A consolação de Sião pelo Senhor - capítulo 51
O assunto deste capítulo é a promessa de salvação para Israel em uma base justa e a eliminação do “copo da ira de Deus”. Nele se encontram três chamados para ouvir, atender e não temer (versículos 1, 4 e 7) , e dois para acordar (versículos 9 e 17).
O Senhor se dirige aos que seguem a justiça e buscam o Senhor, e manda que se lembrem dos cuidados de Deus para com eles desde o seu início, quando tirou o seu patriarca Abraão com Sara, sua esposa, da Mesopotâmia, a “rocha donde foram cortados e a caverna do poço donde foram cavados” (versículo 1). Abraão, era como uma rocha da qual se talharam as pedras com que foi construída a casa de Jacó, e Sara como a cavidade do poço de onde foram escavadas.
Eles devem se incentivar com a memória da graça de Deus para com Abraão e Sara, como Ele os abençoou (com prosperidade e vitória sobre seus inimigos, por exemplo), e lhes deu uma posteridade numerosa e a promessa de uma terra própria para a nação que deles resultaria.
Essa promessa, ainda futura, deve ser motivo para a sua consolação, assim como foi para Abraão: “O qual, em esperança, creu contra a esperança, para que se tornasse pai de muitas nações, conforme o que lhe fora dito: Assim será a tua descendência; e sem se enfraquecer na fé, considerou o seu próprio corpo já amortecido (pois tinha quase cem anos), e o amortecimento do ventre de Sara; contudo, à vista da promessa de Deus, não vacilou por incredulidade, antes foi fortalecido na fé, dando glória a Deus, e estando certíssimo de que o que Deus tinha prometido, também era poderoso para o fazer” (Romanos 4:19 a 21).
Assim como alegria veio a Sara depois de um longo período de esterilidade, também Israel, após seu longo tempo de desolação e desterro, ainda terá motivo para rejubilar-se.
O início do versículo 4 trata dos tempos quando a restauração de Israel resultará em bênção para todo o mundo e, posteriormente, o falecimento de toda a velha criação. Sem dúvida não se trata de acontecimento passado, nem pertence aos nossos tempos em que a Igreja de Cristo está sendo formada e completada, mas certamente se realizará no futuro conforme a profecia.
A presente mensagem do evangelho não está em vista aqui, pois o Senhor faz claramente a promessa, "de mim sairá a lei, e estabelecerei a minha justiça como luz dos povos (as nações dos gentios)" (versículo 4). A lei não é a de Sinai, mas sim a legislação que o Senhor introduzirá no Seu Reino na terra, no milênio (mil anos – Atos 2:20, Apocalipse 20:4-6), e que se tornará uma luz para as nações trazendo a Sua justiça. No versículo 5 o Senhor declara que Sua justiça está próxima, Sua salvação está a caminho, e que Seus braços julgarão as nações.
Não só o pecado continuará existindo durante o milênio (embora o diabo fique aprisionado até seu fim – Apocalipse 20:2,3 e 7), mas toda a velha criação continuará a ser prejudicada. Os céus estão a desaparecer como fumaça, a terra está a envelhecer como um vestido, e seus moradores estão a morrer ( 2 Pedro 3:7, 12, Apocalipse 21:1).
Aqueles que são salvos (compreendidos nas palavras "Minha salvação" – versículo 6) nunca perecerão, e a justiça de Deus permanecerá para sempre. E agora, em um impressionante paralelo entre esta passagem e o capítulo 3 de 2 Pedro, segue-se um apelo aos que conhecem a justiça de Deus (vós que conheceis a justiça, vós, povo, em cujo coração está a minha lei) para compartilhá-la. Nesta passagem de Isaías eles são exortados a não temer o opróbrio dos mortais ou se alarmar com seus vitupérios. Os perseguidores vão perecer, como uma peça de vestuário é consumida por uma traça e a lã por um bicho (versículo 8). Um provérbio judeu diz que "o bicho é irmão da mariposa", pois é a larva dela. Deus usa coisas pequenas para realizar grandes fins, seja por meio de julgamento ou para fins de graça.
A memória da libertação do passado e a garantia de libertação futura invocam o apelo vívido, proferido três vezes, para que o “braço do Senhor” (o povo de Israel) desperte. É bom recordar as misericórdias de Deus em tempos passados, mas é necessário que não fiquem apenas em retrospectiva, mas que também reforcem a nossa esperança. A dupla visão aumenta o poder da oração, não apenas pela salvação, mas para o que se espera ainda realizar para a glória de Deus. Isto resulta em uma resposta da Sua parte, que muito excede a mera expectativa de livramento.
A promessa do retorno “dos resgatados do Senhor” é imediatamente seguida com júbilo e perpétua alegria e gozo, desaparecendo a tristeza e o gemido. Tudo isso fala gloriosamente da bem-aventurança milenar que será desfrutada por Israel. A perspectiva é melhorada e reforçada pelo retrospecto dos últimos julgamentos e sofrimentos. É com uma perspectiva ainda mais brilhante que nós, membros da Igreja de Cristo, contemplamos o futuro: seremos ressuscitados, ou transformados, e levados para estar com o nosso Senhor para sempre (João 14:2,3, 1 Tessalonicenses 4:17).
O Senhor, em seguida (versículo 12-16), dá uma mensagem de conforto para aqueles que temem o tirano, seja Nabucodonosor naqueles dias ou o homem do pecado (o Anticristo) no futuro. Eles devem temer o Senhor, que estendeu os céus e lançou as bases da terra e não um homem, frágil por mais terrível que pareça. O exilado cativo está ansioso para ser libertado, a fim de não ser morto ou passar fome. Estes cativos foram soltos naquele tempo por Ciro e os do tempo do Anticristo vão ser soltos pelo Senhor Jesus em sua segunda vinda ao mundo.
O Senhor, que está infinitamente alto, está também intimamente próximo, escondendo Seu povo com a sombra da sua mão. Ele coloca Suas palavras na sua boca, para que possam ser seus missionários para o mundo. A última parte do versículo 16 se refere às condições milenares e consequentemente o plantio dos céus e fundação da terra pode indicar uma alteração no universo quando é estabelecido o Reino de Justiça e paz.
Os restantes versículos descrevem os efeitos dos castigos infligidos à nação de Israel como resultado de sua persistente rebelião contra Deus. Jerusalém é retratada como uma mulher deitada no chão devido ao furor de Deus, atordoada e esgotada.
Nenhum dos seus filhos era capaz de levantar, guiar, ou levá-la pela mão. Devastação, ruína, fome e espada vieram sobre ela, sem que houvesse alguém que a consolasse. Em vez de ajudá-la, seus filhos haviam desmaiado, jazendo nas esquinas das ruas, cheios do furor do Senhor e da repreensão do seu Deus.
A libertação só poderia vir de Deus, e em Sua piedade e misericórdia o “Senhor Deus e o seu Deus” (Deus o Filho) lembra-se que são o seu povo e pleiteia a sua causa (como um sacerdote ou advogado). Ele vai tomar dela a “taça de atordoamento” e o “cálice do Seu furor’ e as dará para os seus algozes beberem, porque em sua crueldade haviam excedido em muito o papel de agentes da disciplina de Deus que lhes cabia. Seriam pisados como pisaram os israelitas.
1 Ouvi-me vós, os que seguis a justiça, os que buscais ao Senhor; olhai para a rocha donde fostes cortados, e para a caverna do poço donde fostes cavados.
2 Olhai para Abraão, vosso pai, e para Sara, que vos deu à luz; porque ainda quando ele era um só, eu o chamei, e o abençoei e o multipliquei.
3 Porque o Senhor consolará a Sião; consolará a todos os seus lugares assolados, e fará o seu deserto como o Edem e a sua solidão como o jardim do Senhor; gozo e alegria se acharão nela, ação de graças, e voz de cântico.
4 Atendei-me, povo meu, e nação minha, inclinai os ouvidos para mim; porque de mim sairá a lei, e estabelecerei a minha justiça como luz dos povos.
5 Perto está a minha justiça, vem saindo a minha salvação, e os meus braços governarão os povos; as ilhas me aguardam, e no meu braço esperam.
6 Levantai os vossos olhos para os céus e olhai para a terra em baixo; porque os céus desaparecerão como a fumaça, e a terra se envelhecerá como um vestido; e os seus moradores morrerão semelhantemente; a minha salvação, porém, durará para sempre, e a minha justiça não será abolida.
7 Ouvi-me, vós que conheceis a justiça, vós, povo, em cujo coração está a minha lei; não temais o opróbrio dos homens, nem vos turbeis pelas suas injúrias.
8 Pois a traça os roerá como a um vestido, e o bicho os comerá como à lã; a minha justiça, porém, durará para sempre, e a minha salvação para todas as gerações.
Isa 51:9 Desperta, desperta, veste-te de força, ó braço do Senhor; desperta como nos dias da antigüidade, como nas gerações antigas. Porventura não és tu aquele que cortou em pedaços a Raabe, e traspassou ao dragão,
10 Não és tu aquele que secou o mar, as águas do grande abismo? o que fez do fundo do mar um caminho, para que por ele passassem os remidos?
11 Assim voltarão os resgatados do Senhor, e virão com júbilo a Sião; e haverá perpétua alegria sobre as suas cabeças; gozo e alegria alcançarão, a tristeza e o gemido fugirão.
12 Eu, eu sou aquele que vos consola; quem, pois, és tu, para teres medo dum homem, que é mortal, ou do filho do homem que se tornará como feno;
13 e te esqueces de Senhor, o teu Criador, que estendeu os céus, e fundou a terra, e temes continuamente o dia todo por causa do furor do opressor, quando se prepara para destruir? Onde está o furor do opressor?
14 O exilado cativo depressa será solto, e não morrerá para ir à sepultura, nem lhe faltará o pão.
15 Pois eu sou o Senhor teu Deus, que agita o mar, de modo que bramem as suas ondas. O Senhor dos exércitos é o seu nome.
16 E pus as minhas palavras na tua boca, e te cubro com a sombra da minha mão; para plantar os céus, e para fundar a terra, e para dizer a Sião: Tu és o meu povo.
17 Desperta, desperta, levanta-te, ó Jerusalém, que bebeste da mão do Senhor o cálice do seu furor; que bebeste da taça do atordoamento, e a esgotaste.
18 De todos os filhos que ela teve, nenhum há que a guie; e de todos os filhos que criou, nenhum há que a tome pela mão.
19 Estas duas coisas te aconteceram; quem terá compaixão de ti? a assolação e a ruína, a fome e a espada; quem te consolará?
20 Os teus filhos já desmaiaram, jazem nas esquinas de todas as ruas, como o antílope tomado na rede; cheios estão do furor do Senhor, e da repreensão do teu Deus.
21 Pelo que agora ouve isto, ó aflita, e embriagada, mas não de vinho.
22 Assim diz o Senhor Deus e o teu Deus, que pleiteia a causa do seu povo: Eis que eu tiro da tua mão a taça de atordoamento e o cálice do meu furor; nunca mais dele beberás;
23 mas pô-lo-ei nas mãos dos que te afligem, os quais te diziam: Abaixa-te, para que passemos sobre ti; e tu puseste as tuas costas como o chão, e como a rua para os que passavam.
Isaías capítulo 51