A destruição da vinha do Senhor (5:1 a 7)
Isaías pede para cantar uma canção de amor para seu bem-amado (o Senhor), que ilustra a desobediência, rebelião e idolatria do povo de Jerusalém e Judá.
Nessa canção o Senhor possuía uma vinha num lugar fertilíssimo localizado num outeiro. Ele cultivou a terra, plantou as melhores videiras, edificou uma torre (para defesa) e construiu um lagar (para extrair o suco das uvas). Esperou que produzisse uvas, mas só deu uvas bravas (pequenas, ácidas e sem utilidade).
Indignado, o Senhor perguntou aos moradores de Jerusalém e aos homens de Judá: o que mais Ele poderia ter feito para a vinha, além do que já fizera? E por que a vinha não correspondeu às Suas expectativas?
Sem esperar resposta, porque não havia nenhuma, o Senhor declarou o que iria fazer com a vinha: destruiria sua sebe e parede circundante, que a protegiam, e tiraria tudo que se encontrava ali, a fim de fazer um deserto do local. Ficaria abandonado para nele crescerem ervas daninhas e espinheiros, mas não permitiria que nele chovesse mais.
Terminando, Isaías esclarece que a “vinha do Senhor dos Exércitos” da canção representa a casa de Israel, e as videiras os homens de Judá (o que restava do reino dos judeus, pois o reino de Israel já tinha sido dispersado). Ele esperava que exercessem a justiça (obediência, agradecimento, amor, adoração, serviço), mas foram desobedientes, rebeldes e sanguinários, e acrescenta “eis aqui clamor” – os gritos dos que pediam misericórdia pela opressão que sofriam.
Conhecendo já os fatos que se seguiram, sabemos que em 588 a.C. Jerusalém caiu sob o exército caldeu de Nabucodonozor, pouco mais de um século depois de Isaías escrever esta profecia, e levou cativa toda a população de Jerusalém para a Babilônia.
O castigo dos maus (5:8-30)
Nos versículos 8 a 23 temos seis “ais”, sendo a continuação do primeiro no capítulo 3. As desgraças são pronunciadas da seguinte forma:
São os latifundiários avarentos que tentam acumular para si os bens imobiliários do mercado, até que haja uma aguda escassez de casas e terras. Eles planejam viver em solitário esplendor, enquanto os outros não terão moradia própria. Mas o cativeiro vai deixar muitas casas vazias, e a terra produzirá poucas colheitas por falta de lavradores.
A aplicação ao cristão: Se não nos conscientizarmos que tudo o que somos e temos pertencem a Cristo, podemos ser levados a essa utilização abusiva daquilo que nos foi confiado, e a procurarmos servir os nossos próprios fins desse modo, trazendo o desastre da esterilidade e necessidade espiritual.
Estes são os alcoólatras, que nunca se saciam da bebida. Fazem seus banquetes acompanhados por música instrumental, em total desprezo de Deus e suas obras. É para este tipo de comportamento irracional que se aproximava o exílio. Os homens honrados e a multidão vão sofrer fome e morte. Mas Deus será vindicado pelo seu justo julgamento, quando pastores beduínos estrangeiros alimentarem seus rebanhos nas ruínas de Israel.
A aplicação ao cristão: a auto-indulgência embota o sentido espiritual pelo qual compreendemos os caminhos do Senhor.
São os mentirosos e os que desafiam a Deus, que se unem para pecar e arrastam a culpa e seu castigo atrás de si. Eles desafiam a Deus para acelerar Sua punição que lhes prometeu.
São os que maldosamente confundem o mal com o bem, as trevas com a luz e o doce com o amargo. Subvertem os princípios morais, negando a diferença entre o bem e o mal. Não aceitam o conceito de moralidade.
São homens vaidosos e convencidos, que não aceitam conselhos de outros mais sábios que eles. Esta condição está intimamente ligada com a dos mencionados sob os dois “ais” anteriores. É o concomitante natural da rejeição da palavra de Deus e da subversão dos costumes.
São os juízes, respeitados pela sua capacidade e habilidade no uso de bebidas alcoólicas e que pervertem a justiça e tiram o direito dos inocentes mediante subornos. O profeta novamente é sarcástico. Eles são "poderosos", ou seja, homens de renome, na sua dupla incriminação.
Por rejeitarem a lei e a palavra do Senhor, estes homens ímpios serão consumidos como a grama num incêndio de campo, suas raízes apodrecerão e a sua honra se desfará como o pó.
Foi por isso que o Senhor se irou contra o Seu povo e o feriu, matando muitos deles. Mas continua irado e continuará Sua punição. Convocará as nações de longe, desde as extremidades da terra, e elas virão muito apressadamente, em perfeitas condições físicas, perfeitamente uniformizadas, bem armadas. Os cavalos e carros se aproximarão rápida e furiosamente. As tropas atacarão como um leão sobre a população e, em seguida, levarão as pessoas para o exílio. Será um dia negro para Judá!
A descrição geral dada da punição pelo Senhor não só se aplica às invasões dos caldeus, mas também às dos poderes subsequentes, atingindo um clímax na conquista romana e a eventual destruição da cidade e a dispersão do povo.
Este quinto capítulo, portanto, tem três partes:
Deus em sua graça nada deixou desfeito para podermos ser proveitosos para a Sua glória, por Seu Espírito e Sua Palavra. Se resolvermos não só ser infrutíferos, mas praticar muitas formas de mal, "o julgamento deve começar pela casa de Deus" (1 Pedro 4:17).
1 Ora, seja-me permitido cantar para o meu bem amado uma canção de amor a respeito da sua vinha. O meu amado possuía uma vinha num outeiro fertilíssimo.
2 E, revolvendo-a com enxada e limpando-a das pedras, plantou- a de excelentes vides, e edificou no meio dela uma torre, e também construiu nela um lagar; e esperava que desse uvas, mas deu uvas bravas.
3 Agora, pois, ó moradores de Jerusalém, e homens de Judá, julgai, vos peço, entre mim e a minha vinha.
4 Que mais se podia fazer à minha vinha, que eu lhe não tenha feito? e por que, esperando eu que desse uvas, veio a produzir uvas bravas?
5 Agora, pois, vos farei saber o que eu hei de fazer à minha vinha: tirarei a sua sebe, e será devorada; derrubarei a sua parede, e sera pisada;
6 e a tornarei em deserto; não será podada nem cavada, mas crescerão nela sarças e espinheiro; e às nuvens darei ordem que não derramem chuva sobre ela.
7 Pois a vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta das suas delícias; e esperou que exercessem juízo, mas eis aqui derramamento de sangue; justiça, e eis aqui clamor.
Woe to the Wicked
8 Ai dos que ajuntam casa a casa, dos que acrescentam campo a campo, até que não haja mais lugar, de modo que habitem sós no meio da terra!
9 A meus ouvidos disse o Senhor dos exércitos: Em verdade que muitas casas ficarão desertas, e até casas grandes e lindas sem moradores.
10 E dez jeiras de vinha darão apenas um bato, e um hômer de semente não dará mais do que uma efa.
11 Ai dos que se levantam cedo para correrem atrás da bebida forte e continuam até a noite, até que o vinho os esquente!
12 Têm harpas e alaúdes, tamboris e pífanos, e vinho nos seus banquetes; porém não olham para a obra do Senhor, nem consideram as obras das mãos dele.
13 Portanto o meu povo é levado cativo, por falta de entendimento; e os seus nobres estão morrendo de fome, e a sua multidão está seca de sede.
14 Por isso o Seol aumentou o seu apetite, e abriu a sua boca desmesuradamente; e para lá descem a glória deles, a sua multidão, a sua pompa, e os que entre eles se exultam.
15 O homem se abate, e o varão se humilha, e os olhos dos altivos se abaixam.
16 Mas o Senhor dos exércitos é exaltado pelo juízo, e Deus, o Santo, é santificado em justiça.
17 Então os cordeiros pastarão como em seus pastos; e nos campos desertos se apascentarão cevados e cabritos.
18 Ai dos que puxam a iniqüidade com cordas de falsidade, e o pecado como com tirantes de carros!
19 E dizem: Apresse-se Deus, avie a sua obra, para que a vejamos; e aproxime-se e venha o propósito do Santo de Israel, para que o conheçamos.
20 Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que põem as trevas por luz, e a luz por trevas, e o amargo por doce, e o doce por amargo!
21 Ai dos que são sábios a seus próprios olhos, e astutos em seu próprio conceito!
22 Ai dos que são poderosos para beber vinho, e valentes para misturar bebida forte;
23 dos que justificam o ímpio por peitas, e ao inocente lhe tiram o seu direito!
24 Pelo que, como a língua de fogo consome o restolho, e a palha se desfaz na chama assim a raiz deles será como podridão, e a sua flor se esvaecerá como pó; porque rejeitaram a lei do Senhor dos exércitos, e desprezaram a palavra do santo de Israel,
25 Por isso se acendeu a ira do Senhor contra o seu povo, e o Senhor estendeu a sua mão contra ele, e o feriu; e as montanhas tremeram, e os seus cadáveres eram como lixo no meio das ruas; com tudo isto não tornou atrás a sua ira, mas ainda está estendida a sua mão.
26 E ele arvorará um estandarte para as nações de longe, e lhes assobiará desde a extremidade da terra; e eis que virão muito apressadamente.
27 Não há entre eles cansado algum nem quem tropece; ninguém cochila nem dorme; não se lhe desata o cinto dos lombos, nem se lhe quebra a correia dos sapatos.
28 As suas flechas são agudas, e todos os seus arcos retesados; os cascos dos seus cavalos são reputados como pederneira, e as rodas dos seus carros qual redemoinho.
29 O seu rugido é como o do leão; rugem como filhos de leão; sim, rugem e agarram a presa, e a levam, e não há quem a livre.
30 E bramarão contra eles naquele dia, como o bramido do mar; e se alguém olhar para a terra, eis que só verá trevas e angústia, e a luz se escurecerá nas nuvens sobre ela.
Isaías capítulo 5