O Senhor Deus apresenta o Seu Servo
Os três últimos versículos do capítulo 52 deveriam ser classificados como os primeiros do capítulo 53, porque tratam do mesmo assunto. O tema é o do Servo sofredor e rejeitado, expiador e exaltado, do Senhor. As palavras de abertura "Eis meu servo" não se referem a Israel mas ao Messias, como no versículo 10 do capítulo 50.
A conexão com o precedente é o efeito da libertação: antes foi a libertação do povo de Israel do cativeiro, mas agora é muito mais abrangente. O povo de Israel estava no cativeiro da Babilônia, do qual foi liberto pouco depois, e desde então continua subjugado pelos gentíos, esperando ainda uma restauração do seu território no futuro. A Babilônia não é mencionada mais por Isaías.
O livramento só pode ser feito pelo Servo do Senhor, seja para o judeu ou para o gentio. Então o Senhor nos chama a atenção para Ele, primeiro ao Seu prudente proceder, depois à sua elevada, mui sublime exaltação. Segue-se uma breve menção de Sua humilhação como antecedente para a próxima manifestação do Seu poder e glória. E tudo isso, em forma condensada, é o mesmo tema que, tendo sido assim introduzido, é expandido nos doze versículos seguintes.
"Eis que o meu Servo procederá com prudência" - A palavra traduzida “prudência” tem dois significados: sabedoria (da qual prudência é derivada) e prosperidade. Estas podem ser combinadas para ter um sentido mais completo: "tratará sabiamente, com resultante prosperidade." Surpreendentemente, isto descreve a Sua vida na terra, em tudo o que Ele disse e fez, com resultados prósperos, e na manutenção do Seu testemunho sem entregar a Sua vida até a hora certa. Nunca houve a acumulação de maior prosperidade do que em dar a Sua vida voluntariamente em sacrifício expiatório.
"Ele será exaltado e elevado e mui sublime." São três estágios: Sua ressurreição (a palavra traduzida como "exaltado" significa ter sido levantado), sua ascensão (uma gloriosa subida) e a Sua posição à mão direita de Deus (Atos 2:33, Filipenses 2:9, Hebreus 1:3,13).
"Como pasmaram muitos à vista dEle” Muitos se surpreenderam com a desfiguração do Seu rosto pelos soldados, usando suas mãos, cuspindo, batendo com o cetro e causando feridas e sangramento com a coroa de espinhos, como previsto no Salmo 22:17: “posso contar todos os meus ossos. Eles me olham e ficam a mirar-me”.
“Assim Ele espantará muitas nações...” Passando diretamente do passado para o futuro, muitas nações pularão de susto e tremerão (significado de “espantará”) com a manifestação da Sua glória. Seus reis vão emudecer, ficando atônitos com a visão da qual eles nunca ouviram falar. Mais ainda, “entenderão aquilo que não tinham ouvido”.
Isaías esclarece a razão da incredulidade do seu povo
A causa estava com Israel. Eles reconhecem e lamentam a sua incredulidade. Como uma nação eles se recusaram a crer na mensagem que lhes fora proclamada. Esse é o significado da pergunta retórica traduzida em nossas versões, "Quem deu crédito à nossa pregação?” (capítulo 53:1). A palavra “pregação", significa o que era ouvido, declarado, e a referência é ao Evangelho pregado a partir do dia de Pentecostes, que persistentemente foi rejeitada pela nação. Veja os testemunhos e lamentos de Paulo em Atos 13:46, 18:6, 28:28, Romanos 9:1, 11:7,8, 1 Tessalonicences 2:14-18).
Assim, com a manifestação do poder de Deus em Cristo, "a quem se manifestou o braço do Senhor?”, é uma pergunta profética expressando a confissão a ser feita no próximo dia de arrependimento pelo povo de Israel, de que Israel em sua incredulidade não reconheceu o que Deus fizera ao ressuscitar o Senhor Jesus da morte.
A confissão do povo remanescente
O que se segue nos versículos 2 a 7, é a resposta do povo, reconhecendo os grandes fatos sobre Ele, a ser dada quando a nação for restaurada. O segundo versículo nos informa que o povo não percebeu que “(Jesus) foi crescendo como renovo perante Ele (o Pai) e como raiz (germinação) que sai duma terra seca” (versículo 2 a 7). O povo nada via de especial em Sua aparência que os atraísse, nenhuma particularidade que O distinguisse dos outros. Ao contrário, “não tinha formosura nem beleza”.
Em consequência, “era desprezado, e rejeitado dos homens ... e não fizemos dEle caso algum” (versículo 3). Vivendo no desprezo e rejeição, teve dores e experimentou muitos sofrimentos, sendo “como um de quem os homens escondiam o rosto”, ou seja, era considerado insuportável de se ver. Para os homens daquele tempo Ele nada valia. Tudo isto registra as profundezas do remorso com que a nação recordará sua atitude para com Ele quando primeiro veio ao mundo.
Quando vieram ao conhecimento da verdade (versículo 4), souberam que Seus sofrimentos eram de uma natureza diferente do que supunham ser. A mudança de suas ideias é marcada pela palavra de abertura “certamente” ou “em verdade". A declaração “Ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou com as nossas dores” expressa mais claramente o que foram suas dores e sofrimento, e é citada em Mateus 8:17.
As palavras seguintes nos lembram a Sua cruz: “e nós O reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido”. Na sua cegueira eles haviam encarado Seus sofrimentos como o castigo de Seus próprios pecados, que devem ter considerado como especialmente severo. Agora, sob o poder da revelação dos grandes fatos, declaram enfaticamente, como que surpreendidos: “Mas Ele foi ferido por causa das nossas transgressões... e pelas Suas pisaduras fomos sarados” (versículo 5).
Os versículos 5 a 7 contêm a confissão do seu pecado “desgarrados... desviados”, da punição levada pelo Seu próprio Filho “oprimido, afligido, silencioso ... como um cordeiro que é levado ao matadouro”, e consequência “fomos sarados... o Senhor fez cair sobre Ele a iniquidade de todos nós”.
O Senhor Deus declara o triunfo do Seu Servo
O que se segue, até o final do capítulo, é aplicável a “muitos”... não só de Israel mas de toda a humanidade, pois todos somos pecadores e carecemos da graça de Deus. Enviando Seu próprio Filho "em semelhança da carne do pecado e por causa do pecado, na carne condenou o pecado” (Romanos 8:3).
Ele foi arrebatado pela opressão e pelo juízo, ferido e morto por causa da transgressão do Seu povo. Deram-lhe sepultura com os ímpios (estando com o rico na Sua morte), embora totalmente inocente. A crucificação e sepultura do Senhor Jesus eram as destinadas aos ímpios, mas um rico (José de Arimatéia) conseguiu ficar com o corpo, que embalsamou e colocou numa sepultura nova na rocha que havia cavado para si (Mateus 27:57-60).
Enfim, são enumerados cinco “prêmios” pelo sacrifício de Jesus Cristo:
"Verá a sua posteridade": um israelita era considerado abençoado se tivesse uma grande prole, especialmente se vivesse para vê-la (Gênesis 48:11 e Salmo 128:6). Cristo verá os resultados de seu sacrifício na multidão incontável de sua posteridade espiritual entre os judeus e gentios.
“Prolongará os seus dias”: outra bênção de alta consideração entre israelitas (Salmo 91:16, Provérbios 3:2,16). Neste caso, a referência é à ressurreição e vida eterna do Senhor Jesus, como em Suas palavras "Eu estava morto e eis que estou vivo para todo o sempre" (Apocalipse 1:18).
"A vontade do Senhor prosperará nas Suas mãos”: os planos de Deus serão cumpridos por Ele. As palavras "nas Suas mãos" sugerem mediação e trabalho sacerdotal, bem como o exercício da Sua autoridade e poder em Seu reino.
"Ele verá o fruto do trabalho da Sua alma, e ficará satisfeito”: esta é a segunda menção da alma de Cristo na passagem. Toda a glória que se segue e seguirá será vista por Ele como o resultado de Seu sofrimento expiatório, perfeito meio para a redenção daqueles que nEle confiaram, tanto no trabalho progressivo da graça salvadora como em seu inteiro cumprimento, quando a igreja estiver completa e Israel for salvo.
“Com o Seu conhecimento o meu Servo Justo justificará a muitos”: O destaque é sobre a palavra "justo". Não poderia haver nenhuma justificação para os outros, nem cumprimento da justiça, se não fosse perfeita, por que só Ele era competente para dar-se voluntariamente como sacrifício propiciatório.
“Pelo que lhe darei o seu quinhão com os grandes e com os poderosos repartirá ele o despojo”: não se trata de uma distribuição, mas de atribuição. "Os grandes" e "os fortes" são termos gerais que não especificam indivíduos: não se referem a pessoas especialmente proeminentes ou aos que são mais poderosos do que outros, mas a todos os que, em virtude de uma adesão fiel à Sua autoridade, serão compartilhadores da Sua autoridade régia quando Seu reino for estabelecido. O Pai e o Filho cooperam, e o Filho "repartirá o despojo com os fortes." Os últimos são mencionados no Salmo 110:3 como voluntários no dia do Seu poder, participando com Ele dos despojos de seu triunfo.
Novamente, somos lembrados do valor do Seu sacrifício expiatório. O estabelecimento do Seu poder soberano na terra vai se fazer após o término do trabalho remidor. Toda a glória futura, que se acumulará a título de recompensa para os grandes e poderosos, se deverá aos seguintes fatos:
"Ele derramou a Sua alma até a morte";
"Ele foi contado com os transgressores”;
“Ele levou sobre Si os pecados de muitos”;
"Ele fez intercessão pelos transgressores".
A declaração final se refere especialmente à sua oração intercessória enquanto estava sendo pregado na cruz. Foi então que Ele fez intercessão pelos transgressores.
Pela terceira vez menção é feita de Sua alma, e agora no contexto de Seu próprio ato de derramar sua alma até a morte. Sobre isso Ele próprio disse, "dou minha vida pelas ovelhas" e "dou a minha vida para a retomar. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho autoridade para a dar, e tenho autoridade para retomá-la. " (João 10:15,17.18).
13 Eis que o meu servo procederá com prudência; será exaltado, e elevado, e mui sublime.
14 Como pasmaram muitos à vista dele (pois o seu aspecto estava tão desfigurado que não era o de um homem, e a sua figura não era a dos filhos dos homens),
15 assim ele espantará muitas nações; por causa dele reis taparão a boca; pois verão aquilo que não se lhes havia anunciado, e entenderão aquilo que não tinham ouvido.
Isaías 52, versículos 13 a 15
1Quem deu crédito à nossa pregação? e a quem se manifestou o braço do Senhor?
2 Pois foi crescendo como renovo perante ele, e como raiz que sai duma terra seca; não tinha formosura nem beleza; e quando olhávamos para ele, nenhuma beleza víamos, para que o desejássemos.
3 Era desprezado, e rejeitado dos homens; homem de dores, e experimentado nos sofrimentos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum.
4 Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou com as nossas dores; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido.
5 Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.
6 Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós.
7 Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a boca; como um cordeiro que é levado ao matadouro, e como a ovelha que é muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a boca.
8 Pela opressão e pelo juízo foi arrebatado; e quem dentre os da sua geração considerou que ele fora cortado da terra dos viventes, ferido por causa da transgressão do meu povo?
9 E deram-lhe a sepultura com os ímpios, e com o rico na sua morte, embora nunca tivesse cometido injustiça, nem houvesse engano na sua boca.
10 Todavia, foi da vontade do Senhor esmagá-lo, fazendo-o enfermar; quando ele se puser como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade, prolongará os seus dias, e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos.
11 Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo justo justificará a muitos, e as iniqüidades deles levará sobre si.
12 Pelo que lhe darei o seu quinhão com os grandes, e com os poderosos repartirá ele o despojo; porquanto derramou a sua alma até a morte, e foi contado com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e pelos transgressores intercedeu.
Isaías 53