Ao ver a nova decadência do estado moral e espiritual do povo de Israel que se seguiu ao reavivamento sob o rei Josias em 622/1 a.C., Habacuque pedia ao SENHOR que fizesse alguma coisa – Ele queria a Sua intervenção para corrigir o Seu povo, como havia feito numerosas vezes antes. Ao começar o livro, ele reclama: “Até quando Senhor, clamarei eu, e tu não escutarás?” Não é uma acusação, mas o reforço de uma solicitação para a qual queria uma solução urgente.
A resposta que recebeu de Deus foi assustadora: Deus não estava alheio à situação, mas estava realizando uma obra, visível entre “as nações” (os povos gentios) na qual podemos distinguir três fases:
Que Deus usasse gentios como instrumento de disciplina para o Seu povo não era novidade, pois foi um método que Ele usou desde os primórdios da existência da nação de Israel. Seguindo-se aos ataques e às invasões, havia a conscientização do povo do seu pecado seguida de arrependimento, e oportunamente Deus o livrava dos inimigos.
Depois que a nação se dividiu em dois reinos, o reino do norte, que continuou se chamando Israel, teve uma sucessão de reis ímpios e se envolveu tão tenazmente em idolatria que Deus permitiu que fosse derrotado e dominado pela Assíria, que levou o povo para o cativeiro em 722 a.C. (2 Reis 17:1-6,24, 18:7,9).
Agora, passado um século, Deus iria usar novamente uma nação gentia para dar cumprimento aos Seus propósitos: eram os caldeus, que haviam sobrepujado os assírios em 625 a.C. e estavam no processo de ampliar o seu império mediante conquista avassaladora sobre todas as nações adjacentes. O que estava acontecendo era bem visível. Na profecia do profeta Jeremias, escrita pouco depois desta de Habacuque, o SENHOR diz que Nabucodonozor, o temido rei dos caldeus, era seu servo, pois cumpriria o Seu plano. Nabucodonozor não sabia disto até que, depois de levar o povo de Judá para o cativeiro, passou por uma dura lição e acabou publicando por todo o seu império que “o Altíssimo... vive para sempre; porque o seu domínio é um domínio sempiterno, e o seu reino é de geração em geração... e segundo a sua vontade ele opera no exército do céu e entre os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” (Daniel 4:34,35).
Desta vez, o restante do povo de Israel não iria ser simplesmente castigado para logo depois, como das outras vezes, continuar a ser um povo autônomo em sua terra, mas a invasão dos caldeus iria dar cumprimento à antiga profecia de Moisés: “o Senhor vos espalhará entre todos os povos desde uma extremidade da terra até a outra... E nem ainda entre estas nações descansarás, nem a planta de teu pé terá repouso; mas o Senhor ali te dará coração tremente, e desfalecimento de olhos, e desmaio de alma... E a tua vida estará como em suspenso diante de ti; e estremecerás de noite e de dia, e não terás segurança da tua própria vida... Pela manhã dirás: Ah! quem me dera ver a tarde; E à tarde dirás: Ah! quem me dera ver a manhã! pelo pasmo que terás em teu coração, e pelo que verás com os teus olhos.” (Deuteronômio 28:64-67). Esta invasão daria início a uma fase na história do povo de Israel que duraria séculos. Em nossos dias, o estabelecimento de um novo país algumas décadas atrás com o nome de Israel, em uma parte do território prometido a Abraão, onde os judeus têm autonomia e para onde muitos voltaram e continuam a voltar, indica que esse perído está finalmente chegando ao fim.
Pregando o Evangelho aos judeus na dispersão, em Antioquia da Pisídia, Paulo cita esta passagem de Habacuque para alertar os judeus que o ouviam a não ser incrédulos com respeito ao cumprimento na pessoa de Jesus Cristo das promessas feitas sobre a vinda do Messias (Atos 13:41). Mas a profecia dada através de Habacuque se cumpriu, pois a nação de Israel não creu quando o Evangelho lhes foi contado.
Aprendemos pela Palavra de Deus, que o SENHOR tem o controle supremo sobre o rumo da história da humanidade. O povo de Israel é um exemplo disto. Tanto é assim que através dos seus profetas Ele delineia para nosso conhecimento algumas das coisas que acontecerão no futuro, pois Ele já sabe de tudo (Isaías 42:9, 45:7, Daniel 2:28,29, Atos 15:18, Romanos 8:29, 1 Pedro 1:2).
Estamos agora na situação privilegiada de poder ver o cumprimento com exatidão de tantas profecias, assim como esta.
Assim como o SENHOR usou gentios que sequer O conheciam para disciplinar e purificar o povo de Israel, podemos ver como, através do tempo, as igrejas de Deus através do mundo têm passado por grandes tribulações, consistindo de desprezo, escárnio, perseguição e martírio.
Paulo e Barnabé informaram as primeiras igrejas da Ásia que “por muitas tribulações nos é necessário entrar no reino de Deus” (Atos 14:22), e Paulo escreveu que “transbordo de gozo em todas as nossas tribulações” (2 Coríntios 7:4), e “nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a perseverança, e a perseverança a experiência, e a experiência a esperança; e a esperança não desaponta, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.”
Pedro viu como alguns dos santos estavam sofrendo pela sua fé, em seu tempo, e ensina: “exultais (na salvação), ainda que agora por um pouco de tempo, sendo necessário, estejais contristados por várias provações, para que a prova da vossa fé, mais preciosa do que o ouro que perece, embora provado pelo fogo, redunde para louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo” (1 Pedro 1:5-7).
A história nos conta que, a partir do seu início, as igrejas sofreram tribulações vindas dos incrédulos, a começar pelos próprios judeus, em seguida procedentes dos poderes políticos como os romanos, outros reinos e principados, que continuam até hoje através de vários países, também das religiões falsas e satânicas e, não menos contundentes e cruéis, das igrejas apóstatas, ricas e poderosas.
As sete igrejas do livro do Apocalipse são tipos de igrejas que encontramos também hoje, estando algumas em má situação interna por causa de aliança com o mundo, e outras devido a permissividade com relação a falsas doutrinas, pecado interno e domínio por pessoas ou classes. Também encontramos ali a disciplina que o Senhor usa para que sejam purificadas.
Sabemos que, um dia, o Senhor virá para buscar os que são realmente seus, e deixarão a terra assim como os judeus foram levados da sua terra. Os que ficarem nessas igrejas passarão pelo juizo da Tribulação, sete anos sob a ira de Deus que será desencadeada em seguida. O Evangelho continuará a ser pregado pelos judeus convertidos, e muitos ainda serão salvos no mundo inteiro.
5 Vede entre as nações, e olhai; maravilhai-vos e admirai-vos; porque realizo em vossos dias uma obra, que vós não acreditareis, quando vos for contada.
6 Pois eis que suscito os caldeus, essa nação feroz e impetuosa, que marcha sobre a largura da terra para se apoderar de moradas que não são suas.
7 Ela é terrível e espantosa; dela mesma sai o seu juízo e a sua dignidade.
8 Os seis cavalos são mais ligeiros do que os leopardos, se mais ferozes do que os lobos a tarde; os seus cavaleiros espalham-se por toda a parte; sim, os seus cavaleiros vêm de longe; voam como a águia que se apressa a devorar.
9 Eles todos vêm com violência; a sua vanguarda irrompe como o vento oriental; eles ajuntam cativos como areia.
10 Escarnecem dos reis, e dos príncipes fazem zombaria; eles se riem de todas as fortalezas; porque, amontoando terra, as tomam.
11 Então passam impetuosamente, como um vento, e seguem, mas eles são culpados, esses cujo proprio poder e o seu deus.
Habacuque, capítulo 1 vers. 5 a 11