Seria de esperar que o povo de Deus, Israel, tendo recebido a lei perfeita de Deus, gozando o privilégio de um sacerdócio aceitável em Sua presença, e grandes bênçãos materiais e espirituais e infalíveis promessas de bem aventurança, fosse exemplar em justiça, retidão e integridade. Deus queria que Israel demonstrasse aos povos a Sua glória e santidade, a fim de que seguissem o seu exemplo e também O adorassem.
Mas Israel repetidamente se envolveu com idolatria, e no tempo de Habacuque apenas duas tribos remanesciam com autonomia na terra prometida. Houve um reavivamento espiritual sob o rei Josias em 622/1 a.C., mas Habacuque viu que o seu estado moral e espiritual novamente havia decaído muito. O ímpio (o que não teme a Deus), prevalecia sobre o justo (o que teme e obedece a Deus). A justiça era pervertida, havia violência, contendas, litígios.
Habacuque disse a Deus que Ele estava se recusando a responder às suas orações, pois a seu ver, Deus nada dizia ou fazia para salvar a situação. Ele não se lamentava que essa fosse a situação dos gentios em volta, mas que o próprio povo de Deus se encontrasse assim, e ficou perplexo, decerto porque achava que o SENHOR deveria tomar novas providências para corrigir o povo, como tantas vezes fizera antes.
Como o povo de Israel, a igreja de Cristo, em sua longa história, também tem passado por longos e frequentes períodos de infidelidade, heresia, apostasia, divisões, tais como foi profetizado no livro do Apocalipse. A luz do testemunho cristão está ainda alcançando áreas mais remotas, mas está se desvanecendo nos países onde mais brilhava até pouco mais de um século atrás.
O mundo em que nos encontramos continua nas trevas, assim como os povos gentios que cercavam Israel. São as trevas da impiedade e da injustiça dos homens que rejeitam a Deus e suprimem a verdade pela injustiça pois "o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou, pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis; porque tendo conhecido a Deus, não O glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e o coração insensato deles obscureceu-se. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos..." (Romanos 1:19-22 NVI). Quando não fazem uso de imagens de madeira ou pedra, como na antiguidade, sua loucura os leva a acreditar no evolucionismo ateu, suprimindo o gênese bíblico e tornando em mentira toda a mensagem do Evangelho.
Assim como Habacuque, não vamos nos deter em considerações com o que vemos no mundo ateu que nos rodeia, mas simpatizamos com Habacuque quando "viu" a cena do povo de Deus do seu tempo, pois uma cena semelhante se apresenta diante de nós quando olhamos a igreja de Cristo hoje pelo mesmo prisma. Igrejas que se dizem cristãs evangélicas estão permeadas com as mesmas coisas que Israel do seu tempo: iniquidade, violência, contendas, litígios, ao que podemos acrescentar incredulidade, ganância, falsidades e outras coisas mais.
Sabemos que Cristo quer apresentar a igreja para si mesmo "gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e irrepreensível" purificada mediante a lavagem da água, pela palavra (Efésios 5:26,27). Desejamos ver santidade e pureza na vida dos que tomam para si o nome de "cristãos", e até mesmo se declaram ser proclamadores do Evangelho, mas ficamos perplexos com o que está acontecendo.
Devemos reconhecer que nós próprios ainda estamos longe de alcançar a santidade almejada pelo nosso Salvador. A nossa fé corre perigo de ser abalada. Não deixemos a nossa fé se esmorecer, mas, cônscios da nossa própria carência de santidade, façamos a nossa parte para nos lavar e purificar e prosseguir para o alvo com o poder do Espírito Santo em nós.
Habacuque agiu rogando a Deus que fizesse alguma coisa – Ele queria a intervenção de Deus para corrigir o Seu povo, como havia feito numerosas vezes antes. Ao começar o livro, ele reclama: "Até quando Senhor, clamarei eu, e tu não escutarás?" Não é uma acusação, mas o reforço de uma solicitação para a qual queria uma solução urgente. Ele queria alívio para a sua aflição. A situação para ele parecia ser desesperadora.
Temos nós também clamado a Deus vendo a situação lastimável em que se encontra o Seu povo, a igreja de Cristo, em nosso tempo? Sentimos que a força regenadora do Evangelho, nunca tão disponível como agora com a publicação das Escrituras Sagradas na grande maioria dos idiomas a preços acessíveis, e o esforço missionário que alcança as tribos mais isoladas, está tendo pouca manifestação entre o próprio povo de Deus. Durante as grandes perseguições do passado, essa regeneração brilhava, produzindo grandes mestres e evangelistas com vidas consagradas das quais ainda nos lembramos vários séculos depois.
Talvez, como Habacuque, pensamos que Deus não escuta o nosso clamor para revivificar e restaurar a Sua igreja em nossos tempos. Vejamos o que podemos aprender do exemplo da resposta que Habacuque recebeu de Deus.
2 Até quando Senhor, clamarei eu, e tu não escutarás? ou gritarei a ti: Violência! e não salvarás?
3 Por que razão me fazes ver a iniqüidade, e a opressão? Pois a destruição e a violência estão diante de mim; há também contendas, e o litígio é suscitado.
4 Por esta causa a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta; porque o ímpio cerca o justo, de sorte que a justiça é pervertida.
Habacuque, capítulo 1 ver. 2 a 4