A maldade de Judá (Isaías 1:2-20)
Todo o universo é aqui convocado para participar de um julgamento em que Deus é o juiz, e Judá e Jerusalém são os réus. Esta dupla é proeminente em todo o livro, e envolve uma referência constante ao longo do livro a toda a nação de Israel.
Deus declara que esse povo é composto de filhos que Ele criou e engrandeceu: o povo israelita procede de Isaque, filho milagroso de Abraão e Sara, pois ambos eram velhos e Sara era estéril. Sua descendência tornou-se num grande povo, chamado israelita, e foi escravizado durante quatro séculos pelo Egito. Usando Moisés, Deus libertou esse povo de maneira sobrenatural, e o engrandeceu na rica terra de Canaã. Mas os israelitas se rebelaram contra Deus, tornando-se piores do que os animais domésticos que sabem respeitar seus possuidores.
O que Deus fez por essa nação Ele também fez por nós, individualmente e espiritualmente. O registro da apostasia desse povo está escrito "como exemplo" (1 Coríntios 10:11). Como precisamos, portanto, tomar cuidado para não entristecê-lo também e sofrer perda eterna!
O povo era culpado de agravada iniquidade pois, deixando o Senhor, chamado aqui de Santo de Israel, voltou para trás. Cada descrição feita em seguida é dada em contraste com o que Deus havia determinado que fosse: É uma "nação pecadora" mas o Senhor tinha dito "vós sereis a mim... uma nação santa" (Êxodo 19:6); é "um povo carregado de iniquidade"; Deus o tinha escolhido para ser "o Seu próprio povo” (Deuteronômio 14:2); é "uma semente de perversos"; Deus o havia feito a "descendência de Abraão" (Isaías 41:8; de Isaac, Gênesis 21:12; de Jacó, Isaías 45:19); (d) "filhos que praticam a corrupção"; o Senhor lhes havia declarado "Filhos sois do Senhor vosso Deus" (Deuteronômio 14:1).
Tudo isto é novo aviso para nós “nestes últimos dias” (Hebreus 1:2). A descrição dada sobre nós em 1 Pedro 2:9 é semelhante àquele dado a Israel como povo de Deus a quem acabo de referir: "Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real (como em Êxodo 19:6), a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. Devemos, portanto, tomar cuidado para não cairmos como Israel, para não haver, em qualquer um de nós, "... um perverso coração de incredulidade, para se apartar do Deus vivo” (Hebreus 3:12)
A partir do versículo 7, o profeta descreve o futuro como se já tivesse acontecido: os inimigos invasores fizeram com que Judá ficasse desolada. Jerusalém, “a filha de Sião”, é como uma cabana provisória, deixada de pé no meio dos destroços. Mas pela graça de Deus alguns sobreviventes foram deixados, senão a destruição teria sido tão completa como foi a de Sodoma e Gomorra (seus vestígios ainda estão sendo procurados no fundo do Mar Morto).
Os governantes e o povo de Jerusalém (chamados aqui de Sodoma e Gomorra) deviam perceber que Deus despreza rituais sem realidade, sacrifícios sem obediência, ofertas vãs. Enquanto as pessoas estão vivendo em pecado, sua presença nos cultos do templo é um pisar insultuoso dos seus átrios. A mistura da iniquidade com o culto solene é odiosa. Deus não dá qualquer valor às suas mãos estendidas nem às suas muitas orações.
A mera religião externa é sempre uma manta para cobrir a iniquidade. O Senhor expôs tudo isso em suas fortes denúncias registradas no capítulo 23 de Mateus. Essa atitude pecaminosa no judaísmo também se desenvolveu dentro da cristandade. A consciência de um “fiel” pode se corromper ao ponto de uma pessoa praticar “religião” enquanto ainda vive em pecado.
Deus aqui os exorta a se lavarem e purificarem, tirar a maldade dos seus atos, deixar de fazer o mal e aprender a fazer o bem, buscar a justiça, acabar com a opressão e socorrer os aflitos. Agora o pecador deve lavar-se mediante o arrependimento e o abandono do mal, e em seguida aceitar o senhorio de Cristo e praticar a retidão e a justiça social.
Em ambos os casos – o judaísmo antigo e o novo testamento – a obediência a esta exortação do Senhor resultará no apagamento completo de todos os pecados, seja qual for a sua gravidade, e no desfruto das excelentes coisas providenciadas por Deus. É significativo que o primeiro capítulo deste profeta evangélico, cujo nome significa "a salvação de Jeová", tenha o convite acolhedor do Evangelho:
“Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados são como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que são vermelhos como o carmesim, tornar-se-ão como a lã. ”
O raciocínio divino, aceito pela fé, ensina que existe a purificação do pecado, que essa limpeza está totalmente além do mérito ou esforço humano, e que é só feita através da redenção que o Senhor Jesus realizou pelo derramamento do seu sangue na Cruz. Quem pode contar as multidões que responderam ao convite de Isaías 1:18? E ele ainda está sendo proclamado!
Mas se as pessoas recusam e são rebeldes, a guerra e a destruição os esperam.
A cidade infiel (Isaías 1:21-31)
Jerusalém deixou de ser justa e fiel e se prostituiu diante de Deus. Nela terminou a fidelidade, a justiça e a retidão e agora é uma cidade de assassinos. Suas melhores coisas foram corrompidas e seus príncipes são rebeldes, cúmplices de ladrões. O suborno e a injustiça estão por toda parte.
O Senhor Deus dos exércitos, o Poderoso de Israel (este último título é usado apenas aqui), portanto, vai vingar e livrar-se dos seus inimigos, eliminar toda impureza e restaurar Jerusalém à sua antiga glória. Sua justiça irá assegurar a libertação de todos aqueles que se arrependem.
Os transgressores e os pecadores serão destruídos. Os idólatras se envergonharão dos seus santuários de árvores e jardins. Eles próprios serão como um carvalho cujas folhas se desvanecem e um jardim seco por falta de água. Os chefes como estopa se incendiarão com suas próprias obras como faísca.
2 Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, ó terra, porque falou o Senhor: Criei filhos, e os engrandeci, mas eles se rebelaram contra mim.
3 O boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende.
4 Ah, nação pecadora, povo carregado de iniqüidade, descendência de malfeitores, filhos que praticam a corrupção! Deixaram o Senhor, desprezaram o Santo de Israel, voltaram para trás.
5 Por que seríeis ainda castigados, que persistis na rebeldia? Toda a cabeça está enferma e todo o coração fraco.
6 Desde a planta do pé até a cabeça não há nele coisa sã; há só feridas, contusões e chagas vivas; não foram espremidas, nem atadas, nem amolecidas com óleo.
7 O vosso país está assolado; as vossas cidades abrasadas pelo fogo; a vossa terra os estranhos a devoram em vossa presença, e está devastada, como por uma pilhagem de estrangeiros.
8 E a filha de Sião é deixada como a cabana na vinha, como a choupana no pepinal, como cidade sitiada.
9 Se o Senhor dos exércitos não nos deixara alguns sobreviventes, já como Sodoma seríamos, e semelhantes a Gomorra.
10 Ouvi a palavra do Senhor, governadores de Sodoma; dai ouvidos à lei do nosso Deus, ó povo de Gomorra.
11 De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? diz o Senhor. Estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes.
12 Quando vindes para comparecerdes perante mim, quem requereu de vós isto, que viésseis pisar os meus átrios?
13 Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação. As luas novas, os sábados, e a convocação de assembléias ... não posso suportar a iniqüidade e o ajuntamento solene!
:14 As vossas luas novas, e as vossas festas fixas, a minha alma as aborrece; já me são pesadas; estou cansado de as sofrer.
15 Quando estenderdes as vossas mãos, esconderei de vós os meus olhos; e ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei; porque as vossas mãos estão cheias de sangue.
16 Lavai-vos, purificai-vos; tirai de diante dos meus olhos a maldade dos vossos atos; cessai de fazer o mal;
17 aprendei a fazer o bem; buscai a justiça, acabai com a opressão, fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva.
18 Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados são como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que são vermelhos como o carmesim, tornar-se-ão como a lã.
19 Se quiserdes, e me ouvirdes, comereis o bem desta terra;
20 mas se recusardes, e fordes rebeldes, sereis devorados à espada; pois a boca do Senhor o disse.
21 Como se fez prostituta a cidade fiel! ela que estava cheia de retidão! A justiça habitava nela, mas agora homicidas.
22 A tua prata tornou-se em escória, o teu vinho se misturou com água.
23 Os teus príncipes são rebeldes, e companheiros de ladrões; cada um deles ama as peitas, e anda atrás de presentes; não fazem justiça ao órfão, e não chega perante eles a causa da viúva.
24 portanto diz o Senhor Deus dos exércitos, o Poderoso de Israel: Ah! livrar-me-ei dos meus adversários, e vingar-me-ei dos meus inimigos.
25 Voltarei contra ti a minha mão, e purificarei como com potassa a tua escória; e tirar-te-ei toda impureza;
26 e te restituirei os teus juízes, como eram dantes, e os teus conselheiros, como no princípio, então serás chamada cidade de justiça, cidade fiel.
27 Sião será resgatada pela justiça, e os seus convertidos, pela retidão.
28 Mas os transgressores e os pecadores serão juntamente destruídos; e os que deixarem o Senhor serão consumidos.
29 Porque vos envergonhareis por causa dos terebintos de que vos agradastes, e sereis confundidos por causa dos jardins que escolhestes.
30 Pois sereis como um carvalho cujas folhas são murchas, e como um jardim que não tem água.
31 E o forte se tornará em estopa, e a sua obra em faísca; e ambos arderão juntamente, e não haverá quem os apague.
Isaías capítulo 1, versículos 2 a 31