Esta é a primeira de uma série de nove profecias, terminando com o capítulo 57, envolvendo os sofrimentos do Servo do Senhor e a Sua glória futura.
Nesta profecia é apresentado o Servo do Senhor e é prevista a restauração de Israel.
O Servo do Senhor (versículos 49:1 a 7).
Aqui temos uma transição de Israel, para Cristo, como sendo o “servo do Senhor". Os primeiros três versículos parecem se referir a Israel, cujo nome é mencionado no versículo 3, mas só o Senhor Jesus responde plenamente às características do texto. Embora Israel (príncipe de Deus) seja o nome dado à nação, Cristo é o verdadeiro "Príncipe de Deus" e não a nação. Nos versículos 5 e 6, o Servo e Israel são claramente mencionados como entidades distintas. As restaurações de Israel se unificam, primeiro no retorno à sua terra sob Ciro no passado, depois na sua restauração futura, quando o Messias criar Seu reino.
Além disso, o versículo 6 é citado como referente a Cristo em Atos 13:47 em conexão com o Evangelho: neste versículo, Deus está falando com o Messias, ao dizer “te porei para luz das nações, para seres a minha salvação até a extremidade da terra." Mas o Espírito Santo permite que os servos do Messias apliquem estas palavras a si mesmos, uma vez que são seus instrumentos para trazer luz e salvação para as nações dos gentios.
Voltando ao primeiro versículo, no que diz respeito à evangelização, vemos claramente a sua extensão pelo mundo “Ouvi-me, ilhas, e escutai vós, povos de longe”, ou seja, as nações distantes, em ilhas ou continentes.
A informação “O Senhor chamou-me desde o ventre, desde as entranhas da minha mãe fez menção do Meu nome” aplica-se claramente a Jesus (Mateus 1:21). Em qualquer outro lugar onde a origem de Israel é descrita de maneira semelhante, a frase "desde o ventre" é usada, mas sem a adição da palavra "mãe”.
O relator, o Servo do Senhor Deus, agora usa um símile e uma metáfora para descrever-se nesta ação. O Senhor fez Sua boca "como espada aguda", e escondeu-O na sombra da Sua mão, e assim como uma espada é mantida na bainha, fez dele "uma flecha polida", mantendo-O encoberto em Sua aljava. Que se trata do próprio Messias e o tempo é ainda futuro está indicado em Isaías 11:4 e 30:30-33 (compare com Oseias 6:5 e Hebreus 4:12). O Messias se identifica com seu povo Israel no versículo 3, porque a nação restaurada se tornará Seu servo, e é em Israel que o Senhor ainda será glorificado na terra.
Neste relacionamento, e tendo em vista as experiências amargas que terão precedido aquele tempo de glória, vemos uma nota quase de desânimo no versículo 4, embora seja apenas momentânea, e de certa forma pode se referir a Cristo no momento do Seu sofrimento e rejeição por Israel. Mas esta não é uma expressão de incredulidade ou desespero, pois imediatamente o coração expressa a garantia da verdade, "todavia o meu direito está perante o Senhor, e o meu galardão perante o meu Deus."
O serviço que buscamos prestar muitas vezes parece produzir pouco ou nenhum resultado. Além disto, surgem circunstâncias de extrema dificuldade e julgamento, que tendem a nos desanimar. E se Satanás pudesse realizar seu propósito, ele usaria tudo isso para nos levar ao desespero e, se possível, cessar nosso trabalho e fazer-nos regredir através da perplexidade e angústia. Este é portanto um texto encorajador, destinado pelo Espírito Santo a nos induzir a considerar todas as circunstâncias do nosso trabalho à luz dos conselhos do Deus da sabedoria. No meio do conflito podemos ser incentivados a compartilhar a Sua visão e a perceber que o nosso julgamento será feito por Ele, e que a recompensa pelo nosso aparentemente infrutífero trabalho virá dEle.
A linguagem do versículo 5 e do que se segue é claramente a do Messias, que aqui declara o objetivo para o qual Ele se fez servo de Deus, ou seja, "para tornar a trazer-lhe Jacó, e para reunir Israel a Ele”. Cristo é quem vai fazer isso, e um propósito ainda maior é exposto no versículo 6.
Entre parênteses no versículo 5 vemos a aprovação do Senhor Deus: “aos olhos do Senhor sou glorificado, e o meu Deus se fez a minha força”. A Sua ressurreição também está em vista. Na escuridão do Calvário Ele disse "Deus me, Deus meu, porque me desamparaste?” Ele foi "crucificado em fraqueza." Agora Ele declara que seu Deus tornou-se sua força. Isto deve ser lido com o versículo 52:13, que prevê que o Servo do Senhor "será exaltado, e elevado, e mui sublime”.
O "Sim" no início do versículo 6 confirma o que foi dito e introduz uma extensão ao âmbito da obra de salvação de Cristo, além de Israel. Deus contempla a plenitude da bênção da salvação para o mundo inteiro: "Pouco é que sejas o meu servo, para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os preservados de Israel; também te porei para luz das nações, para seres a minha salvação até a extremidade da terra”.
Isto se aplica agora à obra do Evangelho em cumprimento do comando do próprio Senhor Jesus para ir por todo o mundo e pregar o Evangelho, e a ser Suas testemunhas "até a extremidade da terra." O cumprimento completo terá sido feito antes do milênio. Ambos são compreendidos em Romanos 11:12, onde a salvação atual é descrita como "a riqueza do mundo" e "a riqueza dos gentios", vindo em seguida a "plenitude de Israel”, ou a salvação do remanescente dos judeus depois do arrebatamento da igreja de Cristo.
No versículo 7, continuando o enunciado de Deus para seu Servo (por isso é Cristo ainda que está em vista), somos lembrados novamente do tempo da Sua humilhação. Isso foi uma base necessária para a execução da obra de graça salvadora. Ele é dito ser “desprezado dos homens” (ver Isaías 53:3, e compare com 50:6,7), “aborrecido das nações“, “servo dos tiranos”.
Isto informa claramente a maneira em que o Senhor Jesus se identificou com a nação de Israel. A nação tornou-se um servo dos governantes como resultado de sua partida de Deus. Ao mesmo tempo, havia homens como Daniel, Esdras e Neemias, que, enquanto sofriam com seu povo, serviram os governantes dos gentios no temor do Senhor. E Cristo, nos dias da Sua carne, foi sujeito aos próprios governantes romanos, entregando-se à sua vontade, embora pudesse realizar grandes feitos para os quais Ele tinha vindo. Incluídos também são feitos beneficentes de misericórdia, mesmo a um centurião romano. Sua própria humilhação é vista nestas formas diversas.
O resultado disso tudo será visto no próximo dia de glória, quando "Os reis o verão e se levantarão, como também os príncipes, e eles te adorarão, por amor do Senhor, que é fiel, e do Santo de Israel, que te escolheu" (comparar com o capítulo 52:15). Como é grande a mudança de atitude desta que prevalece agora! Como será surpreendente a revelação do Senhor da glória, a um mundo que permanece na escuridão, na superstição e na alienação de Deus!
1 Ouvi-me, ilhas, e escutai vós, povos de longe: O Senhor chamou-me desde o ventre, desde as entranhas de minha mãe fez menção do meu nome
2 e fez a minha boca qual espada aguda; na sombra da sua mão me escondeu; fez-me qual uma flecha polida, e me encobriu na sua aljava;
3 e me disse: Tu és meu servo; és Israel, por quem hei de ser glorificado.
4 Mas eu disse: Debalde tenho trabalhado, inútil e vãmente gastei as minhas forças; todavia o meu direito está perante o Senhor, e o meu galardão perante o meu Deus.
5 E agora diz o Senhor, que me formou desde o ventre para ser o seu servo, para tornar a trazer-lhe Jacó, e para reunir Israel a ele (pois aos olhos do Senhor sou glorificado, e o meu Deus se fez a minha força).
6 Sim, diz ele: Pouco é que sejas o meu servo, para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os preservados de Israel; também te porei para luz das nações, para seres a minha salvação até a extremidade da terra.
7 Assim diz o Senhor, o Redentor de Israel, e o seu Santo, ao que é desprezado dos homens, ao que é aborrecido das nações, ao servo dos tiranos: Os reis o verão e se levantarão, como também os príncipes, e eles te adorarão, por amor do Senhor, que é fiel, e do Santo de Israel, que te escolheu.
Isaías capítulo 49, versículos 1 a 7