céu (Isaías 14:12-14) e ele ainda tem acesso à presença de Deus como o acusador dos irmãos (Apocalipse 12:10).
Cristo não entrou no santuário feito pelo homem, que era um padrão ou figura do verdadeiro – isto seria incompreensível. Mas entrou no santuário do próprio céu, e nos defende na presença de Deus das acusações de Satanás.
O Senhor Jesus não fez repetidas ofertas, como o sumo sacerdote de Israel tinha que fazer. Este entrava no Santo dos Santos uma vez por ano durante um dia, o dia da expiação, e não oferecia seu próprio sangue, mas o sangue de animais sacrificiais. Se Cristo tivesse feito repetidas ofertas, significaria sofrer repetidas vezes, já que a Sua oferta foi a própria vida. É absurdo pensar que tivesse que sofrer as agonias do Calvário periodicamente desde o pecado de Adão e Eva. Sob a nova aliança, há:
Finalidade —Ele veio uma vez para sempre. O trabalho nunca terá que ser repetido.
Oportunidade — Ele apareceu na hora certa, ou seja, depois que a antiga aliança mostrou-se conclusivamente inadequada e o homem incapaz.
Perfeição — ele apareceu para definitivamente apagar os pecados. A ênfase é sobre a palavra “aniquilar”, que significa “reduzir a nada”. Já não se requer uma expiação anual. Agora o perdão é eterno: passado, presente e futuro.
Sacrifício pessoal — Ele aniquilou o pecado pelo sacrifício de Si mesmo. Em Seu próprio corpo, Ele suportou o castigo que nossos pecados mereciam.
4. Os versículos 27 e 28 parecem apresentar mais um contraste entre a antiga aliança e a nova. A lei condenou os pecadores a morrer uma só vez, vindo depois o juízo. A lei foi dada a um povo de pecadores que não podiam cumpri-la perfeitamente. Portanto, tornou-se um meio de condenação a todos os que estavam debaixo dela. Mas a nova aliança introduz o infinito sacrifício de Cristo; foi oferecido uma só vez para levar os pecados de muitos. Apresenta a bendita esperança de Seu retorno iminente; para aqueles que O esperam ansiosamente Ele aparecerá uma segunda vez. Mas desta vez não será para lidar com o problema do pecado: Ele terminou o trabalho na Cruz. Ele virá para levar o seu povo para o céu. Este será o ponto culminante de Sua salvação; Ele os receberá em seus corpos glorificados para estarem para sempre fora do alcance do pecado.
A expressão “os que o esperam para salvação” é uma descrição de todos os verdadeiros crentes. Todo o povo do Senhor aguarda o Seu retorno, embora nem sempre concordem com a ordem exata dos acontecimentos relacionados com a Sua volta.
A Bíblia não ensina que apenas um determinado grupo de cristãos especialmente espirituais será levado para o céu no momento do arrebatamento. Descreve os participantes como "os que morreram em Cristo" e "nós, os que ficarmos vivos" (1 Tessalonicenses 4:16-17); isto significa todos os verdadeiros crentes, mortos ou vivos. Em 1 Coríntios 15:23, os participantes são identificados como "os que são de Cristo, na Sua vinda."
Temos três comparecimentos de Cristo nos versículos 24 a 28. Eles podem ser resumidos como segue:
Ele se manifestou (v. 26) - Isto se refere à sua primeira vinda, quando veio à terra para nos salvar da grande penalidade do pecado (o passado da salvação) .
Agora comparece (v. 24) - Esta é uma referência ao seu ministério presente na presença de Deus para nos salvar do poder do pecado (o tempo presente da salvação).
Ele aparecerá (v. 28 ) - Este fala de seu retorno iminente quando vai salvar-nos da presença do pecado (o futuro da salvação).
13 Porque, se a aspersão do sangue de bodes e de touros, e das cinzas duma novilha santifica os contaminados, quanto à purificação da carne,
14 quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará das obras mortas a vossa consciência, para servirdes ao Deus vivo?
15 E por isso é mediador de um novo pacto, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões cometidas debaixo do primeiro pacto, os chamados recebam a promessa da herança eterna.
16 Pois onde há testamento, necessário é que intervenha a morte do testador.
17 Porque um testamento não tem torça senão pela morte, visto que nunca tem valor enquanto o testador vive.
18 Pelo que nem o primeiro pacto foi consagrado sem sangue;
19 porque, havendo Moisés anunciado a todo o povo todos os mandamentos segundo a lei, tomou o sangue dos novilhos e dos bodes, com água, lã purpúrea e hissopo e aspergiu tanto o próprio livro como todo o povo,
20 dizendo: este é o sangue do pacto que Deus ordenou para vós.
21 Semelhantemente aspergiu com sangue também o tabernáculo e todos os vasos do serviço sagrado.
22 E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão.
23 Era necessário, portanto, que as figuras das coisas que estão no céu fossem purificadas com tais sacrifícios, mas as próprias coisas celestiais com sacrifícios melhores do que estes.
24 Pois Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, mas no próprio céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus;
25 nem também para se oferecer muitas vezes, como o sumo sacerdote de ano em ano entra no santo lugar com sangue alheio;
26 doutra forma, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo; mas agora, na consumação dos séculos, uma vez por todas se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo.
27 E, como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois o juízo,
28 assim também Cristo, oferecendo-se uma só vez para levar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação.
Hebreus capítulo 9, versículos 13 a 28