Os sacerdotes tinham acesso exclusivo ao Santo Lugar, o primeiro compartimento do Tabernáculo, que media 10m de comprimento, 5m de largura e 5 m de altura. Precisavam entrar continuamente para desempenhar algumas das suas funções rituais. Do resto do povo, ninguém podia entrar.
Havia uma rotina diária de atividade constante por parte dos sacerdotes, necessária para a adequada manutenção do santuário. A chama do candeeiro precisava ser mantida acesa sempre e o incenso era oferecido duas vezes por dia, pela manhã e à noite. Os pães da proposição eram substituidos semanalmente.
Os ofertantes dos sacrifícios bem como o povo em geral eram atendidos pelos sacerdotes no Pátio Exterior e os sacerdotes se revezavam em cada ciclo do serviço, sendo incessantes as exigências do sacerdócio. Todavia, entre os muitos sacrifícios determinados pela lei de Moisés, o mais importante era o que devia obrigatoriamente ser feito no “grande dia da expiação” (Levítico 16).
Apenas um homem no mundo inteiro podia entrar no segundo compartimento do Tabernáculo – o Santo dos Santos – que era o mais santo lugar: o Sumo Sacerdote de Israel. Ele foi inicialmente Arão mas na sua morte, foram seus descendentes sucessivos em linha reta. O sumo sacerdote só podia entrar em um determinado dia do ano, o “dia da expiação”, carregando consigo uma bacia com o sangue de um cordeiro que fora oferecido como sacrifício pelos seus pecados cometidos na ignorância, bem como os dos demais sacerdotes, e de todo o povo de Israel.
O “dia da expiação” (heb. Yom Kippurim) ainda é o dia mais sagrado no calendário litúrgico de Israel, dia em que ainda se faz uma confissão nacional de pecados não confessados e não perdoados ao longo do ano (Levítico 16:29-34), um lembrete de que os sacrifícios diários eram insuficientes para expiar o pecado. A propósito, a palavra hebraica Kippurim não denota a remoção dos pecados, mas uma cobertura lançada sobre eles: a limpeza através do sistema Levítico foi exclusivamente externa. Era como se Deus varresse os pecados de Israel debaixo de um grande tapete "Santo" num dia anual de limpeza.
O ritual original do “dia da expiação” é descrito em detalhes no capítulo 16 de Levítico, considerado por muitos não só como o centro de Levítico, mas o ponto central dos livros de Moisés.
O capítulo começa com a afirmação clara de que só um homem, o sumo sacerdote, poderia se aproximar do Deus de Israel. E mesmo ele não podia fazê-lo a qualquer hora ou de qualquer forma que desejasse. O sumo sacerdote só podia entrar na presença de Deus no dia e na forma que Deus tinha aprovado. Qualquer desvio significaria morte certa (Levítico 16:12).. Este é um lembrete solene para nossa sociedade contemporânea, que é continuamente bombardeada com o mito popular de que há muitas maneiras de se aproximar de Deus e que os indivíduos estão livres para escolher seus próprios caminhos. O “dia da expiação” nos lembra que só Deus determina os meios de nosso acesso a Ele.
O sacerdote atuava como representante do povo de Israel. Esta portentosa responsabilidade da expiação de uma nação diante de seu Deus descansava diretamente nos ombros sacerdotais. Esta figura mais sagrada de Israel entrava no lugar mais sagrado do país para realizar seus rituais mais sagrados no seu dia mais sagrado.
Na época do início do Novo Testamento, os sacerdotes atuavam mais num papel político do que religioso. Diz a história que o sumo sacerdote poderia ficar isolado no templo por uma semana antes do grande dia para estudar e ensaiar. O Sinédrio e os sacerdotes treinados se aprofundavam incessantemente durante toda a semana na minúcia dos rituais de expiação. Um movimento errado podia ser desastroso para uma nação inteira! O sumo sacerdote era forçado a ficar acordado toda a noite antes do dia Santo, lendo e discutindo as Escrituras com seus assistentes. Se o vissem cochilando, os assistentes estalavan os dedos e o faziam enfrentar o frio chão de pedra com os pés descalços para acordá-lo. Um sacerdote substituto também era nomeado neste momento à espera de algum caso de emergência.
Após a realização do sacrifício matinal em suas ricas vestes douradas de sumo sacerdote, ele as colocava de lado e, após a primeira de várias lavagens rituais nesse dia, cobria-se com um simples vestuário de linho branco, semelhante ao de um sacerdote comum.
O sumo sacerdote então sacrificava um novilho para si mesmo, sua família e seus companheiros sacerdotes: antes de fazer expiação pelo povo, ele primeiro tinha que cuidar de seu próprio pecado. Colocando as duas mãos na cabeça do novilho, ele fazia confissão para si e sua família (Levítico 16:3-6). Após o sacrifício do novilho, o sangue era coletado em uma tigela e levado por um sacerdote assistente ao santuário, sendo mexido durante todo o tempo para não coagular. Simultaneamente, o sumo sacerdote levantava o incensário de incenso enchido com brasa do altar de sacrifício, e solenemente se aproximava do véu que separava o Lugar Santíssimo do Santo dos Santos. Por atrás desse véu espesso, o pequeno aposento sem janelas era muito escuro, iluminado apenas pelo brilho das brasas ainda vivas na panela de fogo do sacerdote.
Ao colocar a panela do fogo no chão, o sumo sacerdote colocava uma medida de incenso sobre as brasas, imediatamente criando uma grande quantidade de fumaça perfumada que enchia a sala. Saindo cuidadosamente do Santo dos Santos, ele podia passar para trás do véu e pegar a tigela de sangue que seu assistente agitava. Reentrando no Santo dos Santos, o sumo sacerdote aspergia sangue no propiciatório, bem como sobre o chão, em frente da Arca da Aliança (Levítico 16:11-14).
Voltando ao Lugar Santíssimo, fazia-se um sorteio especial envolvendo dois bodes idênticos levados perante o sumo sacerdote. Um sacerdote colocava as mãos em uma caixa onde havia duas tabuletas pequenas, inscritas com as palavras hebraicas l'YHWH ("ao Senhor") e l'azazel ("para remoção"). O sumo sacerdote puxava as tabuletas para determinar o destino dos bodes. A tabuleta apanhada pela mão direita representava o bode à sua direita, a da esquerda o outro. Aquela com a palavra “ao Senhor” indicava o bode destinado para o sacrifício. A “para remoção” indicava o que é comumente referido como o "bode expiatório", e era levado para fora e solto no deserto (Levítico 16:7-10). O sumo sacerdote sacrificava o outro bode em nome da nação.
Reentrando no Santo dos Santos uma terceira vez, o sumo sacerdote espalhava o sangue do outro bode no Santo dos Santos. Retomando a tigela contendo o sangue do novilho ele salpicava o véu fora do Santo dos Santos. Depois purificava o altar de sacrifício com a mistura do sangue do novilho sacrificado e do bode. Estes rituais serviam para "reiniciar" o altar, o Tabernáculo ou templo e a Congregação de Israel para um novo ano (Levítico 16:15-19).
O sumo sacerdote então voltava a sua atenção ao segundo bode. Colocando as duas mãos sobre a cabeça do bode e fazendo uma confissão pública em nome de todo o Israel, o sumo sacerdote transferia os pecados, transgressões e iniquidades da nação sobre o bode expiatório. O bode agora servia como um substituto para o povo judeu. O bode expiatório era escoltado por outro sacerdote para fora do acampamento e para dentro do deserto, onde estaria finalmente livre (Levítico 16:22-22). Nos tempos do Novo Testamento, no entanto, o bode expiatório era escoltado de Jerusalém até o deserto da Judéia. Esta inovação foi adicionada para aplacar o medo persistente da nação de que o bode expiatório, carregando os pecados transferidos de Israel, pudesse encontrar seu caminho de volta e novamente voltar para o meio de Israel. O bode era levado para o topo de um desfiladeiro alto e lhe davam um forte empurrão para baixo para tirar qualquer possibilidade de volta.
Assim, com a construção de três templos sucessivamente através dos séculos, em lugar de um simples tabernáculo, e o aumento considerável da população, alguns detalhes foram acrescentados, como percebemos nos relatos dos Evangelhos. Mas o cerimonial foi cuidadosamente mantido intacto até a destruição do último templo pelos romanos, após a vinda e a ascenção de Jesus Cristo, e desde então os israelitas estão sem tabernáculo ou templo, ou mesmo sacerdotes.
6 Ora, estando estas coisas assim preparadas, entram continuamente na primeira tenda os sacerdotes, celebrando os serviços sagrados;
7 mas na segunda só o sumo sacerdote, uma vez por ano, não sem sangue, o qual ele oferece por si mesmo e pelos erros do povo;
Hebreus capítulo 9, versículos 6 e 7