A resposta do Senhor ao pedido de misericórdia não foi uma imediata promessa de restauração, pois a condição do povo em geral era tão séria que eram necessárias ainda mais censuras e advertências de julgamento, tão obstinada e incessante tinha sido sua resistência à graça de Deus.
Há duas maneiras de entender as palavras iniciais do presente capítulo:
No primeiro versículo, o significado primário do hebraico diz respeito à denúncia divina de Israel, que continua no contexto do que vem em seguida, dos versículos 2 a 7. Os verbos estão no pretérito perfeito como: “tornei-me acessível aos que não perguntavam por Mim”, (ou seja, os que O conheciam mas se recusaram a buscar e voltar ao Senhor); “fui achado pelos que não me procuravam” (NVI). Deus estava sempre pronto a se revelar, se houvesse um coração pronto para se aproximar dEle em humilde desejo de andar em Seus caminhos. Além disso, “A uma nação que não clamava pelo Meu nome Eu disse: Eis-me aqui, eis-me aqui” (NVI). Em concordância, o Senhor continua dizendo “Estendi as minhas mãos o dia todo a um povo rebelde, que anda por um caminho que não é bom, após os seus próprios pensamentos; povo que de contínuo me provoca diante da minha face” (versículo 2 e 3).
No que diz respeito à outra interpretação, ela vem de uma tradução para o grego chamada Septuaginta, da qual o apóstolo Paulo faz uso em Romanos 10:20,21, como frequentemente faz em outros lugares das suas cartas. Ali, Isaías 65:1 parece se referir aos gentíos pois é traduzido assim: “Fui achado por aqueles que não me procuravam, revelei-me àqueles que não perguntavam por mim”. Foi por orientação direta do Espírito Santo que o grande missionário para os gentios assim fez uso desta passagem, e no versículo 21 se referiu às condições apóstatas de Israel: “O tempo todo estendi as mãos a um povo desobediente e rebelde” (NVI).
Nos versículos que se seguem, 3 e 4, encontramos uma terrível revelação das práticas idólatras do povo de Deus. “Viver nos túmulos” poderia indicar uma forma de espiritismo, e “ocultar-se nas covas à noite” seria praticar uma forma de idolatria em criptas ou grutas, acompanhada por abomináveis refeições sacrificiais.
Os que praticavam essas abominações estavam acostumados a vangloriar-se da sua própria “santidade especial” e dizer aos não iniciados “Retira-te, e não te chegues a mim, porque sou mais santo do que tu“. Isto provocava a ira de Deus e atraía a Sua mais grave e justa retribuição.
Em contraste, o Senhor agora menciona que ainda havia um remanescente de servos que lhe eram fiéis, por causa de quem Ele não traria a destruição universal da nação (versículos 8 a 10). Estes, que prenunciam o remanescente piedoso no futuro tempo de angústia de Jacó, eram como cachos de uvas maduras em um vinhedo degenerado que produzia uvas ácidas ou gavinhas infrutíferas. Deles Deus produzirá “descendência a Jacó, e a Judá um herdeiro dos meus montes (a terra de Israel - Ezequiel 6:2,3), “e os meus escolhidos herdarão a terra e os meus servos nela habitarão” (versículos 8 e 9). Uma eleição sempre tem um objetivo. Por exemplo, os "eleitos de Deus Pai" de acordo com a Sua presciência, são escolhidos "para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo" (1 Pedro 1:2).
A respeito disso, temos a menção de dois lugares no versículo 10:
Saron, uma planície de pastagens ricas e famosa pelas suas flores, que se estende ao longo da região costeira de Jope até Carmelo (ver Josué 17:9, 1 Crônicas 5:16, Cantares 2:1, Isaías 33:9 e 35:2).
O vale de Acor (um lugar na planície de Jericó, associado com o pecado de Acã, Josué 7:1, chamado Acar em 1 Crônicas 2:7). Lá o povo humilhou-se diante de Deus, dissociando-se do mal. Na profecia de Oseias 2:15 a nação, nos dias da sua juventude, voltará a Deus ali. Consequentemente, o vale vai se tornar em "uma porta de esperança". Toda a região se tornará em "um jardim do Senhor," uma cena de fertilidade e produtividade. Sempre há esperança para aqueles que se humilham diante de Deus e procuram andar no seu temor (veja o salmo 33:18,19).
Nos versículos 11 e 12 a profecia se dirige aos apóstatas de que tratam os versículos 2 a 7. Estes abandonaram o Senhor, não deram atenção ao Seu culto, substituindo-o por festas idólatras. Preparavam uma mesa para a fortuna e misturavam vinho para o destino. Entende-se por isto a colocação das almofadas sobre as quais as imagens dos deuses foram colocadas durante as festas em sua honra. Por conseguinte o Senhor declara que irá destiná-los à espada, e como eles se curvavam diante das suas imagens eles se ajoelharão para o abate. O Senhor foi longânimo com eles: chamou-os, mas não responderam, falou, e eles se recusaram a ouvir, mas deliberadamente escolheram aquilo em que Ele não tem nenhum prazer.
Nos versículos 13 a 15 o Senhor apresenta um vívido contraste entre os apóstatas e os fieis que fazem o que lhe agrada, a quem chama de Seus servos e escolhidos (é de se notar que os verbos aqui estão no futuro):
Os Seus servos comerão, beberão, se alegrarão e cantarão de alegria. Os que se afastam de Deus padecerão fome, terão sede, sofrerão vergonha, chorarão pela tristeza do coração, uivarão por causa da angústia de espírito.
O nome dos apóstatas será deixado para maldição dos escolhidos de Deus (referindo-se ao juramento com o qual o sacerdote tinha que administrar a “água de amargura”, por Israel ter agido como uma adúltera – Números 5:21-14), mas o Senhor Deus matará os apóstatas e chamará Seus servos por outro nome, para que no dia quando os males da terra forem corrigidos, as pessoas possam usar o nome de "o Deus da verdade", quando eles próprios abençoarem ou quando fizerem um juramento. Deus vai ser reconhecido como Aquele que executa Seus planos, quem realiza o que disse que ia fazer (2 Coríntios 1:20, Apocalipse 3:14).
Tudo isso confirma a loucura, futilidade e pecaminosidade em seguir nosso próprio caminho, querendo realizar nossos próprios projetos e nos envolvendo naquilo em que Deus não pode ter prazer, ao invés de esperar nEle, ouvir a sua voz e nos alegrarmos no cumprimento de Sua vontade. Através de nosso caminhar com Deus Ele cumpre e cumprirá todas as promessas da Sua palavra. Ele responde à confiança prazerosa nEle, adicionando um amém à Sua garantia. A paz de um coração obediente e de um espírito confiante é que desfruta do sol de Seu semblante e da calma da santa comunhão com Ele.
Com a garantia de que as angústias passadas vão ser esquecidas e escondidas aos olhos do Senhor, conforme o versículo 16, o Senhor anuncia a partir do versículo 17 a indizível ventura e alegria que serão ministradas ao Israel redimido no reino milenar de Cristo. Mas este, que começa no versículo 18, é precedido por uma declaração daquilo que será feito após o período milenial. Isso porque só quando Deus criar novos céus e nova terra assim perfeitos é que a bênção completa e perfeita será concedida e “não haverá lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão”.
As condições no Reino de Cristo
Quando o Senhor estabelecer Seu Reino de justiça e paz, Ele cumprirá o que vem em seguida nesta passagem que, talvez mais do que em qualquer outra passagem da Escritura, descreve a prosperidade e felicidade deste tempo próximo. Ele nos chama para sermos felizes e nos regozijarmos perpetuamente no que Ele está prestes a criar, e diz “porque crio para Jerusalém motivo de exultação e para o seu povo motivo de gozo. E exultarei em Jerusalém, e folgarei no meu povo; e nunca mais se ouvirá nela voz de choro nem voz de clamor“ (versículo 19).
Realmente ainda haverá morte e haverá pecado, mas esses males estarão severamente restritos. A explicação para isto reside em dois fatos (Apocalipse 20:1-3):
Cristo e seu povo (celestial e terreno) estarão reinando.
O Maligno estará preso no abismo por mil anos.
Nestas condições “Não haverá mais nela criança de poucos dias, nem velho que não tenha cumprido os seus dias; porque o menino morrerá de cem anos; mas o pecador de cem anos será amaldiçoado” (versículo 20). Isso quer dizer, que aquele que tiver cem anos de idade será um jovem e, se for um pecador, não sofrerá a morte antes do centésimo ano de sua vida. A longevidade dos primeiros tempos da história humana retornará.
As promessas seguintes (versículos 21 a 23), garantem que Seu povo vai ter prazer em desfrutar daquilo para o que trabalharam e colher os frutos do seu trabalho sem pilhagem por inimigos; a duração da sua vida será como a das árvores que viveram durante séculos. Serão uma geração abençoada pelo Senhor, e seus filhos irão partilhar com eles daquilo que gostam, sem ser removidos por morte prematura (comparar com Jó 21:8).
A atenção do Senhor será tal que responderá antes deles clamarem e os ouvirá estando eles ainda falando. Isso revela que a vontade nos corações dos Seus remidos estará em perfeita harmonia com Sua vontade. Agora, frequentemente há um intervalo entre a oração expressa e a resposta dada, mas não será mais assim (veja Daniel 9:20-23 e Isaías 30:19). Isto fornece um testemunho impressionante daquilo que será o resultado da presença do Senhor no meio deles. A oração que é a alegria do Senhor só pode surgir do gozo da estreita comunhão com Ele.
Haverá também uma mudança da natureza das feras e outros animais vorazes, conforme o versículo 25. As condições violentas naturais dos animais resultaram da maldição de Deus sobre a criação, depois da queda do homem em pecado (Gênesis 3:17), mas no milênio o lobo e o cordeiro se apascentarão juntos, o leão comerá palha como o boi, e o pó será o alimento da serpente. Esta passagem recorda, de forma resumida, o que encontramos no capítulo 11:6-9. Estas condições não serão o resultado de processos evolutivos, mas resultarão imediatamente da ordem e do poder do Messias de Israel. Imaginar que o que aqui é dito sobre o comportamento dos animais é mera alegoria, como querem alguns, é totalmente sem fundamento. Isaías não introduz simples alegorias em qualquer de suas descrições do que está para acontecer, mas foi instruido pelo Espírito Santo, haja vista o cumprimento literal, já no passado para nós, de grande parte das suas profecias.
1 Tornei-me acessível aos que não perguntavam por mim; fui achado daqueles que não me buscavam. A uma nação que não se chamava do meu nome eu disse: Eis-me aqui, eis-me aqui.
2 Estendi as minhas mãos o dia todo a um povo rebelde, que anda por um caminho que não é bom, após os seus próprios pensamentos;
3 povo que de contínuo me provoca diante da minha face, sacrificando em jardins e queimando incenso sobre tijolos;
4 que se assenta entre as sepulturas, e passa as noites junto aos lugares secretos; que come carne de porco, achando-se caldo de coisas abomináveis nas suas vasilhas;
5 e que dizem: Retira-te, e não te chegues a mim, porque sou mais santo do que tu. Estes são fumaça no meu nariz, um fogo que arde o dia todo.
6 Eis que está escrito diante de mim: Não me calarei, mas eu pagarei, sim, deitar-lhes-ei a recompensa no seu seio;
7 as suas iniqüidades, e juntamente as iniqüidades de seus pais, diz o Senhor, os quais queimaram incenso nos montes, e me afrontaram nos outeiros; pelo que lhes tornarei a medir as suas obras antigas no seu seio.
8 Assim diz o Senhor: Como quando se acha mosto num cacho de uvas, e se diz: Não o desperdices, pois há bênção nele; assim farei por amor de meus servos, para que eu não os destrua a todos.
9 E produzirei descendência a Jacó, e a Judá um herdeiro dos meus montes; e os meus escolhidos herdarão a terra e os meus servos nela habitarão.
10 E Sarom servirá de pasto de rebanhos, e o vale de Acor de repouso de gado, para o meu povo, que me buscou.
11 Mas a vós, os que vos apartais do Senhor, os que vos esqueceis do meu santo monte, os que preparais uma mesa para a fortuna, e que misturais vinho para o Destino
12 também vos destinarei à espada, e todos vos encurvareis à matança; porque quando chamei, não respondestes; quando falei, não ouvistes, mas fizestes o que era mau aos meus olhos, e escolhestes aquilo em que eu não tinha prazer.
13 Pelo que assim diz o Senhor Deus: Eis que os meus servos comerão, mas vós padecereis fome; eis que os meus servos beberão, mas vós tereis sede; eis que os meus servos se alegrarão, mas vós vos envergonhareis;
14 eis que os meus servos cantarão pela alegria de coração, mas vós chorareis pela tristeza de coração, e uivareis pela angústia de espírito.
15 E deixareis o vosso nome para maldição aos meus escolhidos; e vos matará o Senhor Deus, mas a seus servos chamará por outro nome.
16 De sorte que aquele que se bendisser na terra será bendito no Deus da verdade; e aquele que jurar na terra, jurará pelo Deus da verdade; porque já estão esquecidas as angústias passadas, e estão escondidas dos meus olhos.
17 Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão:
18 Mas alegrai-vos e regozijai-vos perpetuamente no que eu crio; porque crio para Jerusalém motivo de exultação e para o seu povo motivo de gozo.
19 E exultarei em Jerusalém, e folgarei no meu povo; e nunca mais se ouvirá nela voz de choro nem voz de clamor.
20 Não haverá mais nela criança de poucos dias, nem velho que não tenha cumprido os seus dias; porque o menino morrerá de cem anos; mas o pecador de cem anos será amaldiçoado.
21 E eles edificarão casas, e as habitarão; e plantarão vinhas, e comerão o fruto delas.
22 Não edificarão para que outros habitem; não plantarão para que outros comam; porque os dias do meu povo serão como os dias da árvore, e os meus escolhidos gozarão por longo tempo das obras das suas mãos:
23 Não trabalharão debalde, nem terão filhos para calamidade; porque serão a descendência dos benditos do Senhor, e os seus descendentes estarão com eles.
24 E acontecerá que, antes de clamarem eles, eu responderei; e estando eles ainda falando, eu os ouvirei.
25 O lobo e o cordeiro juntos se apascentarão, o leão comerá palha como o boi; e pó será a comida da serpente. Não farão mal nem dano algum em todo o meu santo monte, diz o Senhor.
Isaías capítulo 65