O julgamento sobre Judá e Jerusalém (3:1-26)
O julgamento deve começar na casa de Deus. Israel sofreria quase imediatamente às mãos dos caldeus, e o capítulo dá aviso disto. O povo tinha provocado o Senhor. A crueldade e a opressão eram praticadas por seus governantes (Isaías 3:14, 15) e a alegria e o luxo caracterizavam as "filhas de Sião" (Isaías 3:16-23). No futuro as nações não poderão ser abençoadas até a realização do juízo divino sobre o povo terreno de Deus, o "tempo de angústia para Jacó"; e sobre seus agressores entre os gentios. Os versículos iniciais dão um testemunho dos efeitos dos pecados nacionais.
Os títulos divinos "o Senhor” e “Deus dos exércitos" combinam a autoridade suprema e absoluta e o poder de Deus como governante e juiz. Naquele dia, do qual lemos em Isaías 2:20, o Senhor vai tirar a liderança responsável pelo povo, da qual as pessoas dependiam.
"O bordão" e "o cajado" são formas diferentes da mesma palavra hebraica e denotam todo tipo de apoio. Sua remoção deve produzir condições de fome, natural e espiritual, e também isso significará a remoção de todo o tipo de líder e executivo nacional, cada conselheiro e guia, bem como todo trabalhador hábil. Será um tempo de opressão, anarquia, insolência, desrespeito e insubordinação. Despojado de toda organização e poder, o governo estará nas mãos de meninos e crianças inexperientes (literalmente, coisas infantis ou pueris).
O resultado será uma confusão total. Os homens pedirão ajuda um ao outro, mas tudo será inútil, ninguém será capaz de fornecer remédios ou sustento, ou governar. Alguns homens fiéis que permanecerem vão reconhecer que toda essa situação é resultado da iniquidade e da provocação ao Senhor por Jerusalém e Judá.
Em Isaías 3:9 "o aspecto do semblante" significa sua audácia gritante (compare Oseias 5:5; 7:10). Sem terem vergonha, declaram abertamente o seu pecado, como fez o povo de Sodoma. Mas assim como eles, “Ai da sua alma! Porque eles fazem mal a si mesmos” (compare com Amós 5:10-20).
Aqui o profeta começou uma série de oito aflições, ou “ais”, duas neste capítulo e seis no capítulo 5. A segunda é “Ai do ímpio! Mal lhe irá; pois se lhe fará o que as suas mãos fizeram”. É uma repreensão pela sua maldade. Um resultado de seu pecado é que estão sendo conduzidos pelos inexperientes e imaturos (crianças), pelos fracos (mulheres) e por enganadores.
Em meio a isso tudo existe uma palavra para o temente a Deus, através de um paralelo contrastante: "dizei aos justos que bem lhes irá” [literalmente, "é bom," a mesma frase como em Gênesis 1:4, 10, 18, etc.] “porque comerão do fruto das suas obras." Conforme Gálatas 6:7, “tudo o que o homem semear, isso também ceifará”. O que parece tão terrível para o temente a Deus, no devido tempo será visto como conducente ao seu eterno bem. Por outro lado, a aparente prosperidade do ímpio o levará eventualmente para sua própria destruição: "pois se lhe fará o que as suas mãos fizeram. ”
Os versículos 12 a 16 continuam a descrever a condição degradada do povo. Meros jovens, com toda sua inexperiência, governando com opressão sobre ele, como Abião e sua mãe Maacá (1 Reis 15:3,13) e Atália (2 Reis 11:1,13). Esses líderes não fizeram nada além de induzir o povo ao erro; eles destruíram (literalmente "engoliram”) os caminhos designados para Israel, destruindo e os escondendo. Portanto, o Senhor vai se interpor para julgar os povos (a palavra é plural em Isaías 3:13), as nações em geral e especialmente os governantes da Sua própria nação, castigando-os por esmagarem seu povo e "moer o rosto" do pobre (uma metáfora vívida de fazer sofrer, não encontrada em outro lugar, retirada da ação da moenda e descrevendo uma severidade impiedosa).
Em seguida, vem uma denúncia contundente das mulheres de Judá por seu orgulho, seus maneirismos sugestivos, suas roupas caras e joias. O mundanismo em geral se expressa nas formas e trajes das mulheres, em seu luxuoso estilo de vestido e adorno, imitando os paramentos sacerdotais e em parte os dos cultos idólatras.
O castigo das mulheres será severo, conforme a descrição no versículo 24, os homens (civis) cairão pela espada e os homens poderosos (literalmente, "poder", ou seja, toda a força militar) perecerá na guerra.
As portas da cidade, lugares onde os adoradores se aglomeravam e realizavam os cultos, se tornarão em cenas de luto e a cidade será "desolada" e se sentará no pó do chão, uma figura de humilhação total, usada também em Isaías 47:1 e Jó 02:13.
Uma calamidade adicionada será a perda de seus homens... na guerra. A dizimação da população masculina levará sete mulheres a agressivamente propor casamento a um só homem, prometendo continuar a sustentar a si próprias, apenas para poder se apresentarem como casadas e não sofrer o opróbrio das solteironas (como não deixarem legítima descendência, etc.).
1 Porque eis que o Senhor Deus dos exércitos está tirando de Jerusalém e de Judá o bordão e o cajado, isto é, todo o recurso de pão, e todo o recurso de água;
2 o valente e o soldado, o juiz e o profeta, o adivinho e o ancião;
3 o capitão de cinqüenta e o respeitável, o conselheiro, o artífice hábil e o encantador perito;
4 e dar-lhes-ei meninos por príncipes, e crianças governarão sobre eles.
5 O povo será oprimido; um será contra o outro, e cada um contra o seu próximo; o menino se atreverá contra o ancião, e o vil contra o nobre.
6 Quando alguém pegar de seu irmão na casa de seu pai, dizendo: Tu tens roupa, tu serás o nosso príncipe, e tomarás sob a tua mão esta ruína.
7 Naquele dia levantará este a sua voz, dizendo: Não quero ser médico; pois em minha casa não há pão nem roupa; não me haveis de constituir governador sobre o povo.
8 Pois Jerusalém tropeçou, e Judá caiu; porque a sua língua e as suas obras são contra o Senhor, para afrontarem a sua gloriosa presença.
9 O aspecto do semblante dá testemunho contra eles; e, como Sodoma, publicam os seus pecados sem os disfarçar. Ai da sua alma! porque eles fazem mal a si mesmos.
10 Dizei aos justos que bem lhes irá; porque comerão do fruto das suas obras.
11 Ai do ímpio! mal lhe irá; pois se lhe fará o que as suas mãos fizeram.
12 Quanto ao meu povo, crianças são os seus opressores, e mulheres dominam sobre eles. Ah, povo meu! os que te guiam te enganam, e destroem o caminho das tuas veredas.
13 O Senhor levanta-se para pleitear, e põe-se de pé para julgar os povos.
14 O Senhor entra em juízo contra os anciãos do seu povo, e contra os seus príncipes; sois vós que consumistes a vinha; o espólio do pobre está em vossas casas.
15 Que quereis vós, que esmagais o meu povo e moeis o rosto do pobre? diz o Senhor Deus dos exércitos.
16 Diz ainda mais o Senhor: Porquanto as filhas de Sião são altivas, e andam de pescoço emproado, lançando olhares impudentes; e, ao andarem, vão de passos curtos, fazendo tinir os ornamentos dos seus pés;
17 o Senhor fará tinhosa a cabeça das filhas de Sião, e o Senhor porá a descoberto a sua nudez.
18 Naquele dia lhes trará o Senhor o ornamento dos pés, e as coifas, e as luetas;
19 os pendentes, e os braceletes, e os véus;
20 os diademas, as cadeias dos artelhos, os cintos, as caixinhas de perfumes e os amuletos;
21 os anéis, e as jóias pendentes do nariz;
22 os vestidos de festa, e os mantos, e os xales, e os bolsos;
23 os vestidos diáfanos, e as capinhas de linho, e os turbantes, e os véus.
24 E será que em lugar de perfume haverá mau cheiro, e por cinto, uma corda; em lugar de encrespadura de cabelos, calvície; e em lugar de veste luxuosa, cinto de cilício; e queimadura em lugar de formosura.
25 Teus varões cairão à espada, e teus valentes na guerra.
26 E as portas da cidade gemerão e se carpirão e, desolada, ela se sentará no pó.
Isa 4:1 Sete mulheres naquele dia lançarão mão dum só homem, dizendo: Nós comeremos do nosso pão, e nos vestiremos de nossos vestidos; tão somente queremos ser chamadas pelo teu nome; tira o nosso opróbrio.
Isaías capítulo 3 até 4:1