O Senhor declara que não se calará, nem por amor a Sião (Jerusalém) descansará, até que “saia a sua justiça como um resplendor, e a sua salvação como uma tocha acesa” (o “resplendor” é como o brilho da alva).
O versiculo 2 retoma o que foi dito no final do capítulo anterior relativo à justiça e ao renome do povo de Israel sendo manifestos para todos os gentios. Outra vez a posição completamente nova do povo será marcada pela outorga de um novo nome que lhe será designado: Jeremias 33:16 informa que esse nome é "O Senhor é nossa justiça." Assim como no caso do crente a retidão é imputada pela graça e se manifesta no caráter e conduta, assim também vai ser com o Israel redimido. Isto é o que toda a passagem desde o versículo 10 até 62:2 estabelece.
A linguagem figurativa do versículo 3 é linda. A metáfora que descreve a condição de Sião é a de "uma coroa [ou diadema] de adorno na mão do Senhor e um diadema real na mão do teu Deus." A palavra traduzida como "coroa" é usada da mitra, ou melhor, o turbante do sumo sacerdote (Êxodo 28:4,39, Zacarias 3,5). Aqui há duas palavras hebraicas diferentes para a "mão", a primeira significando a mão aberta, mas indicando aquilo que é exposto por ela. A duas juntas revelam a intensa alegria no coração do Senhor em manifestar os efeitos de Sua graça e poder de resgate.
Novamente as duas descrições marcam a combinação da autoridade real e do sacerdócio, e nesta dupla capacidade Israel irá compartilhar a autoridade de Cristo. Em vários momentos na história do mundo desde Ninrode (Gênesis 10:9) até o Anticristo (Apocalipse 13), homens de renome têm procurado exercer essa função dupla, a fim de ter autoridade sobre tanto a vida religiosa como a civil daqueles que lhes estão subjugados. Toda a história é a de um fracasso deprimente e catastrófico.
Em futuro, Jerusalém nunca mais se chamará "Desamparada" nem sua terra se denominará “Desolada”. A cidade será conhecida como "Hefzibá" (meu prazer está nela) e a terra “Beulá” (casado); Seu amor será tão forte e tão cheio de alegria, como o amor dos recém casados. O pensamento em cada parte do versículo é o de ganhar o direito inalienável de um noivo "de possuir e de segurar”.
A mesma figura é usada para a união espiritual do crente com Cristo: “Nós pertencemos àquele que ressurgiu dentre os mortos a fim de que demos fruto para Deus” (Romanos 7:4). Estamos a viver, portanto, como aqueles com quem Ele pode deliciar-se.
Em vista de tudo isso Deus colocou vigias sobre as muralhas de Jerusalém, que dia e noite intercedem com Ele até que Seus propósitos concernentes a Seu povo terrestre sejam realizados. Os vigias representam os que oram pela paz de Jerusalém. Esta intercessão especial deveria ser nossa ocupação constante. A linguagem é viva: "ó vós, os que fazeis lembrar ao Senhor, não descanseis, e não lhe deis a ele descanso até que estabeleça Jerusalém e a ponha por objeto de louvor na terra” (versículos 6 e 7). A palavra traduzida "estabelecer" significa aprontar, preparar para si mesmo.
Que tal intercessão é da vontade de Deus se vê confirmado pela declaração de juramento do Senhor nos versículos 8 e 9: "O Senhor jurou pela Sua mão direita e pelo braço da Sua força" (ou seja, o braço mais forte). Compare isto com Hebreus 6:13. Ele declara que os poderes gentios nunca mais irão pilhar a terra e roubar seus donos daquilo que produziram. Ao contrário, “os que ajuntarem o seu trigo o comerão, e louvarão ao Senhor” e “os que o colherem o beberão nos átrios do Meu santuário”. Isso nos lembra que devemos nos habituar a louvar a Deus no dia-a-dia por tudo o que Ele nos concede através de benefícios materiais, tais como alimentos e vestuário. Nossos agradecimentos às refeições nunca devem ser formais, mas devem ser dados de um coração que já reconhece a bondade de Deus. A comida que comemos "é santificada pela palavra de Deus e oração" (1 Timóteo 4:5). Em futuro os que tiverem colhido as uvas beberão o seu suco nos santuários de Deus. Eles gozarão a honra de subirem à casa do Senhor com seus corações cheios de gratidão.
Esta constante ida até à casa do Senhor recebe uma vívida antecipação no comando do versículo 10: “Passai, passai pelas portas; preparai o caminho ao povo”. Os obstáculos à entrada devem ser removidos: "aplanai, aplanai a estrada, limpai-a das pedras". O caminho do povo será o caminho do Senhor (ver capítulo 40:3). Isto tem uma aplicação espiritual, além de física. Tudo o que constitui um obstáculo à bênção espiritual será retirado do coração de Israel.
Tudo o que apresenta uma pedra de tropeço, tudo o que dificulta a nossa apreciação do acesso livre e constante ao Trono da Graça, tudo o que atrapalha a nossa comunhão com Deus está para ser removido. Muitas vezes há muito lixo para limpar, tais como associações mundanas e desejos carnais.
Os dois versículos finais retratam o cumprimento dessas promessas para Israel, uma bandeira será arvorada para as nações dos gentios (a palavra no final do versículo 10 é plural, "povos"). O Senhor fará proclamar por toda a terra que a salvação chegou para a filha de Sião (Israel), e "eis que com ele vem o Seu galardão, e a Sua recompensa diante dEle”. As nações irão reconhecer Israel como "o povo santo, remidos do Senhor." Jerusalém será chamada “Procurada, cidade não desamparada”. Isso quer dizer, os homens vão ver a glória e beleza de Jerusalém. As maravilhas da graça e do poder de Deus serão manifestadas a eles. A cidade vai estar cheia de gente, e as ruas se encherão de meninos e meninas, que nelas brincarão (Zacarias 8:4,5).
1 Por amor de Sião não me calarei, e por amor de Jerusalém não descansarei, até que saia a sua justiça como um resplendor, e a sua salvação como uma tocha acesa.
2 E as nações verão a tua justiça, e todos os reis a tua glória; e chamar-te-ão por um nome novo, que a boca do Senhor designará.
3 Também serás uma coroa de adorno na mão do Senhor, e um diadema real na mão do teu Deus.
4 Nunca mais te chamarão: Desamparada, nem a tua terra se denominará Desolada; mas chamar-te-ão Hefzibá, e à tua terra Beulá; porque o Senhor se agrada de ti; e a tua terra se casará.
5 Pois como o mancebo se casa com a donzela, assim teus filhos se casarão contigo; e, como o noivo se alegra da noiva, assim se alegrará de ti o teu Deus
6 e Jerusalém, sobre os teus muros pus atalaias, que não se calarão nem de dia, nem de noite; ó vós, os que fazeis lembrar ao Senhor, não descanseis,
7 e não lhe deis a ele descanso até que estabeleça Jerusalém e a ponha por objeto de louvor na terra.
8 Jurou o Senhor pela sua mão direita, e pelo braço da sua força: Nunca mais darei de comer o teu trigo aos teus inimigos, nem os estrangeiros beberão o teu mosto, em que trabalhaste.
9 Mas os que o ajuntarem o comerão, e louvarão ao Senhor; e os que o colherem o beberão nos átrios do meu santuário.
10 Passai, passai pelas portas; preparai o caminho ao povo; aplanai, aplanai a estrada, limpai-a das pedras; arvorai a bandeira aos povos.
11 Eis que o Senhor proclamou até as extremidades da terra: Dizei à filha de Sião: Eis que vem o teu Salvador; eis que com ele vem o seu galardão, e a sua recompensa diante dele.
12 E chamar-lhes-ão: Povo santo, remidos do Senhor; e tu serás chamada Procurada, cidade não desamparada.
Isaías capítulo 62