O Senhor Jesus, o Filho de Deus, se identifica claramente no primeiro versículo deste capítulo: o que Ele diz sobre Si mesmo em Lucas 4:18,19 é idêntico, com pequenas variações, ao que aqui é dito pelo Servo do Senhor, vejamos: “O Espírito do Senhor está sobre Mim, porquanto Me ungiu para anunciar boas novas aos pobres; enviou-Me para proclamar libertação aos cativos, e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e para proclamar o ano aceitável do Senhor.” Depois de ler esta mensagem na sinagoga de Nazaré, o Senhor Jesus fechou o livro e declarou: “Hoje se cumpriu esta escritura aos vossos ouvidos”.
Aqui aparecem as três pessoas da Trindade logo no início: o Espírito, o Senhor e Mim. Voltando ao texto neste capítulo de Isaías, o título de "o Senhor Deus," é mencionado quatro vezes no capítulo 50:4-9. A unção provavelmente ocorreu quando, no batismo do Senhor Jesus, "o Espírito Santo desceu sobre Ele em uma forma corpórea, como uma pomba" (Lucas 3:22, 4:1,18).
A palavra traduzida como "mansos", no original se refere aos mendigos e aos que muito sofrem. A expressão “restaurar os contritos de coração” literalmente significa aplicar uma atadura para aliviar as feridas do coração. O Evangelho de Lucas registra quase imediatamente após o batismo alguns atos de cura do Senhor Jesus (Lucas 4:40, 7:13-15, 8:43-56, 13:11-13 e 17:11-19).
Os “cativos” cuja liberdade é proclamada são, em linguagem espiritual, os que foram presos com os grilhões do pecado e do diabo. A "restauração da vista aos cegos” aconteceu fisicamente durante o ministério do Senhor Jesus, mas no sentido espiritual entende-se como restaurar a visão dos que se tornaram cegos com as falsas religiões e o ateísmo. O Senhor Jesus comentou sobre a cegueira espiritual dos fariseus, escribas e saduceus do Seu tempo (Mateus 23:24). Grande é a alegria quando a cegueira das tradições e religiões humanas é apagada pela luz do Evangelho, dando-nos a visão espiritual do grande amor do nosso Deus que se manifestou ao sacrificar o Seu Filho para nos livrar da pena do pecado.
Ele foi enviado para "apregoar o ano aceitável do Senhor," (literalmente, "o ano do bom prazer do Senhor,", versículo 2). O ano não é o tempo definido no calendário, mas um determinado período. Esse período envolve os dias do testemunho do Senhor encarnado, e, em seguida os da pregação do Evangelho a Israel; aplica-se ainda, em um sentido mais amplo, a todo o período da graça do Evangelho. Ao citar esta passagem de Isaías na sinagoga, o Senhor Jesus interrompeu a leitura neste ponto, pois "o dia da vingança do nosso Deus," que completa a citação, ainda estava por vir. Mais tarde, Ele confirmou que os dias de vingança ainda viriam sobre a nação, e que Jerusalém seria "pisada dos gentios, até que seja cumprido os tempos dos gentios" (Lucas 21:22-24). Os tempos dos gentíos correspondem aos da formação da igreja de Cristo, terminando no seu arrebatamento.
Os objetivos mencionados em seguida, "consolar todos os tristes; ordenar acerca dos que choram em Sião” (versículo 3) serão cumpridos após o tempo de "angústias para Jacó"(Jeremias 30:7), quando o remanescente piedoso em Israel já tiver passado por esse período de sofrimento sem precedentes. O Senhor, vindo como Seu Libertador nessa segunda vinda ao mundo, irá ter prazer em ministrar o Seu conforto, dando a eles "uma grinalda em vez de cinzas" (literalmente um diadema para adornar a cabeça).
O óleo de gozo simboliza aquilo que refresca e dá saúde. Será fornecido no dia quando o Senhor assumir seu reino no mundo, no meio do Seu povo aqui. Ele vai vesti-los com "vestidos de louvor em vez de espírito angustiado” (a palavra “angustiado” descreve uma condição tão séria que pode causar a morte). O louvor dos remidos, como roupa sobre o corpo, será uma expressão de júbilo. O Senhor, que faz todas as coisas cooperarem para o bem daqueles que ama, também transforma nossa própria tristeza em alegria. Não poderia haver tanta alegria se não fosse precedida com grande tristeza. A nuvem escura faz com que se torne mais brilhante a luz do sol que desponta em seguida.
A mudança produzida pelo Senhor em Israel também será de caráter moral. Os israelitas serão chamados "árvores de justiça". Árvores sugerem firmeza, plenitude, verdura e fruta. A justiça que irá caracterizar a nação procederá do Senhor, donde a expressão “plantação do Senhor”, para que Ele seja glorificado.
Os versículos 4 a 9 prevêm a restauração da terra prometida e a exaltação de Israel à sua posição de autoridade, dignidade e honra sobre as nações dos gentios. Os locais arruinados e desolados de há muito serão reedificados e restaurados, e os estrangeiros que os afligiam anteriormente agora os servirão como pastores dos seus rebanhos, lavradores e vinheiros.
Os israelitas serão chamados “sacerdotes do Senhor”, cumprindo assim o desejo do Senhor no seu início, que fosse "um reino sacerdotal" (Êxodo 19:6). Em seu ministério sacerdotal estarão associados com a Igreja de Cristo (Apocalipse 20:6). As nações dos gentios, reconhecendo o verdadeiro Deus, irão aceitá-los nessa função e na de “ministros de nosso Deus”: todos os gentios, que em períodos passados usaram o mundo para seu próprio enriquecimento, transferirão suas riquezas para o povo de Israel, que "comerá as riquezas das Nações" e se gloriará em tudo aquilo de que os gentios se vangloriavam, recebendo deles dupla honra.
Este assunto é descrito pelo apóstolo Paulo em Romanos 11:12-32: Se a queda e perda atual dos judeus trouxe riquezas aos gentios através da graça e ministério do Evangelho, ainda maior será o efeito da sua plenitude, isto é, a prosperidade total nacional de Israel: "Quanto ao evangelho, eles na verdade, são inimigos por causa de vós; mas, quanto à eleição, amados por causa dos pais.” (Romanos 8:28).
"Em lugar da vossa vergonha, haveis de ter dupla honra” (versículo 7). Terão, por exemplo, dupla posse das suas terras, que se estenderão muito além de seus antigos limites. Considerando que anteriormente estavam na vergonha, objetos de opróbrio e desprezo, eles se encherão de alegria superior e sem fim. Haverá assim dupla compensação pelos seus sofrimentos.
No versículo 8 o Senhor confirma que todos estes benefícios se devem à Sua bondade. Ele ama o juízo e detesta o roubo e toda a injustiça que Israel havia sofrido de seus adversários. Fielmente lhes dará a sua recompensa e fará uma aliança eterna com eles, e com isto a sua posteridade será conhecida, entre as nações que a virem, como sendo abençoados filhos de Deus.
O que se segue, nos versículos 10 e 11, ao contrário do parecer de alguns comentaristas, é certamente dito pela mesma pessoa que está falando desde o início deste capítulo. Aqui o Senhor Jesus se identifica com o Seu povo e declara ao Senhor Deus Pai o Seu regozijo e a alegria do povo pelo que se realizará ainda, como se já tivesse acontecido. Suas são as vestes da salvação, e o manto de justiça, usados por Ele como um noivo se adorna com uma grinalda e a noiva se enfeita com as suas joias. Isso nos lembra que Ele é simbolicamente o noivo da Igreja, assim como o marido de Israel.
No dia quando Sua justiça manifestar-se na terra, Ele atuará na tríplice capacidade de um Rei universal, Sacerdote da ordem de Melquizedeque (Hebreus 7:17 e 9:11) e noivo celestial da Igreja (Efésios 5:25-32).
Assim como a terra faz brotar seus renovos, e como o jardim faz brotar o que nele se semeia, o Senhor Deus fará surgir a justiça e o louvor (ou notoriedade) em todas as nações. É Deus que faz com que a semente germine, e o portador da semente é Servo de Deus, o Senhor Jesus Cristo. Todos estes processos estão sendo efetivados através do Evangelho proclamado atualmente aos povos de todas as nações, mas a aplicação direta aqui é ao estado de Israel milenar.
Então Ele vai proclamar o dia do julgamento de Deus. É quando vai consolar aqueles que choram em Sião, concedendo-lhes uma grinalda em vez de cinzas sobre suas cabeças, o óleo da alegria em vez de luto, louvor em vez de um espírito de peso. Seu povo escolhido então será chamado árvores de Justiça, plantados pelo Senhor e trazendo glória a Ele. Eles vão reconstruir as cidades da terra prometida que já se deitaram em ruínas.
1 O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos;
2 a apregoar o ano aceitável do Senhor... e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes;
3 a ordenar acerca dos que choram em Sião que se lhes dê uma grinalda em vez de cinzas, óleo de gozo em vez de pranto, vestidos de louvor em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem árvores de justiça, plantação do Senhor, para que ele seja glorificado.
4 E eles edificarão as antigas ruínas, levantarão as desolações de outrora, e restaurarão as cidades assoladas, as desolações de muitas gerações.
5 E haverá estrangeiros, que apascentarão os vossos rebanhos; e estranhos serão os vossos lavradores e os vossos vinheiros.
6 Mas vós sereis chamados sacerdotes do Senhor, e vos chamarão ministros de nosso Deus; comereis as riquezas das nações, e na sua glória vos gloriareis.
7 Em lugar da vossa vergonha, haveis de ter dupla honra; e em lugar de opróbrio exultareis na vossa porção; por isso na sua terra possuirão o dobro, e terão perpétua alegria.
8 Pois eu, o Senhor, amo o juízo, aborreço o roubo e toda injustiça; fielmente lhes darei sua recompensa, e farei com eles um pacto eterno.
9 E a sua posteridade será conhecida entre as nações, e os seus descendentes no meio dos povos; todos quantos os virem os reconhecerão como descendência bendita do Senhor.
10 Regozijar-me-ei muito no Senhor, a minha alma se alegrará no meu Deus, porque me vestiu de vestes de salvação, cobriu-me com o manto de justiça, como noivo que se adorna com uma grinalda, e como noiva que se enfeita com as suas jóias.
11 Porque, como a terra produz os seus renovos, e como o horto faz brotar o que nele se semeia, assim o Senhor Deus fará brotar a justiça e o louvor perante todas as nações.
Isaías capítulo 61