O pecado de Israel e a obediência do Servo (capítulo 50)
Neste capítulo o Servo, o Senhor de Israel (Deus Filho), justifica diante do povo de Israel, mediante perguntas e respostas, os castigos que o povo recebeu do Senhor Deus (Deus Pai).
Dois fatos se destacam: a responsabilidade de Israel pelo seu estado de rejeição, e a firmeza e a fidelidade do Servo, ambos repudiando a ideia que os males vindos à nação resultavam de ações arbitrárias da parte dEle.
O Senhor nega ter quebrado o relacionamento íntimo que tinha com a nação de Israel, e ela não estava impedida de voltar para Ele (ver Deuteronômio 24:1 e 4). O Senhor não devia nada a ninguém, para ter que entregar o povo em pagamento. A nação fora repudiada e vendida a outras nações por causa das suas maldades e transgressões. Ou seja, a mãe (a nação) sofreu por causa da perversidade do seu povo (seu filhos). Os pecadores, frequentemente, atribuem os males que vêm sobre eles a qualquer coisa menos às suas próprias transgressões.
Seguem-se mais quatro perguntas, a respeito do poder do Senhor no exercício da misericórdia, todos conduzindo a um testemunho pessoal pelo próprio Messias.
“Por que razão, quando eu vim, ninguém apareceu? ” O tempo é pretérito profético, como tantas outras partes desta profecia: o profeta fala de fatos futuros como se já estivessem no passado. O Senhor "veio," não apenas através de Seus profetas, nem simplesmente para a libertação do cativeiro, mas também na pessoa de seu Servo, o Messias-Redentor, como se também Ele já tivesse vindo.
“Quando chamei, não houve quem respondesse? ” O povo prosseguiu em seu caminho rebelde, não dando atenção aos chamados para arrependimento, obediência e dedicação a Deus feitos pelos profetas.
“Acaso tanto se encolheu a minha mão, que já não possa remir? ” A mão do Deus onipotente jamais pode ser encurtada, o que seria indicação de enfraquecimento. A pergunta é apenas retórica.
“Ou não tenho poder para livrar? ” Aquele que pode secar o mar, tornar rios em deserto, vestir os céus com negridão e fazer de saco a sua cobertura (referindo-se especialmente aos seus juízos retributivos na Babilônia), tem poder para livrar. Em vista disso, Ele mandaria Seu Servo. Chegado o tempo, Ele veio e declarou desde o início do Seu ministério, que havia sido enviado "para anunciar boas novas aos pobres... Proclamar libertação aos cativos... para proclamar o ano aceitável do Senhor" (Lucas 4:18). Contudo, ao invés de ouvir, eles se esforçaram para deter e silenciá-lo.
Em seguida, no versículo 4 temos as palavras do próprio Jesus Cristo, uma descrição do Seu testemunho como um enviado, sua obediência a Quem o enviou, Seus sofrimentos e Sua demanda.
Deus falou aos profetas por revelações especiais e periódicas, por visões e sonhos. Com o Seu Servo já era diferente. Aqui Ele revela o segredo de Sua vida interior nos dias da Sua carne e a fonte secreta de Seu ministério e maneiras: “O Senhor Deus me deu a língua dos instruídos para que eu saiba sustentar com uma palavra o que está cansado; ele desperta-me todas as manhãs; desperta-me o ouvido para que eu ouça como discípulo.”
Condescendência e humildade bem disposta se percebem através da Sua ilustração do discipulado. Nos dias do cumprimento desta profecia, Ele disse "a minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou!” (João 7:16); também "como o Pai me ensinou, assim falo" (João 8:28), e “Eu falo do que vi junto do meu Pai” (João 8:38) e, ainda, novamente, "eu não falei por mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, esse me deu mandamento quanto ao que dizer e como falar” João 12:49).
Como Ele "sustentou com palavras" os cansados, é contado nas narrativas do Evangelho, tanto em seu ministério público (por exemplo, Mateus 11:28), no conforto que deu à viúva, o doente, o angustiado e os atingidos por tempestade.
O Senhor diariamente ouvia a voz do Pai celestial. Era sua alegria dizer "faço sempre o que é do seu agrado” (João 8:29), um exemplo para nós, porque é quando estamos atentos à sua voz que podemos cumprir a Sua vontade nas tarefas diárias, o dia-a-dia em que podemos cumprir a sua vontade, permitindo-nos dizer com Paulo, "também nos esforçamos para ser-lhe agradáveis” – 2 Coríntios 5:9).
A perfeição da obediência do Servo se vê no versículo 5 “O Senhor Deus abriu-me os ouvidos, e eu não fui rebelde, nem me retirei para trás”. O Senhor Jesus sabia suportar todo o sofrimento que punham diante dele, e com firmeza inabalável prosseguiu o seu caminho para a Cruz. Não só isto, mas facilitava os golpes dos seus algozes, “Ofereci as minhas costas aos que me feriam, e as minhas faces aos que me arrancavam a barba; não escondi o meu rosto dos que me afrontavam e me cuspiam.“ Com impressionantes detalhes esta profecia prediz o que o Senhor realmente suportou como registrado no Evangelho. Ele deixou Seu rosto nas mãos dos seus perseguidores sem vacilar, sabendo que as palavras que se seguem seriam cumpridas, que o Senhor Deus iria ajudá-lo e que não seria envergonhado.
Seu exemplo é um incentivo para nós, quando viermos a sofrer a pressão de um antagonismo feroz, para que possamos cumprir aquilo que o Senhor nos confiou com fixidez de propósito. Nunca chegaremos a sofrer como Ele, mas a nossa vida e testemunho podem ser marcadas pelas mesmas características que marcaram a Sua: "por muitas tribulações nos é necessário entrar no reino de Deus” (Atos 14:22), mas sofrer por causa dEle faz de tudo uma glória e alegria.
iria ser triunfalmente restabelecido. Ele desafia "Perto está o que me justifica; quem contenderá comigo? Apresentemo-nos juntos; quem é meu adversário? Chegue-se para mim”. Ele não diz "Ele vai justificar-Me", mas "Ele está perto" pois não tinha pecado para justificar, salvo os daqueles por quem morreu. Sua justificação teve lugar na sua ressurreição, quando “com poder foi declarado Filho de Deus segundo o espírito de santidade, pela ressurreição dentre os mortos” (Romanos 1:4).
Uma segunda vez ele diz "Eis que o Senhor Deus me ajuda " Tais expressões repetidas são características das profecias de Isaías. Os Seus acusadores e inimigos de Deus, envelhecerão e morrerão.
Aqui termina o testemunho do próprio Messias. Assim como o capítulo que abriu com a declaração do Senhor, com ele também fecha. Está endereçado primeiramente para o crente que teme ao Senhor e obedece à voz do Seu Servo, um título que retorna ao que tem sido afirmado sobre Ele nos versículos 4 e 5, isto é, quem segue Seus passos (versículo 10).
O último versículo é destinado aos incrédulos com a sua autoconfiança presunçosa: “acendeis fogo, e vos cingis com tições acesos”. Não só isso, seu fogo está aceso contra o Senhor e contra Seu Cristo. Por isso o castigo divino é inevitável. Eles devem sofrer dos efeitos das queimadas que acenderam: “andai entre as labaredas do vosso fogo, e entre os tições que ateastes”.
Esta é a mão do Senhor Deus. As atividades destes incrédulos presunçosos, com toda a sua malícia e indiferença ao aviso divino, os levarão a uma eternidade terrível, pois “jazerão em tormentos”, um contraste com o repouso jubiloso do crente que fica com Seu Senhor e Deus!
1 Assim diz o Senhor: Onde está a carta de divórcio de vossa mãe, pela qual eu a repudiei? ou quem é o meu credor, a quem eu vos tenha vendido? Eis que por vossas maldades fostes vendidos, e por vossas transgressões foi repudiada vossa mãe.
2 Por que razão, quando eu vim, ninguém apareceu?
quando chamei, não houve quem respondesse?
Acaso tanto se encolheu a minha mão, que já não possa remir?
ou não tenho poder para livrar? Eis que com a minha repreensão faço secar o mar, e torno os rios em deserto; cheiram mal os seus peixes, pois não há água, e morrem de sede:
3 Eu visto os céus de negridão, e lhes ponho cilício por sua cobertura.
4 O Senhor Deus me deu a língua dos instruídos para que eu saiba sustentar com uma palavra o que está cansado; ele desperta-me todas as manhãs; desperta-me o ouvido para que eu ouça como discípulo.
5 O Senhor Deus abriu-me os ouvidos, e eu não fui rebelde, nem me retirei para trás.
6 Ofereci as minhas costas aos que me feriam, e as minhas faces aos que me arrancavam a barba; não escondi o meu rosto dos que me afrontavam e me cuspiam.
7 Pois o Senhor Deus me ajuda; portanto não me sinto confundido; por isso pus o meu rosto como um seixo, e sei que não serei envergonhado.
8 Perto está o que me justifica; quem contenderá comigo? apresentemo-nos juntos; quem é meu adversário? chegue-se para mim.
9 Eis que o Senhor Deus me ajuda; quem há que me condene? Eis que todos eles se envelhecerão como um vestido, e a traça os comerá.
10 Quem há entre vós que tema ao Senhor? ouça ele a voz do seu servo. Aquele que anda em trevas, e não tem luz, confie no nome do Senhor, e firme-se sobre o seu Deus.
11 Eia! todos vós, que acendeis fogo, e vos cingis com tições acesos; andai entre as labaredas do vosso fogo, e entre os tições que ateastes! Isto vos sobrevirá da minha mão, e em tormentos jazereis.
Isaías capítulo 50