Deus agora dá a resposta final contendo a solução das dúvidas e problemas que perturbavam Habacuque. Nela encontramos a justiça absoluta de Deus em Seu juízo, pois o pecado do povo maldoso e cruel que virá oprimir o povo de Deus não ficará impune. O elemento mais importante no propósito revelado por Deus não é o julgamento dos pecadores ou a salvação do povo de Deus. Está acima de ambos e consiste na glorificação do próprio SENHOR. O Seu grande nome será elevado sobre todos os nomes e todo o mundo reconhecerá a Sua supremacia (Filipenses 2:10,11 e Colossenses 1:18).
Na Bíblia os dois conceitos de julgamento e de salvação são inseparáveis, pois a graça estendida por Deus ao pecador que se arrepende e se converte a Ele pela fé se emparelha com o Seu justo juízo sobre os pecadores incrédulos. Como a luz só pode ser apreciada em contraste com a escuridão, também é vendo o contraste entre a salvação e a perdição que o pecador salvo pela fé é motivado a render louvor e graças a Deus. Suas queixas e reclamações vão parecer triviais quando comparadas à gloriosa graça de Deus. Mas a graça de Deus é sempre inseparável da Sua justiça e santidade e, portanto, do seu temível julgamento.
Nesta resposta temos uma série de “ais” (o oposto de “bem aventuranças”) que Deus pronuncia sobre “o soberbo, cuja alma não é reta nele” (v.4), neste caso o rei da Babilônia, figura do mundo incrédulo que se rebela contra Deus e agride o Seu povo, que é “o justo que viverá pela fé” (v.4). Temos aqui uma lista sistemática apresentando-os em cinco estrofes com três versículos em cada uma.
1. “Ai daquele que acumula o que não é seu - até quando? e daquele que se carrega a si mesmo de penhores!” (versículos 5-8): Deus primeiro fala do vício do alcoolismo (vinho). O alcoolismo traidor contribuirá para o fim da Babilônia. Séculos mais tarde, o alcoolismo também foi uma das causas do fim do império romano. Hoje está corrompendo e destruindo as civilizações ocidentais em nossos dias, sendo responsável, com as drogas, pela crescente imoralidade e criminalidade nesta parte do mundo. Junto com a bebida, Nabucodonosor tinha também um apetite insaciável pela conquista de outros povos. Este apetite é comparado com a morte (Seol) e não se fartava com as nações e os povos que invadia um por um a fim de dominá-los formando um grande império. Esse apetite pela conquista do território alheio continuou a ser a causa de guerras, mortes e calamidades pelo mundo através dos séculos. Assim como Israel, muitos cristãos também são vítimas da prepotência de perseguidores movidos por motivos políticos ou religiosos que ambicionam conquistar o seu território físico, moral ou religioso.
A punição sobre os babilônios virá na medida das suas ofensas. Os povos espoliados dirão “Ai daquele que acumula o que não é seu - até quando? e daquele que se carrega a si mesmo de penhores!” Os que se viram despojados (os “credores”) se levantarão de repente, “pois a pedra clamará da parede, e a trave lhe responderá do madeiramento” e subjugarão seus algozes e os tratarão como despojo. Foi o que aconteceu, ao pé da letra, cerca de oitenta anos depois de escrita esta profecia (Daniel 5).
2. “Ai daquele que adquire para a sua casa lucros criminosos” (versículos 9-11): traduzido melhor como “enriquece tomando empréstimos". Uma coisa é pagar para o que se compra e outra é tomar pela força, porque terá que pagar um dia, como se fosse um empréstimo hipotecário empenhando a sua propriedade. Todos os povos do império se revoltarão, e vão ridicularizar esses que os dominaram pela força, assim como haviam escarnecido, zombado e rido deles quanto lhes tomavam as terras (1:10). Deus está pronunciando uma desgraça contra os babilônios por se apoderarem do que não lhe pertence com o propósito de por-se a salvo das “calamidades”. É frequente achar que o fim justifica os meios, ferindo a própria consciência. Um dia essa injustiça terá que ser paga.
3. “Ai daquele que edifica a cidade com sangue, e que funda a cidade com iniquidade!” (versículos 12 a 14). Violência, assassinato e pilhagem foi o método de conquista que construiu Babilônia. Enriqueceram com as guerras que promoveram, e este é o método usado através da história, desde o Velho Testamento até os nossos dias por líderes políticos ambiciosos sem escrúpulos, para a desgraça de todos, inclusive a deles próprios. O versículo 13 poderia ser traduzido: "Eis, não é do SENHOR dos Exércitos que o trabalho dos povos será apenas para o fogo, e que as nações devem se cansar inutilmente?" Foram inúteis os esforços feitos pelas grandes nações do passado. Em vez de crescer, ou pelo menos manter a sua grandiosidade, levaram pouco tempo para se arruinarem completamente. A Grécia por exemplo, com sua bela arquitetura, estátuas, arte, e literatura perdeu sua glória séculos atrás e agora vemos pouco mais do que tristes ruínas para o deleite dos turistas e estudiosos da antiguidade. O macedônio Alexandre o Grande avançou até a Ásia deixando apenas ruínas atrás de si, uma grande civilização após outra e por isso ficou famoso. Foi o mesmo que veio a acontecer com a Babilônia, a nação desta profecia. As cidades da Babilônia, construídas por trabalho escravo, foram simplesmente destruídas pelo fogo. Mas um dia a terra virá a reconhecer o verdadeiro Deus como o Senhor: “Pois a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar” (compare com Miqueias 4:2-4).
4. “Ai daquele que dá de beber ao seu próximo, adicionando à bebida o seu furor” (versículos 15 a 17): “para ver a sua nudez” ou seja, para corromper, desmoralizar e envergonhar o seu próximo. Não se trata de embriagar-se a si próprio, como resultado do alcoolismo visto acima, mas de dar bebida alcoólica (adicionar o seu furor) ao próximo visando a imoralidade. A embriaguez conduz pessoas a cometer pecados dos quais se afastariam se estivessem sóbrios, envolvendo imoralidade, desonestidade, e outros. Mas dar bebida alcoólica para outros beberem é considerada uma cortesia agora, em todos os níveis sociais. Não se costuma oferecer um copo de leite, ou refresco, a um estranho que entra num bar e com quem se deseja estabelecer contato: é invariavelmente um copo de cerveja ou aguardente. Em um coquetel da alta sociedade, são as bebidas alcoólicas mais “finas” que enchem as bandejas, e se alguém quiser um copo de água, suco ou refrigerante, precisa pedir para que seja trazido especialmente para ele. Geralmente o alcoolismo é também o caminho para o uso de drogas. Nesta profecia, Deus condena tanto o alcoólatra como o que oferece bebida alcoólica para outros. Os babilônios eram culpados tanto de violência quanto corrupção. Estes são também os ingredientes principais da televisão, do cinema e da “literatura” de hoje, contra os quais cumpre ao crente sóbrio vigiar.
5. “Ai daquele que diz ao pau: Acorda; e à pedra muda: Desperta!” (versículos 18 a 20): “Pode isso ensinar? Eis que está coberto de ouro e de prata, e dentro dele não há espírito algum”. Se formos medir, vamos verificar que a idolatria é o maior pecado, pois é dela que se originam os outros pecados. O próprio povo de Israel nos dá um bom exemplo: o primeiro estágio em sua queda foi a sua apostasia, vindo em seguida o terror e depois a anarquia. Está acontecendo em nossos dias com países da América do Norte e da Europa. Nem a anarquia nem o terror são o principal problema, e sim a apostasia espiritual. A apostasia no caso de Israel e da Babilônia consistiu em se afastarem do Deus verdadeiro e fazerem para sí ídolos de madeira e de metais como objeto de adoração. Com isto se julgavam “libertos” das suas obrigações ao Deus vivo, e criavam rituais e modismos do seu próprio agrado, para procurar satisfazer a sua lacuna espiritual. Hoje as nações modernas também se afastam do Deus vivo e procuram se abrigar no ateísmo, humanismo e outras religiões sem Deus, se não nas religiões pagãs e no cristianismo apóstata. Temos o terror, e a anarquia não anda longe.
O último versículo nos assegura que, a despeito das ameaças, dos ataques, e do domínio do inimigo aqui na terra, “o Senhor está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra”. O Senhor, na pessoa de Jesus Cristo, tem a autoridade suprema, não importa o que pensem os seus adversários (Mateus 28:18, etc.). Não se trata de um fato limitado à situação dos judeus no tempo de Habacuque, mas é eterno, para todos os tempos e todas as situações, inclusive as nossas.
Diante da Sua Pessoa, todos devem se calar, e isto será cumprido ao pé da letra quando Ele tomar o Seu lugar de comando em Seu reino aqui na terra. Enquanto isso, o Salmo 2 diz tudo: “Por que se amotinam as nações, e os povos tramam em vão? Os reis da terra se levantam, e os príncipes juntos conspiram contra o Senhor e contra o seu ungido, dizendo: “Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas.” Aquele que está sentado nos céus se rirá; o Senhor zombará deles. Então lhes falará na sua ira, e no seu furor os confundirá, dizendo: “ Eu tenho estabelecido o meu Rei sobre Sião, meu santo monte”... Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos instruir, juízes da terra. Servi ao Senhor com temor, e regozijai-vos com tremor. Beijai o Filho, para que não se ire, e pereçais no caminho; porque em breve se inflamará a sua ira. Bem-aventurados todos aqueles que nele confiam.”
Todas as queixas de Habacuque acabam quando contempla a majestade soberana e a santidade do Deus vivo cheio de glória. Os santos também precisam ser lembrados às vezes da pureza e santidade do Deus que adoramos. Sempre existe o perigo de virmos à Sua presença muito descuidada e negligentemente. Também de falar e cantar demais. Faríamos melhor mantendo silêncio de vez em quando para permitir que Deus falasse! A realidade impressionante da Sua santa presença deveria nos mover a um silêncio respeitoso.
5 Além disso, o vinho é traidor; o homem soberbo não permanece. Ele alarga como o Seol o seu desejo; como a morte, nunca se pode fartar, mas ajunta a si todas as nações, e congrega a si todos os povos.
6 Não levantarão, pois, todos estes contra ele um provérbio e um dito zombador? E dirão: Ai daquele que acumula o que não é seu! (até quando?) e daquele que se carrega a si mesmo de penhores!
7 Não se levantarão de repente os teus credores? e não despertarão os que te farão tremer? Então lhes servirás tu de despojo.
Hab 2:8 Visto como despojaste muitas nações, os demais povos te despojarão a ti, por causa do sangue dos homens, e da violência para com á terra, a cidade, e todos os que nela habitam.
9 Ai daquele que adquire para a sua casa lucros criminosos, para pôr o seu ninho no alto, a fim de se livrar das garras da calamidade!
10 Vergonha maquinaste para a tua casa; destruindo tu a muitos povos, pecaste contra a tua alma.
11 pois a pedra clamará da parede, e a trave lhe responderá do madeiramento.
12 Ai daquele que edifica a cidade com sangue, e que funda a cidade com iniqüidade!
Hab 2:13 Acaso não procede do Senhor dos exércitos que os povos trabalhem para o fogo e as nações se cansem em vão?
Hab 2:14 Pois a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar.
15 Ai daquele que da de beber ao seu próximo, adicionando à bebida o seu furor, e que o embebeda para ver a sua nudez!
16 Serás farto de ignomínia em lugar de honra; bebe tu também, e sê como um incurcunciso; o cálice da mão direita do Senhor se chegará a ti, e ignomínia cairá sobre a tua glória.
16 Pois a violência cometida contra o Libano te cobrirá, e bem assim a destruição das feras te amedrontrará por causa do sangue dos homens, e da violência para com a terra, a cidade e todos os que nele habitam.
18 Que aproveita a imagem esculplda, tendo-a esculpido o seu artífice? a imagem de fundição, que ensina a mentira? Pois o artífice confia na sua própria obra, quando forma ídolos mudos.
19 Ai daquele que diz ao pau: Acorda; e à pedra muda: Desperta! Pode isso ensinar? Eis que está coberto de ouro e de prata, e dentro dele não há espírito algum.
20 Mas o Senhor está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra; cale-se diante dele toda a terra.
Habacuque, capítulo 2, versículos 5 a 20