Pedido de misericórdia (63:15 a 64:12)
Note-se que Isaías fala de si mesmo no versículo 15, como se ele próprio fosse o povo, assim se identificando com ele em sua situação. Moisés também fez isso (Êxodo 32:31), e o apóstolo Paulo (Romanos 9:2,3). Cada verdadeiro intercessor faz o mesmo em épocas quando o povo de Deus declina em sua fé.
No versículo 16 o profeta se põe entre os remanescentes fiéis. Deus gerou Seu povo terrestre mediante Seu poder criativo e seguindo Seu plano amoroso. Por isso era seu Pai, embora Abraão não os conhecesse, nem Israel (isto é, Jacó) os reconhecesse (Abraão e Jacó haviam morrido séculos antes e não estavam presentes para conhecer estes seus descendentes). As palavras traduzidas como "conhece" e "reconhece" indicam conhecimento pessoal e íntimo com as pessoas (ver, por exemplo, Deuteronômio 33:9, Rute 2:10,19). Os santos falecidos não intercedem por ninguém. Com o Senhor, no entanto, é diferente. A relação de paternidade é inalienável, sendo Ele nosso Criador. Portanto Isaías repete a declaração “Tu, ó Senhor, és nosso Pai”; Seu conhecimento e reconhecimento permanecem para sempre. Seu nome, desde a eternidade e em Suas atuações através da história, é “nosso Redentor”.
Encontramos um apelo espantoso no versículo 17: “Por que, ó Senhor, nos fazes errar dos teus caminhos? Por que endureces o nosso coração, para te não temermos?” Isaías não está responsabilizando Deus pelo pecado do seu povo. A persistente e obstinada rejeição da vontade de Deus por parte do povo faz com que o Senhor, consistentemente com a sua justiça, renuncie a uma continuação da Sua graça e misericórdia, entregando aqueles que endureceram o coração contra Ele aos efeitos de seus próprios maus caminhos, tornando-os incapazes de fé e de caminhar em seu temor. Um exemplo marcante disso é o caso de Faraó. Em Êxodo 9:7 lemos que “o coração de Faraó se obstinou”. Em seguida, vem a mudança em Êxodo 9:12 que informa: “o Senhor endureceu o coração de Faraó”.
Este foi o caso com a maior parte de Israel. Havia alguns, no entanto, que permaneceram fieis, e o profeta faz dois apelos, primeiro em nome destes e, em seguida, com base no fato que a nação era a herança de Deus: “Faze voltar, por amor dos teus servos, as tribos da tua herança.” Havia um remanescente "segundo a eleição da graça."
O povo do Senhor possuíu a terra, "mas só por um pouco" (versículo 18). Os adversários tinham pisado o Seu santuário, e as pessoas tornaram-se “como aqueles sobre quem Tu nunca dominaste, e como os que nunca se chamaram pelo Teu nome”. Sua condição se assemelhava ao das nações dos gentios.
O crente precisa atentar contra sair da vontade de Deus para tornar-se conformado com o mundo. A persistente tibieza de Laodiceia poderá torná-lo incorrigível, e o Senhor vai se retirar para ficar do lado de fora (Apocalipse 3:15,20).
O capítulo 64 continua a oração do profeta até o fim. Ele clama a Deus para manifestar o Seu poder contra seus adversários, para que os poderes dos gentios tremam em Sua presença. Ele recorda a maneira com que o Senhor manifestou Sua presença e poder no Sinai. Lá, os montes tremeram em Sua presença. Ele desceu sobre o monte em fogo, e subiu fumaça dali como se fosse de uma fornalha (Exodo 10:16-19). Ele agora não manifestaria seu poder e julgamento contra o inimigo?
A oração toma como base os atributos singulares e absolutos de Deus e nas formas em que a Sua graça se revela aos que O temem, lembram- se dEle e buscam agradá-lo: desde a antiguidade não se soube de um Deus além dEle, “que age em favor daqueles que nEle depositam sua confiança”(versículo 4).
A combinação da alegria com a retidão e a lembrança de Deus tem um significado especial. É possível caminhar em retidão em aderência estrita à religião, sem nos alegrarmos no Senhor. É possível fazer o que é moralmente certo e virtuoso sem mesmo lembrarmos de Deus. Mas o gozo de Sua presença na vida é a chave para a manifestação do Seu poder eficaz nos que O servem. O Senhor tem prazer em quem deseja ter comunhão com Ele. Ele vê os que O temem. O apóstolo Paulo precede seu desejo para a realização do poder da Sua ressurreição com o desejo "para que eu possa conhecê-lo." Enoque andou com Deus, e seu testemunho agradou a Deus.
Na última parte do versículo 5 Isaías reconhece a culpa do seu povo, tanto passado e presente e, considerando seu estado de apostasia, ele pergunta “acaso seremos salvos?” Nos dois versículos seguintes ele confessa que seu povo era “como o imundo” e tudo o que fazia de bom era “como trapo da imundícia”. Consequentemente todos eles estavam se murchando como uma folha, arrebatados como pelo vento devido às suas iniquidades.
Tudo isso nos previne dos efeitos de se afastar persistentemente dos caminhos de Deus. A apostasia deliberada leva ao esquecimento de Deus. Assim foi em Israel. Não havia ninguém que invocasse o Seu nome, que se despertasse para recorrer a Deus. A falta de sensibilidade ao pecado produz insensibilidade às reivindicações de Deus e às Suas misericórdias. Em consequência, Deus retirou o seu amparo de Israel e o consumiu por causa das suas iniquidades.
Na realidade e no poder dessa confissão, o profeta traz à lembrança no versículo 8 a relação alienável que o Senhor tinha estabelecido entre Ele e seu povo, e a maneira em que Ele o tinha formado de acordo com Seu próprio plano. Como o Senhor mesmo dera origem ao povo de Israel, Ele era seu Pai: o Senhor era como um oleiro que faz um utensílio do barro, simbolizando o povo. Isto torna possível consertar o vaso danificado, e certamente acontecerá quando o Redentor vier a Sião.
Ao inimigo nacional fora permitido, sob a mão retributiva de Deus, tornar as cidades da terra de Israel num deserto e desolar Jerusalém. O próprio templo de Deus, onde no passado se entoavam os louvores do Senhor, havia sido destruído pelo fogo. Fora sagrado e glorioso, mas agora não existia mais.
O profeta termina sua intercessão, apelando ao Senhor para que tenha compaixão pelo sofrimento do povo, e que não continue em silêncio castigando-o de forma tão insuportável.
15 Atenta lá dos céus e vê, lá da tua santa e gloriosa habitação; onde estão o teu zelo e as tuas obras poderosas? A ternura do teu coração e as tuas misericórdias para comigo estancaram.
16 Mas tu és nosso Pai, ainda que Abraão não nos conhece, e Israel não nos reconhece; tu, ó Senhor, és nosso Pai; nosso Redentor desde a antigüidade é o teu nome.
17 Por que, ó Senhor, nos fazes errar dos teus caminhos? Por que endureces o nosso coração, para te não temermos? Faze voltar, por amor dos teus servos, as tribos da tua herança.
18 Só por um pouco de tempo o teu santo povo a possuiu; os nossos adversários pisaram o teu santuário.
19 Somos feitos como aqueles sobre quem tu nunca dominaste, e como os que nunca se chamaram pelo teu nome.
Capítulo 63, versículos 1 a 19
64:1 Ó SENHOR, quão bom seria se fendesses os céus e descestes, e os montes de todo o mundo estremecessem diante da tua presença!
2 Como quando o fogo acende os gravetos e faz a água ferver, para que os teus inimigos conhecessem o teu Nome, e as nações ficassem impactadas pela tua presença.
3 Porque, quando fizeste sinais magníficos, eventos que não esperávamos, desceste, e os montes se abalaram grandemente diante de ti.
4 Desde a antiguidade não se ouviu, nem se percebeu, tampouco escutou-se comentários; nem olho algum sequer vislumbrou outro Deus além de ti, que age em favor daqueles que nele depositam sua esperança.
5 Vens, pois, socorrer aqueles que praticam a justiça com alegria, que se lembram de ti e de tuas orientações. Todavia, prosseguindo nós em nossos erros e pecados, tu te indignaste. E agora? Como então seremos salvos?
6 Ora, todos nós estamos na mesma condição do impuro! Todos os nossos atos de justiça se tornaram como trapos de imundícia. Perdemos o viço e murchamos como folhas que morrem, e como o vento as nossas próprias iniquidades nos empurram para longe.
7 Não existe ninguém que clame pelo teu Nome, que esteja disposto a firmar seus passos em ti, porquanto escondeste de nós o brilho da tua face e nos abandonaste ao capricho das nossas malignidades e transgressões.
8 No entanto, Yahweh, tu és o nosso Abba, Pai. Nós somos o barro; tu és o Oleiro. Todos nós somos obra das tuas mãos.
9 Portanto, não te indignes demasiado, ó SENHOR! Não te recordes a todo momento das nossas iniquidades. Olha, pois, para nós: somos todos o teu povo, tua gente!
10 As tuas cidades sagradas viraram um só deserto! Até Tsión, Sião, tornou-se deserta e desprezada. Jerusalém é pura desolação!
11 O nosso Templo, sagrado e glorioso, onde nossos antepassados te louvavam com alegria, foi arrasado pelo fogo, e tudo quanto nos era precioso foi reduzido a escombros.
12 E então SENHOR? Depois de ver tanto sofrimento ainda conseguirás te conter? Poderás permanecer em silêncio e seguirás nos castigando além do que podemos suportar?
Isaías capítulo 64