Este capítulo continua e expande o assunto da perversidade e das transgressões que prejudicaram as bênçãos prometidas a Israel, e que levantaram uma barreira entre Deus e seu povo. O Senhor não estava impedido de dar-lhes assistência, ao contrário, estava muito disposto a responder ao seu clamor se dessem ouvidos à Sua palavra. Mas tinham se separado do seu Deus com as suas inquidades, e Ele não podia mais ouví-los por causa dos seus pecados. Temos a seguir uma relação de exemplos destes:
Violência, “as vossas mãos estão contaminadas de sangue”.
Injustiça, “... e os vossos dedos de iniquidade”.
Engano, “... os vossos lábios falam a mentira”.
Maldade, “...a vossa língua pronuncia perversidade”.
Falsidade, “ Ninguém há que invoque a justiça com retidão, nem há quem pleiteie com verdade”.
Enfim, “confiam na vaidade, e falam mentiras; concebem o mal, e dão à luz a iniquidade”, indicando o caráter prejudicial de tudo o que fazem. Isto é ilustrado por duas metáforas:
“Chocam ovos de basiliscos” (lagarto ou serpente fabulosa, cujo olhar e cujo bafo, dizia-se, tinham o poder de matar). Há um duplo resultado: “o que comer dos ovos deles, morrerá” e “do ovo que for chocado sairá uma víbora” (que ataca mortalmente o calcanhar daquele que o chocou).
“Tecem teias de aranha”, significando a absoluta falta de valor e o caráter pernicioso das suas atividades. As teias não servem como vestidura, mas seu propósito é de apanhar outras criaturas para matar e comê-las.
O pecado controla todas as áreas de suas vidas— o que fazem, aonde vão, o que pensam. Eles não se interessam em paz e justiça. O que era verdade de Israel também é verdade para toda a humanidade. Essa realidade é exposta em Romanos 3:5 a 17 (ver AQUI).
Isaías contrasta essa desolação e destruição com o caminho da paz, em primeiro lugar em sua relação com Deus e depois com seus semelhantes, pois quem segue os passos que Israel está seguindo não conhece o que é a paz. Quem ama a paz tem como objetivo consegui-la tanto mediante exemplo como esforço.
No texto do versículo 9 a 15 o profeta se inclui com seu povo, tanto ao reconhecer a transgressão como ao se sujeitar às consequências dos julgamentos de Deus sobre eles. Ele diz " Pelo que a justiça está longe de nós, e a retidão não nos alcança”. Deus não estava tratando dos inimigos de Israel no exercício do Seu justo juízo sobre o inimigo; portanto, seu povo ficou desprotegido, apesar da salvação de Deus estar “prestes a vir, e a Sua justiça a manifestar-se”. (Isaías 56:1).
Eles esperavam pela luz, mas só havia escuridão; pelo brilho, mas caminhavam apenas na espessa escuridão. As palavras são as mesmas como no capítulo 8:22 (um dos muitos testemunhos à unidade de Isaías). Os que estavam no exílio esperavam por livramento, mas as coisas pioravam para eles ao invés de melhorar. Como cegos, tateavam pela parede sem encontrar saída. Tropeçavam como se estivessem no escurecer, embora Deus lhes tivesse dado a luz do meio-dia.
Os que persistem no erro não encontram a ajuda da luz da verdade de Deus, embora esteja disponível para eles. O próprio Messias e as escrituras se tornaram em pedra de tropeço para os judeus. Assim também acontece no cristianismo: as escrituras são lidas mas não compreendidas por muitos. O poder ofuscante das tradições eclesiásticas obscurece a luz da palavra de Deus, e as pessoas que têm a Bíblia permanecem na escravidão religiosa, incapazes de apreciarem a verdade que iria libertá-los se escutassem fielmente a sua voz, em vez de aderir aos sistemas humanos.
A primeira parte do versículo 11 retrata duas condições: “bramar como ursos” sugere impaciência; “gemer como pombas” sugere desânimo; ambas são exatamente o oposto à paz da alma que surge da contrição do coração e submissão à vontade de Deus. Tudo isso caiu sobre eles porque suas transgressões se multiplicaram perante o Senhor e seus pecados testemunhavam contra eles. Além disso, não era como se eles tivessem pecado na ignorância. Eles sabiam o que estavam fazendo errado (versículo 12), que estavam negando o Senhor e deixando de seguir o seu Deus, e ao mesmo tempo "falando a opressão e a rebelião," ou melhor, “inverdade”, a mesma palavra que, em Deuteronômio 19:16, é traduzida como "transgressão", onde o mal a que se refere é o de “acusação falsa”.
No versículo 14 as declarações “o direito se tornou atrás, e a justiça se pôs longe” não tratam da retribuição de Deus, mas continuam a descrição do mau estado do povo. A verdade não se praticava mais. Onde a prática da justiça deveria estar em evidência, não só faltava a verdade, mas qualquer um que se afastasse do mal se submetia a ser vítima de pilhagem (versículo 15).
A última parte do versículo 15 continua no versículo 16, iniciando a terceira parte do capítulo que vai até o versículo 18. Aqui vemos a atitude do Senhor em vista desta situação do povo, em forma da Sua intervenção judicial: “o Senhor o viu, e desagradou-lhe o não haver justiça. E viu que ninguém havia...”, ou seja, não havia quem tivesse o caráter ou a capacidade de conter a onda de mal. O Senhor “...maravilhou-se de que não houvesse um intercessor”, ninguém do lado de Deus para agir em nome de Seu povo contra as suas abominações e as consequências inevitáveis.
Em consequência, Deus se prepara para intervir judicialmente. A descrição é vívida e impressionante. São utilizadas formas diferentes de expressão:
Depoimento: “pelo que o seu próprio braço lhe trouxe a salvação, e a sua própria justiça o susteve”: Na falta de ser encontrado alguém para cooperar com Ele na forma de salvação pela qual iria ser vindicada sua causa, o Senhor usou Seu próprio braço. Deus usa agentes humanos santificados para participar em Seu trabalho e cumprir Sua vontade em relação aos outros homens. Veja o testemunho dos profetas, "mensageiros da mensagem do Senhor" (Ageu 1:13), e o emprego por Jesus Cristo dos Seus discípulos. Paulo descreve aqueles que pregam o evangelho como "cooperadores de Deus" (2 Coríntios 6:1).
Analogias e metáforas: “vestiu-se de justiça, como de uma couraça, e pôs na cabeça o capacete da salvação; e por vestidura pôs sobre si vestes de vingança, e cobriu-se de zelo, como de um manto” (versículo 17). Não há realmente nada físico nisso. A armadura e a vestimenta retratam as várias manifestações de Seu caráter e poder, as atuações de Sua justiça e Sua misericórdia (como a armadura do crente em Efésios 6:17 descreve os poderes espirituais à nossa disposição para enfrentar o inimigo).
Para explicar, temos em seguida uma profecia que se desenrola na ordem dos grandes eventos do futuro em relação a Israel.
Em primeiro lugar, o Senhor vai lidar com os rebeldes em Israel, infligir punição sobre aqueles da nação que persistentemente se associam com o Anticristo. Estes são os adversários referidos na primeira parte do versículo 18. Isso parece claro no que precedeu neste capítulo, especialmente os versículos 14 e 15. É a esses apóstatas que a declaração se refere, "Conforme forem as obras deles, assim será a sua retribuição, furor aos seus adversários, e recompensa aos seus inimigos”.
Em segundo lugar, castigos devem cair sobre os inimigos de Deus no mundo dos gentios. Estes são indicados pela expressão "ilhas", ou litoral. Esta é uma palavra inclusiva, abraçando as mais longínquas nações dos gentios. Eles serão reunidos juntos no final dessa época, "contra o Senhor e contra Seu Cristo." Da mesma forma as ilhas e seus habitantes, no capítulo 42:10 e as ilhas de Quitim, em Jeremias 2:10, juntam-se com Quedar, para indicar todas as terras de oeste para leste. Esta rebelião contra o Senhor por parte das nações federadas é descrito no próximo versículo: “porque ele virá tal uma corrente impetuosa, que o assopro do Senhor impele” (versículo 19). Como o Senhor intervirá para derrubar seus inimigos, como "O espírito do senhor levantará um estandarte contra ele," é descrito mais detalhadeamente no capítulo 63:1 a 6.
Em terceiro lugar, após estes julgamentos, os que são deixados das Nações serão os que “temerão o nome do Senhor desde o poente, e a sua glória desde o nascente do sol” (versículo 19). Esta será a sujeição obrigatória e reconhecimento das reivindicações de Deus e de seu Filho.
Em quarto lugar, virá a libertação do povo de Deus terrestre, os remanescentes da nação, que (ao contrário dos seus companheiros ateus nacionais, que terão perecido com a besta e o falso profeta e seus associados) permanecerá fiel ao Senhor, multidões deles tendo sido convertidos ao Messias através do testemunho das testemunhas mencionadas no Apocalipse 11:3-12) - veja também Apocalipse 12:17). “E virá um Redentor a Sião e aos que em Jacó se desviarem da transgressão, diz o Senhor” (versículo 20).
Este capítulo fecha com a promessa da nova aliança. Ela é baseada nas palavras de Deus a Abraão em Gênesis 17:4. A mensagem "meu Espírito, que está sobre ti..." é endereçada à nação restaurada, que vai testemunhar para o Senhor continuamente. Eles nunca deixarão de declarar Sua palavra e testemunho para Ele. Os termos do pacto são dados totalmente em Jeremias 31:31-34, e Hebreus 8:10-22 e 10:16,17.
1 Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para que não possa ouvir;
2 mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados esconderam o seu rosto de vós, de modo que não vos ouça.
3 Porque as vossas mãos estão contaminadas de sangue, e os vossos dedos de iniqüidade; os vossos lábios falam a mentira, a vossa língua pronuncia perversidade.
4 Ninguém há que invoque a justiça com retidão, nem há quem pleiteie com verdade; confiam na vaidade, e falam mentiras; concebem o mal, e dão à luz a iniqüidade.
5 Chocam ovos de basiliscos, e tecem teias de aranha; o que comer dos ovos deles, morrerá; e do ovo que for pisado sairá uma víbora.
6 As suas teias não prestam para vestidos; nem se poderão cobrir com o que fazem; as suas obras são obras de iniqüidade, e atos de violência há nas suas mãos.
Isa 59:7 Os seus pés correm para o mal, e se apressam para derramarem o sangue inocente; os seus pensamentos são pensamentos de iniqüidade; a desolação e a destruiçao acham-se nas suas estradas.
8 O caminho da paz eles não o conhecem, nem há justiça nos seus passos; fizeram para si veredas tortas; todo aquele que anda por elas não tem conhecimento da paz.
9 Pelo que a justiça está longe de nós, e a retidão não nos alcança; esperamos pela luz, e eis que só há trevas; pelo resplendor, mas andamos em escuridão.
10 Apalpamos as paredes como cegos; sim, como os que não têm olhos andamos apalpando; tropeçamos ao meio-dia como no crepúsculo, e entre os vivos somos como mortos.
11 Todos nós bramamos como ursos, e andamos gemendo como pombas; esperamos a justiça, e ela não aparece; a salvação, e ela está longe de nós.
12 Porque as nossas transgressões se multiplicaram perante ti, e os nossos pecados testificam contra nós; pois as nossas transgressões estão conosco, e conhecemos as nossas iniqüidades.
13 transgredimos, e negamos o Senhor, e nos desviamos de seguir após o nosso Deus; falamos a opressão e a rebelião, concebemos e proferimos do coração palavras de falsidade.
14 Pelo que o direito se tornou atrás, e a justiça se pôs longe; porque a verdade anda tropeçando pelas ruas, e a eqüidade não pode entrar.
15 Sim, a verdade desfalece; e quem se desvia do mal arrisca-se a ser despojado; e o Senhor o viu, e desagradou-lhe o não haver justiça.
16 E viu que ninguém havia, e maravilhou-se de que não houvesse um intercessor; pelo que o seu próprio braço lhe trouxe a salvação, e a sua própria justiça o susteve;
Isa 59:17 vestiu-se de justiça, como de uma couraça, e pôs na cabeça o capacete da salvação; e por vestidura pôs sobre si vestes de vingança, e cobriu-se de zelo, como de um manto.
Isa 59:18 Conforme forem as obras deles, assim será a sua retribuição, furor aos seus adversários, e recompensa aos seus inimigos; às ilhas dará ele a sua recompensa.
19 Então temerão o nome do Senhor desde o poente, e a sua glória desde o nascente do sol; porque ele virá tal uma corrente impetuosa, que o assopro do Senhor impele.
20 E virá um Redentor a Sião e aos que em Jacó se desviarem da transgressão, diz o Senhor.
21 Quanto a mim, este é o meu pacto com eles, diz o Senhor: o meu Espírito, que está sobre ti, e as minhas palavras, que pus na tua boca, não se desviarão da tua boca, nem da boca dos teus filhos, nem da boca dos filhos dos teus filhos, diz o Senhor, desde agora e para todo o sempre.
Isaías capítulo 59