O livro de Hebreus começa com Deus, assim como o primeiro livro da Bíblia, Gênesis.
Tanto um como o outro sequer tentam dar provas do fato que Deus existe, mas partem desse pressuposto como sendo um fato inconteste, não dando atenção ao néscio (Salmo 15:1 e 53:1), pois “os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos” (Salmo 19:1). No primeiro versículo de Hebreus também se assume que Deus falou aos homens. Nada há de surpreendente nisso: sendo Deus um ser inteligente, e o homem também, é lógico que Deus pode revelar-se ao homem quando e como quiser, de maneira a ser compreendido.
De fato, Deus falou de maneira compreensível aos homens no passado, inclusive os impeliu a escrever a Sua mensagem à humanidade em geral e a preservou através dos séculos. Essa mensagem é a Bíblia, da qual o livro de Hebreus faz parte: quando Hebreus foi escrito já existia a primeira parte da mensagem, que conhecemos como Velho Testamento. A mensagem dos “últimos dias” são as boas notícias, ou Evangelho, que temos no Novo Testamento.
Deus falou com Abraão através de sonhos e do anjo do Senhor. Séculos mais tarde falou com Moisés, informando-o de muitas coisas que não dissera antes a Abraão, inclusive a Sua lei para o povo de Israel.
Através de Moisés Deus ordenou que Israel não tivesse um rei humano, porque o próprio Deus seria o seu rei. Não obstante, Israel eventualmente pediu para ter um homem como rei, a exemplo das nações circunvizinhas e Deus concedeu seu pedido, mas prevenindo que isso lhes traria más consequências.
Efetivamente, o quarto rei agiu tão mal logo ao tomar posse que provocou uma revolução e o reino foi dividido em dois. Deus não abandonou o povo, mas enviou-lhe profetas com quem se comunicava para ensinar, informar e admoestá-los, dando-lhes ciência sobre acontecimentos futuros que afetariam não só Israel mas também o resto da humanidade.
Assim Deus “antigamente falou muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas” (v.1), e “nestes últimos dias a nós nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por quem fez também o mundo” (v.2). Vemos aqui uma progressão na transmissão da comunicação da mensagem divina para a humanidade. Deus começou por escolher um homem, habitante em Ur dos caldeus, descendente de Eber (origem de Hebreus), e este de Sem (origem de Semitas), filho de Noé, sobrevivente do dilúvio que destruiu o resto da humanidade mais de dois milênios antes de Cristo.
O Filho foi o último mensageiro a ser enviado: o maior, superior a todos os outros, “aquele por quem fez o mundo” em que vivemos, e constituído “herdeiro de todas as coisas” por Deus. Nasceu de uma virgem chamada Maria, por obra do Espírito Santo, e lhe foi dado o nome de Jesus, significando “Deus Salvador”. Sua vinda já havia sido prevista várias vezes no Velho Testamento, inclusive no livro de Daniel (9:25,26) onde é chamado “Messias” (Ungido), cujo equivalente traduzido para o português é Cristo.
Todas as perfeições que se encontram em Deus o Pai encontram-se também no Filho. O Senhor Jesus é “O resplendor da Sua glória e a expressa imagem do Seu Ser”: em sua Pessoa são vistas todas as glórias morais e espirituais de Deus. Sendo a exata imagem de Deus (com excessão do Seu corpo humano físico), revela ao homem mediante as Suas palavras e maneiras exatamente como Deus é. Jesus Cristo é o Senhor do universo, “sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder”.
Foi pela Sua palavra que “os mundos foram criados de modo que o visível não foi feito daquilo que se vê” (capitulo 11:3). Ainda o Senhor Jesus fala e a Sua poderosa palavra sustenta a vida, une a matéria e mantém o universo em ordem. “Nele subsistem todas as coisas” (Colossenses 1:17). Os cientistas ateus não sabem explicar o que une as moléculas. Aqui está a resposta correta: Jesus Cristo é o grande sustentador, e isso mediante a Sua poderosa palavra.
Seu poder é tão vasto, que com perfeita justiça consegue apagar os pecados de todo mundo: tomou a forma humana, e entregou seu corpo físico à morte em expiação pelos pecados de todo aquele que nEle crê para sua salvação. É espantoso que, para criar e manter o universo, basta a Sua palavra, mas para perdoar o pecador foi necessário que tomasse forma humana para morrer crucificado, uma das mais cruéis penalidades inventadas pelo homem.
Agora está assentado “à direita da Majestade nas Alturas”, uma figura da suprema autoridade que tem sobre tudo, e da postura de quem, completado o seu trabalho de resgate, observa com satisfação o resultado. A mão direita da Majestade nas alturas é uma posição de honra e privilégio (versículo 13). Por causa do Seu triunfo glorioso, Deus O exaltou à maior altura. A mão direita é também a posição de poder (Mateus 26:64) e de prazer (Salmo 16:11). A mão do Salvador marcada pelo cravo, segura o cetro de domínio universal (1 Pedro 3:22).
Seguindo o caminho de nosso Senhor da criação até o Calvário e a Sua elevação à glória, deixamos os profetas para trás. Estes testemunharam sobre a vinda do Messias (Atos 10:43) mas agora que chegou, eles se afastam da cena neste livro. Embora ilustres, estes mensageiros como que voltam para as sombras.
1 Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas,
2 nestes últimos dias a nós nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por quem fez também o mundo;
3 sendo ele o resplendor da sua glória e a expressa imagem do seu Ser, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo ele mesmo feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade nas alturas.
Hebreus, capítulo 1, versículo 1 a 3