O Senhor deu uma resposta direta às queixas e preocupações que Habacuque havia expressado em sua primeira reclamação, informando que, ao contrário do que pensava, Ele não estava inatento à séria situação do Seu povo. O Senhor então descreveu a solução que já havia providenciado para resolver o problema.
Habacuque ficou horrorizado com essa solução e, respeitosamente, fez uma segunda reclamação, manifestando a sua surpresa com o instrumento de correção determinado por Deus, pois lhe parecia injusto usar a Babilônia, uma nação ainda muito pior do que Judá.
Habacuque aguardou com ansiedade a resposta, e o Senhor mandou então que preparasse para registrar cuidadosamente o que ia dizer. Essa providência foi tomada para que pudesse ser lembrada e acompanhada meticulosamente até o seu cumprimento, e foi graças a ela que temos esta profecia em nossas mãos hoje.
Muitos de nós estamos sujeitos a passar por situações que nos parecem incompreensíveis, chegando mesmo a nos trazer dúvidas sobre a providência de Deus em nossas vidas, pois parece que tudo contradiz o que cremos a respeito d’Ele. Oramos e esperamos por alguma coisa, mas não acontece e às vezes nos sobrevém algo ainda pior. Perguntamos: Deus ainda é fiel? Como reagir aos nossos problemas?
Habacuque estava resolvido a obter uma resposta satisfatória do Senhor e fez tudo o que podia para assegurar que a tivesse. É um exemplo a ser seguido por aqueles que facilmente se deixam desanimar permitindo que as suas preocupações tomem conta da sua vida, assim prejudicando a sua fé e arruinando as suas vidas.
Ao descrever a sua forte resolução, Habacuque usa uma figura de linguagem muito ilustrativa: “ficarei no meu posto de sentinela, e tomarei posição sobre a muralha; aguardarei...” (NVI). Esta é a melhor posição para observar atentamente tudo o que está acontecendo e precaver-se contra o inimigo, como fazem as sentinelas num exército (2 Reis 11:5-7, 2 Crônicas 23:6, Neemias 7:3)..
A palavra de comando “vigiai” aparece quatorze vezes no Novo Testamento, dentre as quais extraímos as seguintes instruções:
“Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor... para que não entreis em tentação... em todo o tempo, orando, para que possais escapar de todas estas coisas que hão de acontecer, e estar em pé na presença do Filho do homem... estai firmes na fé, portai-vos varonilmente, sede fortes... já está próximo o fim de todas as coisas; portanto sede sóbrios e vigiai em oração... o vosso adversário, o Diabo, anda em derredor, rugindo como leão, e procurando a quem possa tragar” (Mateus 24:42, Marcos 14:38, Lucas 21:36, 1 Coríntios 16:13, 1 Pedro 4:7, 5:8 ).
É de se notar que a razão principal da vigília é a vinda do nosso Senhor, que vai determinar o fim da nossa existência aqui no mundo (se ainda estivermos vivos), pois então seremos transformados e arrebatados para estar com Ele, que nos julgará no Seu tribunal. Devemos vigiar e orar, para não entrarmos em tentação pois o tentador, nosso adversário o Diabo, anda em derredor “procurando a quem possa tragar”, isso é, fazer cair em pecado para prejudicar ou destruir o nosso testemunho de Cristo.
Habacuque estava atento ao que o Senhor iria dizer, transmitindo-lhe o conhecimento da razão das Suas providências para a correção do Seu povo. Deus também nos fala através da Sua Palavra, e em sua meditação aprendemos como agir da melhor maneira para lhe agradar em nossas vidas e andar pelos Seus caminhos sem nos desviar deles, nem cair nas tentações que são colocadas, como armadilhas, pelo caminho. “Vigiar” e “orar” são dois verbos que se complementam.
O crente deve também se portar “varonilmente”, isto é de maneira corajosa, arrojada, destemida, enérgica, forte, vigorosa, própria do homem adulto. Tomemos os exemplos de Moisés, Davi, Daniel, Paulo e muitos outros vultos da Bíblia como modelos de conduta varonil em sua integridade e total confiança em Deus, com isto conquistando nossos temores e sentimentos de inadequação quando enfrentamos o mundo em redor.
A atitude de Habacuque foi de paciência, constância e de firme resolução: esperaria quanto fosse necessário, aguentaria firme e receberia a resposta do Senhor. Assim veio a saber o que Deus tinha para comunicar, não só para a sua satisfação, mas também para o benefício dos outros... até nós também! Nem sempre temos uma resposta imediata às nossas orações, intercessões e indagações, mas com paciência, constância e firme resolução a resposta virá – nunca devemos esmorecer. “Orai sem cessar” é um dos mandamentos mais curtos que o crente tem (1 Tessalonicenses 5:17) e, talvez, mal compreendido. Obviamente não significa uma oração interminável, mas é a perseverança paciente, constante e firme neste recurso inesgotável que temos à graça de Deus. Ele nos atenderá, como o juiz da célebre parábola do Senhor Jesus (Lucas 18:1-5).
A palavra “então” que dá início ao versículo 2 em nossas traduções, sugerindo causa e efeito com relação ao versículo 1, não existe no hebraico. Ali o segundo versículo começa com a conjunção “e”. A diferença é sutil mas significa que a atitude de Habacuque e a resposta de Deus são simultâneas, não seguindo uma sequência. Deus nos revela a Sua vontade quando estamos resolvidos a descobrir o Seu desejo e os Seus propósitos.
Deus queria que a Sua revelação a Habacuque fosse absolutamente clara, sem deixar lugar para qualquer erro. Não era para haver qualquer dúvida sobre o que Deus havia determinado para a história do Seu povo e igualmente a dos babilônios. O povo de Judá, assim como Habacuque, teriam tudo gravado em pedra para que se lembrassem de todos os detalhes corretamente.
O que é transmitido verbalmente pode ser distorcido ou esquecido, mas não se pode negar o que está escrito de forma indelével. A Palavra de Deus é verdadeira, inegável e incontestável porque foi escrita pelos Seus servos mediante a Sua inspiração e conservada de maneira maravilhosa através dos séculos para o nosso conhecimento em todos os seus detalhes. Quando são cumpridos os propósitos de Deus, eles podem ser conferidos e verificados pela Sua Palavra, cuja exatidão e origem divina é assim comprovada. Os eventos da história não acontecem por acaso, mas estão previstos nos planos de Deus.
É boa prática deixarmos por escrito o objeto de nossas orações e intercessões, para verificarmos como foram atendidas e termos motivo de dar graças e louvar a Deus por isso. Como aqueles nove leprosos no tempo do Senhor Jesus muitas vezes esquecemos de voltar para agradecer a Deus e dar-Lhe o louvor que merece, pelas graças concedidas.
A profecia de Habacuque é para um tempo designado, o “fim” que Habacuque estava curioso em saber, em resposta à reclamação que havia feito. O tempo fora designado por Deus e haveria demora antes que Habacuque visse a sua realização. Não ia falhar, mas Habacuque teria que ter paciência até acontecer.
Parece-nos às vezes que Deus demora até agir, quando gostaríamos de ver uma ação imediata. Nestas situações precisamos ter paciência, certos que Ele o fará na hora certa, e Ele é infinitamente mais sábio do que nós.
Podemos até perguntar: porque Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores tão tarde na história da humanidade? Ou porque foi preciso esperar durante quatrocentos anos de silêncio entre o último profeta e a Sua vinda? De uma coisa podemos ter certeza: teria sido um fracasso se não viesse quando veio. Deus sabia que havia necessidade de preparar o Seu povo para as circunstâncias históricas mais apropriadas para a vinda do Messias para resgatar o Seu povo. Nessa ocasião fez nascer João Batista para preparar o povo, conforme fora profetizado, e Cristo veio, ensinou, foi rejeitado pelos Seus, entregue aos gentios e crucificado por eles, ressuscitou e foi elevado aos céus numa época da história do mundo em que haveria a maior publicidade por várias circunstâncias. Decorridos agora quase dois milênios, vemos que o Evangelho se espalhou pelo mundo, a Palavra de Deus já foi traduzida para a grande maioria de línguas, e continuam a ser salvas milhares de almas por toda a parte.
O Senhor mandou que Habacuque escrevesse o contraste entre o ímpio e o justo. O contraste entre os dois, registrado por Habacuque, é literalmente que o “presunçoso”, entendido aqui como o caldeu que vinha castigar o reino de Judá, era desonesto, trapaceiro, mas o justo viverá pela fé.
Transpondo para os nossos dias, o ímpio é o que não teme ao Deus criador, verdadeiro, que nos dá a Sua Palavra. O ímpio está por toda a parte, e compõe a maioria da população do mundo, como tem sido sempre o caso com a humanidade rebelde. Hoje temos muitas falsas religiões, bem como as “religiões sem Deus” que são as dos humanistas, dos evolucionistas, dos ateus e outras, que atraem os ímpios. Sem dúvida são presunçosos, ao pensar que podem viver sem Deus. O justo é aquele cujo pecado foi lavado pelo sangue de Cristo, mediante a sua fé, e este sempre viveu e continuará vivendo pela sua fé na obra de Cristo na cruz em seu lugar, tendo-o como Senhor e Salvador. Ele tem vida eterna, garantida pela própria Palavra de Deus.
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1 Sobre a minha torre de vigia me colocarei e sobre a fortaleza me apresentarei e vigiarei, para ver o que me dirá, e o que eu responderei no tocante, a minha queixa.
2 Então o Senhor me respondeu , e disse: Escreve a visão e torna-se bem legivel sobre tabuas, para que a possa ler quem passa correndo.
3 Pois a visão é ainda para o tempo determinado, e se apressa para o fim. Ainda que se demore, espera-o; porque certamente virá, não tardará.
4 Eis o soberbo! A sua alma não é reta nele; mas o justo pela sua fé viverá.
Habacuque capítulo 2, versículos 1 a 4