Capítulo 5 - versículos 14 a 31
A partir do versículo 11, a mensagem se dirige novamente à “comunidade de Israel” e à “comunidade de Judá”, abrangendo assim todo o povo israelita. Em sua generalidade, o povo negava o Senhor, não acreditando no que Ele lhes dizia através de Seus profetas verdadeiros. Em outras palavras, o povo dizia que o Senhor não era (não existia) logo o castigo que os Seus profetas previam não iria acontecer. As primeiras duas visões dadas a Jeremias (capítulo 1) são relevantes aqui: ensinam que “Deus vela, como sentinela, sobre a Sua Palavra para a cumprir” e que o castigo sobre Judá viria do norte. Pareciam improváveis naquele momento. [Semelhantemente o apóstolo Pedro nos informa que, “nos últimos dias” (os nossos?), virão escarnecedores com zombaria negando a vinda do Senhor Jesus para julgamento (2 Pedro 3:1-7)].
Os falsos profetas, referidos no versículo 13, eram os falsos profetas mencionados outra vez no capítulo 14, versículos 13 a 15. Eles mentiam para agradar o povo, vazios como o vento. Em contraste com esses falsos profetas, as palavras que o Senhor Deus dos exércitos daria através de Jeremias seriam como fogo para consumir a lenha (que representava o povo).
A capacidade do Senhor para cumprir a Sua palavra é enfatizada pelo título de "o Senhor Deus dos exércitos". O próprio Nabucodonor, que comandou os poderosos exércitos da Babilônia, referindo-se ao Senhor exclamou: “segundo a Sua vontade Ele opera no exército do céu e entre os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” (Daniel 4:35). É perigoso brincar com a palavra de Deus. Segue-se uma segunda descrição da invasão babilônica (a primeira está no capítulo 4).
O Senhor não declara de pronto o nome do invasor que dará cumprimento à profecia do capítulo 4, mas informa como será: virá de longe, procedente de uma nação antiga e invencível, falando um idioma desconhecido pelos judeus, sua aljava é como uma sepultura aberta (amplo suprimento de armas) e seus guerreiros são todos homens valentes. Mesmo sem dar o nome do invasor, sua descrição aponta claramente para os babilônios. Moisés já tinha previsto esta invasão muito antes: "O Senhor levantará contra ti de longe, da extremidade da terra, uma nação que voa como a águia, nação cuja língua não entenderás; uma nação de rosto feroz... (Deuteronômio 28:49). Sua história vem desde Ninrode (Gênesis 10:10). Sua língua ininteligível para os judeus contribuiria para que estes fossem maltratados por um inimigo impiedoso como povo desobediente e rebelde, torturados e impiedosamente mortos.
Como resultado, os invasores se apropriarão das suas colheitas, do seu alimento, dos rebanhos e das suas árvores frutíferas, e abaterão as suas cidades fortificadas à espada (versículo 17), como Moisés havia previsto (Deuteronômio 28:51 e 52) cerca de 850 anos antes. É um forte exemplo do cumprimento da palavra de Deus, provando sua autenticidade.
Novamente temos uma referência ao remanescente de Israel, conservado pelo Senhor para o cumprimento da Sua promessa a Abraão de uma eterna preservação da sua descendência. Nessa ocasião um “remanescente” foi levado ao exílio após a invasão da Babilônia e repatriado setenta anos mais tarde, após o edito de Ciro (Esdras 1:1-4).
Ainda a nação de Israel, bem como a população mundial em geral, sofrerá grande destruição, e, “se aqueles dias não fossem abreviados, ninguém se salvaria; mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias... e Ele (o Senhor Jesus) enviará os seus anjos... os quais lhe ajuntarão os escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus” (Mateus 22 a 31). Claramente, o Senhor nunca eliminará totalmente o Seu povo escolhido da terra.
Temos aqui um exemplo da justiça de Deus, revelada no exílio de Judá. Porque esse povo iria abandonar o Senhor seu Deus para servir deuses estranhos em sua própria terra, seu castigo seria o exílio para servir estrangeiros fora da sua terra: por servirem deuses pagãos, serão obrigados a servir povos pagãos.
Em seguida, o Senhor repreende a nação por sua insensatez e estupidez. Era como os ídolos que agora adoravam (veja Salmo 115:5-6) tinham olhos e ouvidos, mas não viam nem ouviam, nem temiam o Deus vivo, o Criador da terra, cujas leis naturais são obedecidas eternamente. Mas o povo era obstinado e rebelde, e se afastou dEle.
O “temor do Senhor" é uma atitude da mente e do coração, que recua do próprio pensamento de desobedecê-Lo. É o repúdio de qualquer ação ou atitude que Lhe possa desagradar. Flui, não do medo de Deus (como em Isaías 2:19), mas do amor a Deus. O amor a Deus e o temor de Deus não são mutuamente exclusivos, mas sim mutuamente complementares. A palavra de Deus nos ensina: “recebendo nós um reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente, com reverência e temor; pois o nosso Deus é um fogo consumidor” (Hebreus 12:28,29).
As iniquidades do povo desviaram a ordem natural das coisas, e os seus pecados apartaram deles o bem (versículo 25). A consequência foi o crescimento da impiedade (desprezo de Deus) e os ímpios exploraram a população, causando grande injustiça social generalizada, enriquecendo-se a si dolosamente e, excedendo o limite da maldade, não julgavam os mais fracos com justiça nem defendiam os direitos dos necessitados. Em vista disso, o Senhor diz pela segunda vez: "acaso não hei de trazer o castigo por causa destas coisas?...ou não hei de vingar-me de uma nação como esta?” (versículo 29 – veja versículo 9).
O Senhor ainda acrescenta o que chama de “coisa espantosa” e “coisa horrenda”: os profetas profetizavam falsamente, os sacerdotes dominavam através deles e isso era o que o povo desejava (versículos 30 e 31). Segundo um comentador, a raiz original da palavra traduzida como “horrenda” deriva de algo que denota imundície, sujeira, podridão e ocorre apenas em Oseias 6:10 e Jeremias 18:13 e 23:14. Enquanto toda essa situação era repreensível, é particularmente horrível saber que o povo do Senhor assim o desejava. Explica-se pelo fato que essas autoridades morais e religiosas estavam impedidas de repreender o povo, pois agiam da mesma forma.
O povo estava satisfeito com essa situação, por causa da liberdade que lhes dava. Somos prevenidos no Novo Testamento que assim também aconteceria nas igrejas “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo grande desejo de ouvir coisas agradáveis, ajuntarão para si mestres segundo os seus próprios desejos, e não só desviarão os ouvidos da verdade, mas se voltarão às fábulas.” (2 Timóteo 4:3 e 4). A falta de vontade de aceitar a verdade irá incentivar o ensino de mentiras, que já é visto em muitas igrejas que se denominam cristãs em nossos dias.
A pergunta solene, "Mas que fareis no fim disso?” serve de introdução ao capítulo seguinte, onde "o fim disso" é descrito mais uma vez. Quando o fim chegar, Judá ficará indefeso perante a esmagadora condenação que merece.
14 Portanto assim diz o Senhor, o Deus dos exércitos: Porquanto proferis tal palavra, eis que converterei em fogo as minhas palavras na tua boca, e este povo em lenha, de modo que o fogo o consumirá.
15 Eis que trago sobre vós uma nação de longe, ó casa de Israel, diz o Senhor; é uma nação durável, uma nação antiga, uma nação cuja língua ignoras, e não entenderás o que ela falar.
16 A sua aljava é como uma sepultura aberta; todos eles são valentes.
17 E comerão a tua sega e o teu pão, que teus filhos e tuas filhas haviam de comer; comerão os teus rebanhos e o teu gado; comerão a tua vide e a tua figueira; as tuas cidades fortificadas, em que confias, abatê-las-ão à espada.
18 Contudo, ainda naqueles dias, diz o Senhor, não farei de vós uma destruição final.
19 E quando disserdes: Por que nos fez o Senhor nosso Deus todas estas coisas? então lhes dirás: Como vós me deixastes, e servistes deuses estranhos na vossa terra, assim servireis estrangeiros, em terra que não e vossa.
20 Anunciai isto na casa de Jacó, e proclamai-o em Judá, dizendo:
Jer 5:21 Ouvi agora isto, ó povo insensato e sem entendimento, que tendes olhos e não vedes, que tendes ouvidos e não ouvis:
22 Não me temeis a mim? diz o Senhor; não tremeis diante de mim, que pus a areia por limite ao mar, por ordenança eterna, que ele não pode passar? Ainda que se levantem as suas ondas, não podem prevalecer; ainda que bramem, não a podem traspassar.
23 Mas este povo é de coração obstinado e rebelde; rebelaram-se e foram-se.
24 E não dizem no seu coração: Temamos agora ao Senhor nosso Deus, que dá chuva, tanto a temporã como a tardia, a seu tempo, e nos conserva as semanas determinadas da sega.
25 As vossas iniqüidades desviaram estas coisas, e os vossos pecados apartaram de vos o bem.
26 Porque ímpios se acham entre o meu povo; andam espiando, como espreitam os passarinheiros. Armam laços, apanham os homens.
27 Qual gaiola cheia de pássaros, assim as suas casas estão cheias de dolo; por isso se engrandeceram, e enriqueceram.
28 Engordaram-se, estão nédios; também excedem o limite da maldade; não julgam com justiça a causa dos órfãos, para que prospere, nem defendem o direito dos necessitados.
29 Acaso não hei de trazer o castigo por causa destas coisas? diz o senhor; ou não hei de vingar-me de uma nação como esta?
30 Coisa espantosa e horrenda tem-se feito na terra:
31 os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam por intermédio deles; e o meu povo assim o deseja. Mas que fareis no fim disso?
Jeremias capítulo 5, versículos 14 a 31